MDC 001 – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //puntoni.28ers.com Sat, 07 May 2011 01:52:28 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/puntoni.28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 MDC 001 – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //puntoni.28ers.com 32 32 5128755 MDC 001 – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //puntoni.28ers.com/2006/01/31/mdc-1-editorial/ //puntoni.28ers.com/2006/01/31/mdc-1-editorial/#respond Tue, 31 Jan 2006 07:05:28 +0000 //puntoni.28ers.com/?p=45 Continue lendo ]]> mdc 01

A PERTINÊNCIA DA FORMA
E A POÉTICA DA CONSTRUÇÃO


Ano I . N.1 . jan.2006 . ISSN – 1809-4643

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Editorial

Mdc tem por objetivo refletir sobre a produção contemporânea brasileira de arquitetura, buscando identificar tanto traços comuns e pontos de contato, diferenças e contradições. É através do mapeamento de convergências e divergências que se discute o que poderiam ser chamados “denominadores comuns” nessas arquiteturas. A partir da generosa contribuição do arquiteto Álvaro Puntoni, chegamos ao depoimento de Affonso Eduardo Reidy dado a Alfredo Brito e Ferreira Gullar para o Inquérito Nacional de Arquitetura, no qual sugeria a existência de um denominador comum à produção arquitetônica moderna brasileira. Em sua argumentação, Reidy foi capaz de enumerar com precisão um conjunto de fatores que constituiriam esse denominador.

A busca por pontos em comum em obras e projetos da produção brasileira recente não tem por objetivo a eleição de modelos a serem seguidos, mas estabelecer uma discussão a partir de alguns exemplos que conseguem furar o cerco da massificação cultural e das imposições mercadológicas e econômicas, operando no sentido de estabelecer ideais e objetivos compartilhados.

Uma das características que fundam a arquitetura moderna é a intrínseca relação entre a forma final do edifício e as suas determinações construtivas, regidas por um princípio de economia que remete ao conceito vitruviano do decoro. A busca de uma pertinência da forma, como argumenta Edson Mahfuz, é um fundamento que pode orientar a produção arquitetônica para respostas mais efetivas aos problemas contemporâneos, evitando a frivolidade, a superficialidade e o supérfluo, tão presentes nas produções recentes, em especial naquelas regidas pelas demandas consumistas do mercado. Para além da excessiva subjetividade que tem caracterizado os aportes teóricos recentes, raramente voltados para as questões da construção, procura-se aqui restituir ao conhecimento da técnica sua importância como premissa e fundamento da ação do arquiteto. Interessa-nos, aqui, não a criação formal gratuita baseada na subjetividade do arquiteto criador, mas a busca por padrões construídos que ampliem a qualidade dos espaços edificados para a vida cotidiana, elaboradas criticamente pelo arquiteto-construtor.

André Luiz Prado de Oliveira
Bruno Luiz Coutinho Santa Cecília
Carlos Alberto Maciel

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Casa do Baile . Belo Horizonte
11 de março de 2006 . 16h



Abertura: Carlos Alberto Maciel
Palestra: José Eduardo Ferolla
11 de março de 2006 . 16h



Palestra: Ascanio Merrighi
11 de março de 2006 . 16h30



Palestra: Edson Mahfuz
11 de março de 2006 . 17h



Palestra: Angelo Bucci
11 de março de 2006 . 17h40



Debate
11 de março de 2006 . 18h30


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Carlos Alberto Maciel

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[1]

A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em conseqüências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas idéias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.

Sérgio Buarque de Holanda [2]

A quantas anda a produção arquitetônica brasileira contemporânea?

Uma apreciação breve da paisagem edificada das nossas cidades indica que há muito arquiteto e pouquíssima produção relevante. Dados sobre a profissão no mundo [3]  sugerem que estamos diante de um problema estrutural, consolidado e praticamente irreversível: o Brasil é um dos países com maior número de arquitetos registrados (80.000, superados apenas por economias dominantes como Japão – 290.000, Estados Unidos – 110.000, Alemanha – 109.461 e Itália – 99.344). Além disso, apresenta o maior número de escolas de arquitetura do mundo (135, contra Estados Unidos – 116, Índia – 106, Alemanha – 72 e Reino Unido – 43), o que significa que a quantidade de arquitetos tende a crescer ain-da mais rapidamente.  Soma-se a isso o fato de que a nossa economia não favorece o investimento na construção, o que fica explícito ao se considerar que o PIB per capita brasileiro (US$7.600) nos coloca no modesto 48º lugar em comparação aos demais países, imediatamente abaixo da Costa Rica, Lithuania, Botswana, Rússia, Malásia e México.

Logo, a associação explosiva entre grande número de profissionais, crescimento progressivo de graduandos, pouco dinheiro investido na construção, massificação do ensino e banalização de determinados setores da profissão, facilmente substituídos pelo trabalho de engenheiros e decoradores, vem confirmar a progressiva perda de valor do profissional arquiteto e urbanista na sociedade brasileira contemporânea. Podemos trabalhar para reverter essa morte anunciada da profissão? Será possível recuperar o respeito e a credibilidade diante da sociedade de que gozavam os arquitetos brasileiros na metade do século XX?

Por um lado, da regulação da prática profissional, parece inócuo, ainda que necessário, o estabelecimento de procedimentos protecionistas ou filtros de acesso ao mercado, como o discutido exame de ordem. Por outro lado, do ensino e da qualificação do profissional, o forte estímulo das instâncias públicas em privatizar e massificar o ensino superior, tanto pela autorização de funcionamento de numerosos cursos particulares, quanto pelo corte de investimentos nas universidades públicas, e ainda pela redução das cargas horárias mínimas para a graduação, vem ampliar a defasagem da formação nos novos arquitetos, se comparada àquela dos precursores modernos, em que o conhecimento da cons-trução era amplamente dominado.

Para além de vaidosa erudição ou revivalismo ingênuo, buscar compreender os conceitos fundadores da prática arquitetônica nos seus momentos virtuosos pode se configurar como um ato de sobrevivência. Uma vez superada a situação de risco, essa busca pode constituir uma base mais consistente para a construção de um projeto coletivo que amplie a relevância das respostas que os arquitetos têm dado à sociedade. Passada a euforia da pós-modernidade na arquitetura, que contribuiu para agregar complexidade à abordagem do projeto, em especial na consideração das especificidades do lugar e das culturas locais, verifica-se a retomada de um caminho silencioso de estudo de nossas tradições construtivas especialmente vinculadas à produção moderna, de modo a fundamentar a ação dos arquitetos em um conhecimento da construção verdadeiramente pertinente e adequado ao nosso clima, ao nosso modo de vida, à nossa economia e às possibilidades técnicas e materiais, tão variados ao longo de extenso território [4].

Nesse sentido, vale reconhecer as características e estratégias exemplares que os momentos notáveis da arquitetura brasileira apresentaram. Em pelo menos dois momentos, na arquitetura colonial e na arquitetura moderna, verifica-se um grande desenvolvimento das soluções a partir da compreensão e interpretação das limitações e possibilidades da técnica, dos materiais, dos modos de vida e das especificidades do lugar e do tempo, apresentando uma espécie de acomodação bem sucedida do transplante cultural de que somos resultado. Comprova esta assertiva o fato de que foram esses períodos os responsáveis por todos os conjuntos urbanos e edifícios brasileiros eleitos como Monumentos da Humanidade: do Barroco, Ouro Preto e Diamantina são os mais relevantes; do Modernismo, Brasília [5].

Em tempos distintos, mas operando sobre princípios semelhantes, a arquitetura colonial e a arquitetura moderna brasileiras apresentaram pelo menos três fundamentos comuns:

1. O conhecimento da construção como fato gerador da obra, ou o domínio de procedimentos construtivos pertinentes ao lugar e ao tempo, aplicados não como discurso técnico ou formal, mas como resposta a problemas do cotidiano;
2.    O decoro, ou a ausência de ornamentos e a expressão da arquitetura através da exploração plástica do mínimo de meios materiais imprescindível para a integridade física da construção, assegurando aos edifícios, como disse Lucio Costa, uma “saúde plástica perfeita” [6] ;
 3.    A prevalência do público, ou a valorização do lugar e do edifício público, como res publica, hierarquicamente mais importante e mais relevante do que os edifícios privados.

Os três aspectos pressupõem, em conjunto, um modo de fazer ideologicamente comprometido com a construção de suportes para a vida cotidiana, de adaptação crítica dos padrões transplantados dos modelos europeus, de superação das limitações locais e estabelecimento de um estágio civilizatório diferenciado em relação ao anterior à ação de construção. Isso pode ser identificado no Barroco através da superação da natureza selvagem e a conformação de um espaço urbano em que o lugar público e o edifício público são hierarquicamente mais importantes e por isso material e construtivamente diferenciados e, na modernidade, no esforço de transformação de um país rural e de economia agrária em um país urbano e industrializado, em que a arquitetura apresentou um papel antecipador de impulsionar a indústria para o desenvolvimento de novas técnicas e materiais que viabilizassem as soluções propostas.

Entretanto, se considerarmos que a grande virtude da Modernidade foi o amplo estabelecimento de um novo patamar civilizatório nas sociedades em que as transformações foram abrangentes, tanto em decorrência dos processos de industrialização como de uma mudança significativa na consciência crítica das relações de produção dela decorrentes, pode-se dizer, sem reduzir sua inquestionável importância, que o Movimento Moderno no Brasil teve abrangência restrita. Sua presença foi concentrada nos grandes centros urbanos e só atingiu o interior quando ali se encontrava alguma intelectualidade ligada ao pensamento modernista, como em Cataguases, ou quando induzido pela ação política, como em Diamantina. Como conceito, a Modernidade não chegou às massas; como forma, atingiu os mais distantes rincões do país, construindo casas com disposição espacial e técnica construtiva vernacular e a feição modernista do te­lhado borboleta, das lajes sobre colunas tubulares metálicas, das janelas em fita. Modernismo não é modernidade, Lucio Costa já nos alertou [7].

Assim, o argumento de Jürgen Habermas [8]  de que a Modernidade é um projeto inacabado parece fazer mais sentido no contexto brasileiro do que naquele em que foi gestado. Fazê-la chegar às massas continua sendo uma possibilidade fértil que exigirá dos arquitetos um profundo conhecimento da construção, fundado no decoro e no compromisso com o público e o coletivo, e constituído a partir do estudo aprofundado das estratégias e dos conceitos que fundaram a arquitetura moderna brasileira. Esse talvez seja um caminho para contribuirmos, ainda que singelamente, para a construção de um projeto de país que, não obstante todas as suas contradições, possa ampliar a abrangência das virtudes deste bem sucedido transplante cultural que a modernidade na arquitetura brasileira construiu em obras exemplares, ainda que de exceção e que vem sendo retransplantada e readaptada em sentido inverso para alimentar as recentes vanguardas européias.

Transformar a exceção em regra: eis a impossível tarefa para as próximas gerações de arquitetos brasileiros. Modernidade quae sera tamen.

notas

1.   Uma importante abordagem sobre as virtudes do  caráter tardio da modernidade brasileira é apresentada em BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. “Modernidade quae sera tamen”. Textos da Disciplina História da Arquitetura do Curso de Mestrado. Belo Horizonte: NPGAU-EAUFMG, 2002. (mimeo). Dele emprestamos o feliz argumento que dá o título a este artigo.
2.    HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil . [coleção Intérpretes do Brasil]. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2002, p.945. [1a edição:1937].
3.  Dados extraídos de The Phaidon Atlas of Contemporary World Architecture, Londres: Phaidon, 2004, p.12-15.
4.  Maria Alice Junqueira Bastos enumerou características da produção arquitetônica recente que conformam um “pensamento crítico-teórico nacional” fundado na continuidade com a arquitetura moderna, “valorizando coerência construtiva, adequação climática, adequada relação custo e benefício.” BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: Rumos da Arquitetura Brasileira. São Paulo: Perspectiva/Fapesp, 2003, p.255-264.
5.  Sobre os conjuntos urbanos tombados como Patrimônios da Humanidade, ver: //www.unesco.org.br/areas/cultura/patmundial/pmbrasil/mostra_documento. Acesso em 11/02/05.
6.  COSTA, Lucio. Lucio Costa: Registro de uma Vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995, p.457.
7.  Idem, Ibidem, p.157.
8.  CF. HABERMAS, Jürgen .”Arquitetura Moderna e Pós-moderna” e também “Modernidade – Um Projeto Inacabado”. In. ARANTES, Otilia Beatriz Fiori. ARANTES, Paulo Eduardo. Um ponto cego no projeto moderno de Jürgen Habermas: arquitetura e dimensão estética depois das vanguardas. São Paulo: Brasiliense, 1992, p.100-149.

carlos alberto maciel (1974)
Arquiteto e Urbanista (EA-UFMG – 1997) e Mestre em Teoria e Prática de Projeto ( EA-UFMG – 2000),  autor de diversos projetos destacados em premiações como o 3º, 4o , 6º e 7º Prêmios Jovens Arquitetos (1997-1999-2004-2005), a 4a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (1999), o 4o Prêmio Usiminas Arquitetura em Aço – Centro de Arte Corpo (2001) e a Premiação do Instituto de Arquitetos do Brasil – SP (2004). Possui escritório próprio desde 1996.
contato: carlosalberto@arquitetosassociados.arq.br | www.arquitetosassociados.arq.br

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MDC 001 – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //puntoni.28ers.com/2006/01/31/tectonica-moderna-e-construcao-nacional/ //puntoni.28ers.com/2006/01/31/tectonica-moderna-e-construcao-nacional/#comments Tue, 31 Jan 2006 06:00:22 +0000 //puntoni.28ers.com/?p=82 Continue lendo ]]> mdc 01Bruno Santa Cecília

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O  reconhecimento internacional e o caráter original da arquitetura moderna brasileira deveram-se, em grande parte, à capacidade dos seus arquitetos de adaptarem os ideais formulados na Europa e Estados Unidos à realidade do país. Essa adaptação foi, sem dúvida, algo fundamental e necessário dado o descompasso entre os princípios defendidos pelas vanguardas modernas e as condições efetivas de produção dessas arquiteturas no Brasil.

De fato, o país atravessou seu processo de industrialização tardiamente, iniciado em meados da década de trinta e consolidado apenas após a Segunda Guerra Mundial [1]. Apesar disso, já nos anos vinte os primeiros arquitetos modernos buscavam expressar plasticamente em suas o­bras o paradigma universal da produção industrializada. Tinha-se, portanto, uma contradição evidente: edifícios construídos precariamente e de maneira quase artesanal, mas com feições puristas, simulando uma tecnologia que ainda não estava disponível. Este descompasso entre um ideal de construção e as condições efetivas de sua realização no Brasil não era apenas uma situação inevitável, mas um dado cultural permanente e que viria a caracterizar a própria expressão arquitetônica nacional [2].

No enfrentamento dessa conjuntura, alguns arquitetos modernos caminharam em direção a um denominador comum, fundado na relação entre construção e expressão plástica dos edifícios. É possível identificar nas obras desses arquitetos alguns procedimentos operativos recorrentes e potencialmente ricos em significado, a saber: a ênfase na expressão tectônica; a utilização da estrutura como elemento gerador do espaço arquitetônico e definidor da expressão plástica; e, por fim, a simplificação intencional dos procedimentos e detalhes construtivos. A obra de Oscar Niemeyer após a revisão autocrítica de 58 [3] constitui, ao nosso ver, uma outra vertente que prima pela construção do espaço arquitetural através da exploração de composições essencialmente atectônicas.

Primeiramente, cabe aqui recuperar o significado do termo tectônico, desfazendo o entendimento equivocado de tratar-se de um sinônimo ou de um equivalente para a palavra construção. Etimologicamente, o termo deriva do grego tekton, que significa carpinteiro ou construtor [4]. Historicamente, o significado do termo evoluiu para uma noção mais geral de construção passando a incorporar seu potencial poético [5]. Em arquitetura, passou a designar não apenas a manifestação física do componente estrutural, mas a amplificação formal de sua presença em relação ao conjunto das demais partes. Portanto, o caráter tectônico de um edifício seria expresso pela relação de interdependência mútua entre estrutura e construção, a condicionar sua manifestação visível, ou seja, sua aparência. Em contraposição, o termo atectônico passou a designar a operação pela qual a interação expressiva entre carga e suporte é negligenciada ou obscurecida visualmente.

Como estratégia de composição arquitetural, o potencial tectônico de um edifício pode ser plenamente atingido através da interdependência mútua e harmônica entre estrutura, forma e construção [6]. A liberação plena desse potencial adviria, portanto, do deslocamento da força expressiva de todo o edifício para seu conteúdo construtivo, buscando a amplificação de sua presença em relação às demais partes e articulando os aspectos poéticos e cognitivos de sua substância. Valendo-se deste procedimento, alguns arquitetos brasileiros produziram obras de grande expressão tectônica, perseguida através da proeminência e do trabalho plástico intencional sobre os elementos portantes ou de ordem técnica.

No Brasil, esse modo de atuação foi grandemente favorecido pelo desenvolvimento e disseminação da tecnologia do concreto armado. De fato, no início do século passado o concreto armado apresentava-se como a tecnologia cons-trutiva mais conveniente para um país que não dispunha de uma industria tecnologicamente desenvolvida nem de mão de obra qualificada [7].

A grande oferta e o custo competitivo permitiram aos arquitetos utilizar o concreto armado como material plasticamente expressivo por excelência. Essa preferência pode ser observada tanto no agigantamento proposital dos elementos portantes, como na utilização extensiva do concreto, inclusive como material de vedação e acabamento [8]. A exemplificar esses modos de atuação, destacam-se a repetição e a proeminência da estrutura portante que rege a composição externa do MAM do Rio de Janeiro (1953), projetado por Afonso Eduardo Reidy e a indistinção feita entre estrutura e vedação na Residência do arquiteto Paulo Mendes da Rocha em São Paulo (1964-66).

Outra característica do concreto armado que os arquitetos brasileiros souberam explorar com excelência foi sua plasticidade. Sendo moldado diretamente no canteiro de obras, o concreto armado permite a construção de qualquer forma em potencial. Essa propriedade favoreceu o trabalho plástico livre sobre os elementos estruturais que está presente tanto nos pilares em “V?do Conjunto JK (1953) em Belo Horizonte, de Oscar Niemeyer, quanto no belo desenho dos suportes da cobertura da Rodoviária de Jaú (1973), de Vilanova Artigas.

Soma-se a esses aspectos o caráter monolítico do concreto armado que, ao fundir os elementos comumente identificados como pilar-viga-laje-vedação, abriu uma profícua e inesgotável fonte de pesquisas plásticas e espaciais. Oscar Niemeyer soube explorar intencionalmente essa propriedade do material em composições predominantemente atectônicas, nas quais a expressão formal do edifício se sobrepõe à manifestação plena de sua lógica estrutural e construtiva que, como nos projetos da Oca no Parque Ibirapuera em São Paulo (1954) e na Igreja São Francisco de Assis (1942) [9], fica oculta no volume construído.

No entanto, como já dissemos, a máxima expressão do caráter tectônico de um edifício decorre da utilização da própria estrutura como geradora do espaço arquitetônico e definidora de sua aparência. Assim procedeu Niemeyer no projeto para a Catedral de Brasília (1958), cuja forma decorre do simples gesto da repetição radial de dezesseis pilares de concreto unidos por um anel do mesmo material. Nesse projeto, a interdependência mutua e harmônica entre forma, construção e estrutura concorre para a ativação do pleno potencial tectônico do edifício.

Ainda que se manifeste em formas distintas, o trabalho desses arquitetos compartilha a busca pela simplificação das soluções técnicas e dos detalhes construtivos. Ao nosso entender, esse procedimento surge como uma adaptação necessária às condições econômicas e produtivas do Brasil.

A busca por essa simplificação adquire contornos diversos a partir das contribuições individuais feitas por cada arquiteto. Na obra tardia de Oscar Niemeyer, essa preocupação surge como uma estratégia para melhor incorporar na aparência final do edifício as falhas e imprecisões inevitáveis a um processo construtivo predominantemente artesanal. Nos projetos de Paulo Mendes da Rocha, ela se manifesta através do trabalho racional e rigoroso de seleção do menor desenho que soluciona um determinado problema arquitetônico. Nas obras de Lina Bo Bardi, na busca pela dignidade máxima através dos meios materiais mais singelos. Nos projetos mais recentes de Ângelo Bucci, representante uma nova geração de arquitetos que pretende a continuidade e o aperfeiçoamento dos ideais arquitetônicos modernos, essa preocupação está presente na simplificação intencional das operações no canteiro de obras. Já na Residência Ville de Montagne (2003), de Alexandre Brasil e Carlos Alberto Maciel, é a própria a limitação dos recursos financeiros que impõe aos arquitetos a busca de soluções construtivas inventivas, como aquela encontrada para a ventilação do espaço interno, tornada independente das aberturas para iluminação.

Mais do que a mera expressão plástica e artística, a tectônica moderna brasileira demonstra que a liberdade formal que caracteriza nossa arquitetura é indissociável dos conhecimentos que envolvem a construção. Ao observamos a recorrência dessa matriz construtiva na obra de alguns dos melhores arquitetos brasileiros, concluímos que sua filiação a esse ideário é mais que circunstancial. Atuando como denominador comum a todas essas arquiteturas, subentende-se um projeto de país que não se pretende imediatista e que se constrói continuamente, não em grandes gestos, mas através de uma prática cotidiana alicerçada no rigor técnico e no conhecimento pleno dos processos construtivos, tornando ine-quívoco que a invenção da forma arquitetônica é, na verdade, a invenção de sua construção.

notas

1.  Cf. FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2003.
2.  Essa tese é defendida por Roberto Conduru no texto Tectônica Tropical.  Cf. ELISABETTA; FORTY, Adrian. Arquitetura moderna brasileira. Londres: Phaidon, 2004.
3.  Nesse texto Niemeyer reconhece os desacertos de seus projetos anteriores e antecipa os rumos pretendidos para sua arquitetura a partir de então. Cf. NIEMEYER, Oscar. Depoimento. 1958. In XAVIER, Alberto. Depoimento de uma geração ?arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
4.  De maneira mais específica, o termo tectônico designa os procedimentos construtivos realizados pela reunião e encaixe entre partes e objetos. Esta operação opõe-se à outra lógica construtiva distinta, denominada atectônica ou estereotômica. O termo grego estereotomia pode ser definido como a arte de dividir e cortar com rigor os materiais de construção. Cf. FRAMPTON, Keneth. Studies in tectonic culture. Massachussets: MIT Press, 2001.
5.  A primeira conotação poética do termo tectônico aparece na obra de Sappho, onde o carpinteiro assume o papel de poeta. Nesse sentido, é revelador o significado do termo poesis, que conota uma ação reveladora em contraposição à práxis (teoria). Cf. Op. cit.
6.  Cf. FRAMPTON, Keneth. Rappel à l’ordre, the case fot the tectonic. In NESBIT, Kate. Theorizing a new agenda for architecture.  Nova Iorque: Princeton Architectural Press, 1999.
7.  De fato, para a produção dos vergalhões de aço e do cimento Portland, matérias primas indispensáveis ao concreto armado, bastava o estabelecimento de industrias de base. Cf. MACEDO, Danilo Matoso. A matéria da invenção: criação e construção das obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais ?1938-1954. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais ?Escola de Arquitetura, 2004.
8.  A exploração do potencial plástico dos materiais construtivos, em especial do concreto, foi preconizada por Le Corbusier e deu origem ao termo brutalismo arquitetônico, caracterizado pelo emprego dos materiais em seu aspecto natural, em especial o concreto, o tijolo e a pedra.
 9.  Para uma análise mais aprofundada dos aspectos materiais e construtivos dessa obra, ver MACEDO (2003), Op. Cit.

bruno santa cecília (1977)
 Arquiteto e Urbanista (EA-UFMG, 1999), Mestre em Teoria e Prática do Projeto Arquitetônico (EA-UFMG, 2004) e Especialista em Arquitetura Contemporânea (PUC-MG, 2001). Professor dos cursos de arquitetura e urbanismo nas universidades FUMEC e PUC-MG. Autor de diversos projetos e obras destacados em premiações e concursos nacionais como o 6º Prêmio Jovens Arquitetos IAB-SP (Categoria Urbanismo, 2004), Parque Tecnológico de Belo Horizonte (2003, 1o lugar), Propostas para a cidade de Santana de Parnaíba, SP (2003, 1o lugar), Nova Sede do CREA-ES (2002, 1o lugar), Nova Sede do CRM-MG (2004, 2o lugar), Sede do Museu da Tolerância da USP (2005, 3o lugar) e Nova Sede da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (2005, menção honrosa), entre outros. Possui escritório próprio desde 1999.

contato: bruno@arquitetosassociados.arq.br |  www.arquitetosassociados.arq.br

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A pertinência da forma na arquitetura pode ser abordada de várias maneiras diferentes. Interessa-nos aqui uma delas em particular: a pertinência climática e ambiental de uma arquitetura pensada para os trópicos. A discussão sobre o que sejam formas arquitetônicas pertinentes exige necessariamente um correto entendimento do lugar onde ela se situa e do qual ela é indissociável. Arquitetura pertinente é por definição arquitetura adequada, apropriada. Não há, portanto, como analisar o que possam vir a ser os fundamentos de uma arquitetura pertinente para o nosso país sem considerar que ela deverá ser uma arquitetura pertinente a um país tropical, predominantemente quente e úmido. Isto pode parecer óbvio a primeira vista, mas no Brasil, a importação indiscriminada de modelos externos, produziu ao longo de nossa história e ainda produz largamente nos dias de hoje, exemplares de arquiteturas absolutamente inadequadas. E sua impertinência reside principalmente na sua incapacidade de considerar e por vezes até mesmo desprezar nossa realidade sob vários aspectos, e dentre eles o nosso clima.

A chegada da arquitetura moderna ao Brasil, entre os anos 20 e 30 do século passado, está intimamente relacionada à capacidade de alguns arquitetos notáveis, em especial Le Corbusier, em adaptar o vocabulário formal da nova arquitetura que estava sendo proposta na Europa aos climas quentes. Foi somente graças ao olhar atento sobre a tradição construtiva vernacular local que o arquiteto franco-suíço conseguiu pensar uma arquitetura consonante com os avanços técnicos e culturais daquele tempo e adequada ao clima quente e seco do norte da África primeiramente e ainda ao clima quente e úmido da Índia ou do Brasil, tempos depois [1]. Com o devido distanciamento histórico que temos hoje, é possível perceber com clareza que, no caso brasileiro em especial, o correto entendimento dos princípios de adaptação ao clima por trás das construções antigas, aliado ao domínio das novas tecnologias construtivas, sobretudo do uso do concreto armado, tornou possível a criação de uma arquitetura moderna tropical, genuína e pertinente, que apontava ao mesmo tempo para o futuro e para o passado [2].  A arquitetura gerada pela primeira geração de arquitetos modernistas brasileiros é exemplar neste sentido e talvez por isso mesmo tornou-se conhecida no mundo inteiro, servindo de exemplo para outros lugares com clima semelhante [3]. Capitaneados por Lúcio Costa, o grupo de jovens arquitetos que contava, entre outros nomes, com Oscar Niemeyer e Affonso Reidy, criou, com a ajuda do próprio Le Corbusier, o projeto para a sede do Ministério da Educação e Saúde Pública em 1937, pouco tempo depois de os irmãos Roberto terem projetado a sede da Associação Brasileira de Imprensa. Nestes dois prédios, o uso de anteparos de proteção à radiação solar desenhados de forma a criar desenhos geométricos e ortogonais nas fachadas demonstra o casamento entre o uso de um vocabulário formal limpo, desprovido de ornamentações, o entendimento sobre as possibilidades geradas pelo concreto armado e a percepção da necessidade de proteção contra a insolação inclemente dos trópicos [4]. Infelizmente, porém, o que deveria ter sido um modelo, parece hoje uma exceção.

No decorrer do século XX, principalmente após os anos 50, a arquitetura moderna no Brasil e no mundo passou por um processo de desgaste, devido em grande parte à sua disseminação indiscriminada como um estilo. A adoção em larga escala da linguagem formal moderna abstrata, sem ornamentos e geometrizada, mas totalmente esvaziada dos conteúdos éticos que a acompanhavam contribuiu para gerar uma infinidade de construções impertinentes, sob todos os pontos de vista [5]. Ao mesmo tempo, a utilização da arquitetura moderna apenas como fonte de inspiração para as feições externas dos edifícios contribuiu para fomentar uma crítica massiva aos ideais modernos. A revisão crítica porque passou a arquitetura moderna a partir dos anos sessenta não aconteceu sem razão. Podemos ver hoje uma infinidade de edificações modernistas que foram erguidas já no período pós-guerra e que soam como arremedos dos primeiros edifícios modernos. Sob vários aspectos pode-se perceber que o engajamento de muitos dos arquitetos tardo-modernos no ideário corbusiano foi meramente formalista e formal. Isso torna-se mais evidente ao se olhar o pouco entendimento que tinham da realidade climática dos lugares onde edificaram, para ficarmos somente na questão de que tratamos aqui. Os panos de vidro voltados para o sol da tarde sem qualquer proteção à moda dos países frios, a utilização de lajes planas de concreto como cobertura sem qualquer tipo de proteção, o posicionamento e dimensionamento equivocado dos quebra-sóis como meros acessórios plásticos, dentre outros vários aspectos, demonstram que a arquitetura moderna havia se disseminado sem qualquer consciência sobre sua adequação ao clima, aspecto tão caro à geração primeira do modernismo. A disseminação das caixas de vidro tardo-modernas por estas cálidas terras contribuiu sobremodo para a criação de uma idéia de suplantar o modernismo.

Porém, salvo em poucos exemplos que constituem mais a exceção do que a regra, a arquitetura que surgiu a partir da crítica ao modernismo também não conseguiu, no Brasil, produzir exemplos em larga escala que se mostrassem mais adequados ao nosso clima do que anteriores. Ao contrário, um rápido olhar sobre os edifícios que podem ser considerados como os exemplos mais conhecidos da arquitetura pós-moderna mostra que, apesar da crítica ao esvaziamento ético da arquitetura tardo-moderna, no aspecto particular da pertinência climática, praticamente não há avanço. Nesse período, sobretudo ao longo dos anos 80 e 90 do século XX, foram erguidas inúmeras torres por todas as grandes cidades brasileiras, que de certa maneira repetem os equívocos das grandes fachadas envidraçadas totalmente expostas à radiação solar só que agora com vidros coloridos e espelhados. Deve se considerar que neste período houve uma evolução técnica notável dos sistemas de condicionamento de ar e das tecnologias de esquadrias e vidros para fachadas.  Mas talvez tenha sido exatamente em função desses avanços, que estas arquiteturas tenham deixado de lado o conhecimento climático gerado pelas primeiras edificações modernistas, criando torres compatíveis com os padrões estéticos norte-americanos e estrangeiros mas absolutamente inadequadas à nossa realidade tropical. Nesses edifícios, o bem estar dos usuários é garantido às custas de sistemas altamente sofisticados de esquadrias, inacessíveis economicamente a grande massa da população brasileira e a poderosos sistemas de condicionamento de ar, o que torna tais construções vorazes consumidores de energia elétrica. Apesar de toda a crítica à falta de consideração com o lugar dirigida às arquiteturas das caixas de vidro de feições modernistas, a arquitetura pós-moderna não conseguiu recuperar em larga escala a utilização de ele-mentos arquitetônicos para controle climático. Ao contrário faz uso das novas tecnologias para criar condições internas de conforto, quando na verdade apenas substitui as caixas de vidro transparente pelas caixas de vidro coloridas.

Passados setenta anos desde a elaboração de projetos como o MESP e a ABI, que de certa forma re-fundaram nossa tradição construtiva e ajudaram a projetar a arquitetura brasileira para todo o mundo, parece que andamos para trás. O legado da primeira geração modernista parece ter sido esquecido e o que pode ser visto na grande maioria dos prédios que constroem nossas cidades hoje é pouca ou nenhuma pertinência ao seu lugar. O que nos foi ensinado foi deixado de lado e a grande maioria das construções são quentes quando deveriam ser frescas, geladas quando deveriam armazenar calor, mal ventiladas em lugares úmidos, abertas aos ventos em lugares descampados, quase sempre absolutamente inapropriadas à realidade do lugar em que se inserem.  O convívio forçado dos usuários destas edificações com o calor ou o frio excessivos, com as goteiras, com o mofo, e a conseqüente necessidade de utilização de aparelhos de ar condicionado, calefação, umidificação, desumidificação, demonstra a total incapacidade da grande maioria dos arquitetos em projetar tendo conhecimento sobre as condições climáticas locais e sobre as técnicas e materiais construtivos disponíveis. Isso se agrava se considerarmos além do fracasso destas construções como arquiteturas adequadas, também a forma como aumentam a demanda por energia elétrica num país onde esse bem tem se tornado cada vez mais escasso. A arquitetura média das grandes cidades brasileiras hoje é, portanto, energívora exatamente por sua impertinência do ponto de vista climático e ambiental.

Na tentativa de se estabelecer uma resistência a essa onda massificadora que inunda nossas cidades com toneladas de impertinência edificada a cada ano, existem duas frentes principais que poderiam ser estabelecidas:
– A tentativa heróica de estabelecer, pelas mãos dos arquitetos sensíveis a essa questão, um número maior de exemplos construídos de edificações exemplares nesse sentido. Obviamente, sua pertinência não pode se restringir à questão climática, devendo ser considerada de forma ampla, a fornecer uma demonstração ao mercado imobiliário, grande modelador das nossas cidades, sobre as vantagens de construir edifícios mais adequados e que consumam menos energia.

Um trabalho de base renovador junto ao ensino de projeto nos cursos de arquitetura, dotando as próximas gerações de arquitetos de instrumentação necessária para considerar a adequação climática desde o início do processo de elaboração das edificações.

A primeira tarefa é inglória e escapa ao alcance da arquitetura, envolvendo questões complexas relacionadas ao mercado imobiliário e suas demandas. Já a segunda frente proposta é um trabalho essencialmente de conscientização e aprendizado.  Principalmente dos próprios professores e arquitetos que labutam na área do ensino de projeto, para poderem dotar os estudantes de informações relacionadas à relação entre forma, sistemas construtivos e clima local, desde o início de seus projetos.

O espraiamento de objetivos dentro dos cursos de arquitetura tem tornado o ensino de projeto difuso na maioria das escolas hoje.  A falta de foco nos ateliês é justificada pela possibilidade de abrir horizontes ao aluno e pela necessidade de formar nele uma capacidade crítica diante das situações práticas, mas acaba por atrofiar a criação de parâmetros projetuais básicos, com os quais todos os alunos deveriam se graduar. Por isso, é necessário fornecer aos futuros arquitetos embasamento mínimo para que possam, desde o começo de sua atividade projetual, considerar o lugar e em especial o clima para onde estão projetando, o que pode ser feito de forma objetiva através de dados climáticos e físicos ou ainda pelo olhar consciente sobre a tradição construtiva local que fornece sempre importantes informações sobre a adaptação das construções ao clima local. Além disso, o embasamento técnico e construtivo desde o começo do aprendizado de projeto arquitetônico desenvolve a necessidade de ancorar firmemente as decisões tomadas ao longo do desenvolvimento de suas idéias, o que deveria ser sempre encorajado. Assim, técnica e tecnologia construtiva disponíveis aliadas à necessidade de adaptação ao clima fundamentam o ato de projetar, como aconteceu nos casos citados do MESP e da ABI. O estabelecimento de um objetivo claro como esse pode conduzir a um ensino de projeto mais focado na adequação das propostas, menos sensacionalista. É necessário conscientizar os estudantes quanto à falta de propósito da importação cega de conceitos arquitetônicos extravagantes e a colagem acrítica de formas criadas para o clima e para a realidade econômica da Europa ou da América do Norte. O trabalho de base junto ao ensino de projeto pode recolocar a arquitetura brasileira no caminho da pertinência, através de arquitetos capazes de conciliar a um só tempo o entendimento correto sobre nossa realidade econômica e climática e a respeito das tecnologias construtivas disponíveis.

Resta-nos continuar lutando em busca de uma maior pertinência para as nossas cons-truções, pois esse é o único caminho que tem aqueles que acreditam que é possível criar em maior escala, uma arquitetura mais adequada a nossa realidade. Mais adequada do ponto de vista cultural, social, tecnológico e, é claro do ponto de vista climático. Ou fazemos isso ou então passamos a considerar que os impertinentes somos nós, em desacerto com o pensamento da grande maioria e, como o alienista do conto machadiano, deixamos os loucos em paz e nos trancafiamos num hospício com nossos delírios.

notas

1.  Cf. CURTIS, William J. R. Le Corbusier: Ideas and Forms. Londres: Phaidon, 1986, p. 116.
2.  Nenhum outro arquiteto moderno brasileiro representa melhor essa síntese entre o passado e o futuro do que Lúcio Costa. Seu conhecimento acerca de nossas tradições construtivas, seu olhar atento sobre os sistemas construtivos mais avançados da época e a análise sobre o trabalho de arquitetos como Le Corbusier e Mies Van der Rohe lhe permitiu criar uma obra exemplar no sentido dessa conciliação paradoxal. Cf. WISNIK, Guilherme. Lucio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
3.  Cf. GOODWIN, Philip. Brazil Builds – Architecture New and Old 1652-1942. Nova York: The Museum of Modern Art, 1943, p. 84.
4.  Sobre isso, cf. PRADO, André Luiz. A Eficiência Ambiental nas Edificações: Fundamentos e estratégias para a elaboração do projeto arquitetônico a partir do uso racional de energia elétrica e água. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, 2005, cap 2.1 . A gênese do brise-soleil: A adaptação da arquitetura Moderna ao Brasil.
5.  Interessante crítica feita à disseminação sem critérios dos elementos da arquitetura moderna por todo o país é feita nos anos sessenta por Miran Barros Latif referindo-se à impertinência plástica e climática desses elementos em determinadas situações. Cf. LATIF (1966). APUD: XAVIER, Alberto. (org.). Depoimento de uma Geração – Arquitetura Moderna Brasileira. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

andré Luiz Prado (1974)
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1998), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 2005), Foi professor de projeto arquitetônico na Escola de Arquitetura da UFMG (2001-2002) e no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unileste – Coronel Fabriciano/MG (2005). É professor de projeto arquitetônico no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Uni-BH – Belo Horizonte, desde 2002. Participa de concursos nacionais e internacionais, tendo recebido premiações em diversos deles. Possui escritório próprio desde 1996.

contatos: andre@arquitetosassociados.arq.br | www.arquitetosassociados.arq.br

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MDC 001 – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //puntoni.28ers.com/2006/01/31/interdisciplinaridade-reunioes-catalogos-e-computadores/ //puntoni.28ers.com/2006/01/31/interdisciplinaridade-reunioes-catalogos-e-computadores/#respond Tue, 31 Jan 2006 05:58:26 +0000 //puntoni.28ers.com/?p=254 Continue lendo ]]> mdc 01Ascanio Merrighi

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Começo um projeto quando visito um sítio (programa e condicionalismos vagos como quase sempre acontece). Outras vezes começo antes, a partir da idéia que tenho de um sítio….

É assim que o arquiteto português Álvaro Siza, no prefácio de Profissão Poética [1], lista tópicos, oito exatamente, discorrendo sobre sua rotina profissional. O depoimento, ao mesmo tempo contido, intenso, vibrante, descontraído, segue descrevendo a perseguição de um conceito sugerido naquele início vago e pleno de possibilidades. Nesse rumo, segue pelos desenhos nos cafés ?..dos poucos (ambientes) – aqui no Porto – a permitir anonimato e descontração.?É aí que atrai atenção sua justificativa para esta reclusão inicial:

Não se trata de fuga à mesa de reuniões, à interdisciplinaridade, ao telefone, aos impressos de Regulamentos, aos catálogos de pré-fabricados ou de ferramenta simplificadora, ao computador ou à Assembléia de Moradores. Trata-se de conquistar – é o termo – bases para trabalhar com isso e para isso.

E seguem-se os tópicos do prefácio e depois todo o livro com as descrições dos projetos em esboços, desenhos técnicos, fotografias e textos. Excepcional fonte constante de aprendizado ou, também, boa distração momentânea.

Não há conotação de ‘mal necessário?entre os conceitos e esboços iniciais das apropriações específicas de uma situação de projeto e os mecanismos rotineiros e determinações técnicas que transformam aquelas definições iniciais em obra pronta e edifício habitado. O processo de projeto com todas as suas interfaces bem exploradas deve servir para reforçar suas intenções iniciais, podendo até, dentro de limites que mantenham o controle de seu desenvolvimento, indicar novas potencialidades que devam ser incorporadas às premissas até então destacadas. Os aspectos técnicos de uma construção podem, e não são poucos os ícones históricos da arquitetura a respaldar esta afirmação, ser inclusive determinantes de sua relação estética, da linguagem e do significado por ela transmitidos. A consistência de determinado trabalho não é, definitivamente, definida por um desenvolvimento técnico criterioso e sintonizado com as mais recentes, desenvolvidas, racionalizadas e industrializadas soluções. Mas sua maturidade talvez seja. Este raciocínio inicial resume ser possível incorporar às definições de uma situação de projeto única (lugar e seu entorno, programa, identidade possível e universo cultural, orientações, exposições fenomenológicas, significados potenciais…) tanto métodos cons-trutivos aleatórios como uma grande interação com processos industrializados e bem detalhados, tecnicamente limpos e melhor controlados pelas ações de projeto. O segundo caminho, no entanto, só pode ser atingido sob comando de profissional e/ou equipe preparados para assumir tal tarefa e levá-la a cabo plenamente. Sendo ou não determinante em sua imagem, a tecnologia, assumida ou não pelo arquiteto no processo de projeto, será definidora, como fim ou meio, do resultado final de uma proposta.

A relação do arquiteto com este processo retrata bem seu grau de interferência na consistência da obra pronta. O que não pode ser desprezado é que, em qualquer caso e nível de envolvimento no processo, a responsabilidade profissional do arquiteto em relação ao resultado não varia. Neste ponto ligam-se as referências iniciais do texto com seu objetivo principal: ilustrar o atual estágio, desconexo em linhas gerais, entre prática arquitetônica e meios de produção para colocar em pauta ações que possam diminuir estas distâncias por meios tangíveis e inerentes ao cotidiano da prática arquitetônica.

A integração de certas rotinas ao desenvolvimento dos projetos seria suficiente para estabelecer um ambiente de trabalho comum e ideal para o trânsito das informações técnicas entre os autores do projeto, seus complementares e as fábricas de componentes, sistemas construtivos e estruturais. As razões para focar um raciocínio, superficial que seja, na organização e no desenvolvimento de um projeto com as bases da indústria são, principalmente:
?a desmistificação das relações imediatas feitas entre modulação, monotonia e limitações formais;
 ?as garantias de qualidade homogênea, redução e controle de perdas processuais que podem ser exploradas na aplicação de produtos e sistemas industrializados nos domínios de qualquer conceito de projeto.

Nesta direção, as relações entre as modulações de um projeto devem ser claras e não restritas apenas aos aspectos estruturais, mas estendidas aos construtivos. A norma técnica alemã DIN 18000 [2] representa bem elementos construtivos relacionados a variações hetero-gêneas de um mesmo módulo  no contexto de um projeto hipotético.

As ações projetuais que traçam bases comuns para a melhor relação dimensional entre as partes da construção são simples e buscam aproximar o desenvolvimento do projeto, seu detalhamento e execução. Devem ser esta-belecidos e mantidos, mesmo que ajustados ao longo do processo, os princípios de definição de malha estrutural e organização geométrica com marcação de eixos estruturais que permitam relacionar os parâmetros dimensionais das estruturas com aqueles dos sistemas construtivos. Parece básico, e é, mas num trabalho de consultoria ou suporte técnico para projetos com estruturas de aço são raras as vezes em que recebemos desenhos técnicos arquitetônicos com a definição de um sistema de coordenadas transversais e longitudinais para estruturação das potencialidades evidenciadas na fase inicial do projeto. A carência destes elementos gráficos de amarração e organização do projeto pode ser traduzida na falta de compromisso do arquiteto e sua equipe com as soluções técnicas aplicáveis. Nesta defasagem surge espaço para interpretações e decisões de outros profissionais envolvidos no processo que não necessariamente tem o mesmo compromisso do arquiteto com seus parâmetros e objetivos. Estas medidas, claro, não garantem que não haverá interferências “indevidas?no projeto ao longo de sua implementação, mas sua ausência estabelece vínculos fracos entre o proposto e os mecanismos de construção o que pode transformar completamente a idéia inicial. I­nterferências e contribuições são bem vindas ao desenvolvimento de qualquer projeto desde que convincentes e consensuais. Além destes parâmetros dimensionais, podem ser mencionadas estratégias de disposições desencontradas entre eixos estruturais e planos de vedação externa que transportariam as dimensões definidas nas estruturas ao sistema construtivo das vedações.

São vários, como já mencionado, os exemplos de obras que têm sua expressão predominantemente ancorada em bases tecnicistas. Não necessariamente recentes, como vários projetos do arquiteto alemão Ludwig Mies Van der Rohe,  entre eles a casa Farnsworth da década de 50, nem necessariamente estrangeiras, como o projeto da casa Lota de Macedo Soares de autoria do arquiteto brasileiro Sérgio Bernardes da mesma década do anterior [3]. Ambos projetos, de aspectos e naturezas bem diversas, são concebidos e executados com rigidez formal construída sobre parâmetros de métodos construtivos industrializados, total ou parcialmente. São ainda dois exemplos históricos de atuação profissional não restrita aos ambientes de escritório e obra, sendo estendida ao universo das fábricas com a “invenção?quase literal de especificações de materiais e produtos propriamente ditos. Tanto Mies Van der Rohe quanto Bernardes provocaram o interesse de fabricantes diversos e estabeleceram uma interação direta entre prancheta, materiais e produtos.

É possível seguir nestes exemplos em várias direções e com diferentes referências. Mantendo-se as mesmas inicialmente assumidas podemos passar a exemplos recentes, dentro e fora da cultura brasileira e no mesmo patamar de qualidade arquitetônica e industrialização dos projetos. Soluções customizadas como as obras do arquiteto italiano Renzo Piano ou do brasileiro João Filgueiras Lima (Lelé) são de-talhadas e montadas com elementos fabricados em série ou não a partir das modulações de projeto. São assim os casos de várias unidades de Hospitais da Rede Sarah com diversos componentes fabricados no CTRS (Centro Tecnológico da Rede Sarah) em Salvador: não apenas os componentes estruturais saem da fábrica em peças pré-montadas como todos os painéis de argamassa armada que farão as divisórias e vedações são ali fabricados sob rígidos parâmetros técnicos e dimensionais, com relações comuns em múltiplos ou sub-múltiplos de uma mesma referência modular. Exemplos mais extremos podem ser mencionados como casos de fabricações e montagens mais complexas, com peças únicas criadas para situações de projeto onde caibam estas colocações, com no caso do Centro Georges Pompidou, em Paris, onde muitas das peças estruturais foram fabricadas sob medida com recursos de indústrias pouco exploradas pela construção civil com a naval ou a aeronáutica.

Enfim, as possibilidades são muitas, e os caminhos em pauta nas constantes decisões de projeto podem ser melhor controlados com uma maior aproximação entre os projetistas e os processos e meios de produção. Esta discussão segue por conceitos desenvolvidos pelo arquiteto durante sua formação. Passa pelo senso de proporção das medidas, pelas relações culturais, por estabelecer as conexões necessárias entre as partes de um projeto, pelo que o seu conjunto apresenta em relação ao entorno e outras questões caras ao profissional de arquitetura comprometido com sua causa. Questões percebidas pelo habitante que experimenta ou usufrui de determinado lugar e podem ser enriquecidas por sua amarração com os métodos construtivos. No início, Álvaro Siza descreve o processo de projeto com sendo algo que busca, nas bases do esboço feito no ambiente isolado de um Café, respaldo para transformá-lo em obra através de rotinas muitas vezes tidas como pouco nobres, mas indispensáveis para realizar o impulso criador contido num desenho. ?em>Trata-se de conquistar (…) bases para trabalhar com isso e por isso.?/p>

notas

1.   SIZA, Álvaro. Profissão Poética. Barcelona: Gustavo Gilli, 2002.
2.  DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG e.V..Modular coordination in building: DIN 18000. Berlin, 1984-05.
3.  Nobre, Ana Luíza. Flor Rara e Banalíssima, Residência Lota Macedo Soares por Sérgio Bernardes. Portal Vitruvius: Arquitetura e Crítica, N. 15, fev.2006. Disponível na internet em <//www.vitruvirus.com.br/ac/ac015/ac015.asp&gt; Acesso em: 15 fev. 2006.

ascanio merrighi de figueiredo silva (1971)
 Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1995), Mestre em Construções Metálicas (UFOP, 2004). P­rofessor do CEACON, Especialização em Construções Metálicas para A­rquitetos (Izabela Hendrix-MG). Trabalhou como arquiteto no escritório GSI Architects, em Cleveland-EUA, de 1997 a 2000 e na área de desenvolvimento de mercado para c­onstrução em aço da Usiminas desde 2001. Desenvolve projetos próprios desde 1996.

contato: amerrighi@usiminas.com.br

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Alexandre Brasil Garcia

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Este trabalho tem origem na dissertação de mestrado em curso, a ser apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Fede­ral de Ouro Preto (UFOP) na área de concentração: Construções Metálicas. O tema do trabalho surgiu da decisão de integrar o programa de pós graduação da UFOP à pesquisa Habitar Belo Horizonte: Ocupando o Centro (HBH), Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP) e a Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (EAUFMG-PRJ). O HBH tem como objetivos gerais ?em>o desenvolvimento de instrumentos de planejamento, gestão urbana e de política habitacional, capazes de viabilizar a ocupação dos centros das cidades de médio e grande porte com assentamentos habitacionais populares, reaproveitando edificações desocupadas em processo de deterioração, requalificando áreas degradadas, e substituindo edificações horizontais sem indicação para a preservação?[1].

A presente pesquisa trata de modo específico da exposição de um sistema para realização de assentamentos habitacionais populares capazes de viabilizar a ocupação de regiões degradadas do centro de Belo Horizonte a partir do emprego integral de tecnologias construtivas industrializadas.

As áreas centrais das grandes cidades brasileiras vivem hoje um processo de desvalorização e degradação contínuas. Parte deste problema está relacionada às sucessivas recessões ou baixos índices de crescimento econômico, parte se deve aos constantes deslocamentos das atividades que antes ali se realizavam para outras partes do município.

Com o esvaziamento dos centros, as atividades comerciais e de serviços se enfraquecem e o número de moradores decresce.  A mancha urbana se expande em direção à periferia na tentativa de assentar a população de baixa renda, ou ainda cresce com a finalidade de abrigar novas áreas de expansão imobiliária, geralmente destinadas às classes dominantes. Este crescimento, quando desordenado, incentiva a periferização e até a favelização, incrementando aos gastos públicos do município os custos de implantação de infra-estrutura urbana e transporte público para estas novas ocupações.

Enquanto isso, grande parte dos imóveis das regiões centrais se torna subutilizada e vazia. As atividades comerciais formais que antes ali se realizavam são rapidamente substituídas pelas informais acarretando uma mudança no perfil sócio-econômico dos moradores e usuários. Acelera-se o processo de deterioração do patrimônio histórico [2].

Se por um lado estas áreas centrais se tornam vazias e desvalorizadas, apresentando baixo valor comercial, por outro, conformam um generoso estoque imobiliário a ser aproveitado, com alto valor de uso. Poderiam ser ocupadas por uma parcela da população de baixa renda que atualmente não possui outra opção a não ser a de se instalar na periferia e ou em favelas, otimizando o aproveitamento da infra-estrutura urbana consolidada do centro. A reocupação incluindo habitação permitiria que estas áreas fossem repovoadas, revitalizadas através do uso, utilizadas em horários não comerciais, noturnos, finais de semana e feriados; aumentando a segurança pública a partir da presença constante de transeuntes.

Jane Jacobs em Morte e Vida de Grandes Cidades nos diz de um princípio que fala de ?em>é a necessidade que as cidades têm de uma diversidade de usos mais complexa e densa, que propicie entre eles uma sustentação mútua e constante, tanto econômica quanto social (…)? E acrescenta, ?em>zonas urbanas malsucedidas são as que carecem desse tipo de sustentação mútua complexa e que a ciência do planejamento urbano e a arte do desenho urbano, na vida real, devem tornar-se a ciência e arte de catalizar e nutrir essas relações funcionais densas?[3]. A vitalidade de outrora poderia ser recuperada através da presença de habitação de interesse social no centro de Belo Horizonte.

No entanto, é preciso estudar meios para se aplicar parâmetros urbanísticos e arquitetônicos peculiares à população que se pretende atrair: ações que possam promover a diversidade social e funcional destas áreas com a finalidade de induzir desenvolvimento urbano; incentivos cuidadosos que garantam que tais regiões não se tornarão alvos fáceis para o ataque dos especuladores imobiliários.

No caso específico de Belo Horizonte, a pesquisa HBH tem como objeto de estudo a região contígua à avenida Santos Dumont, onde existem duas situações que são particularmente críticas na região. A primeira trata das edificações verticais desocupadas (hotéis, edifícios comerciais e residenciais) que podem ser adaptados para moradias. A segunda, de terrenos e edificações horizontais desocupados, sem indicação para preservação, e em mau estado de conservação. A avenida Santos Dumont pertence ao plano urbanístico original da cidade e constituí importante eixo de ligação entre a estação ferroviária, onde hoje funciona uma estação do metrô, e a rodoviária municipal.

Uma das premissas é propor a substituição destas edificações por outras, mais novas, visando o esgotamento de um potencial construtivo que nunca se consolidou, previsto na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte.

Trazendo a discussão para o meio técnico e concentrando nesta segunda situação (terrenos e edificações horizontais desocupados, sem indicação para preservação, e em mau estado de conservação), como proceder à ocupação destes vazios, destes lotes, que surgiriam a partir da demolição das construções existentes?

Em se tratando do centro, a opção pelos sistemas industrializados de construção pode garantir soluções que contemplem rapidez na produção de unidades habitacionais e ainda garantir melhorias técnico-construtivas, procurando atender aos programas de controle da qualidade da construção habitacional [4]. Em virtude da carência de espaços para a implantação de grandes canteiros de obra no centro, uma racionalização de todo o processo evitaria transtornos nas importantes vias de trânsito intenso que constituem sua malha. Estes e outros fatores somados ao fato de termos no Brasil de hoje um déficit habitacional que gira em torno de 6,6 milhões de unidades habitacionais [5], a inclusão da industrialização nos processos relacionados à construção civil para realização de habitação de interesse social se revela uma solução adequada.

Justifica-se então pensar um sistema e não um projeto específico, que em princípio, parta da racionalização: que permita a realização de assentamentos habitacionais populares capazes de viabilizar a ocupação de regiões degradadas do centro de Belo Horizonte a partir do emprego de tecnologias construtivas industrializadas; uma coordenação modular que compatibilize as diferentes escalas envolvidas no problema: a urbana, habitacional e relativa à técnica e a construção.

A escala urbana, aqui tratada, está relacionada à sua malha, a suas dimensões, e compreende o desenho das quadras e as subdivisões em lotes. Belo Horizonte traz em sua origem, uma ordenação geométrica do território, que teve como ponto de partida o traçado das vias. Aarão Reis, o autor do plano original, no final do século XIX, propôs a área urbana dividida em quarteirões de 120×120 metros, definidos por uma malha de ruas com 20 metros de largura e sobre esta, uma outra, girada 45 graus em relação à primeira, destinada às avenidas com 35 metros de largura, confirmando sua maior importância. Apenas a uma das avenidas, a Avenida Afonso Pena, foi dada a largura de 50 metros para constituí-la em centro obrigatório da cidade, que corta a zona urbana de norte a sul. Algumas variações nestas quadras existem devido às intercessões à 45º das ruas com as avenidas ou em decorrência de alguma adaptação do desenho urbano à presença do rio. Estas quadras foram subdivididas em módulos menores conformando lotes que variam de 15×30, 15×60, 20×30, 20×60 e ainda em outros submúltiplos derivados do processo de sua ocupação. O objeto deste estudo é o conjunto das quadras de traçado homogêneo quadrangular de lados 120 x 60 metros e 120 x 75 metros existentes ao longo da avenida Santos Dumont.

A escala habitacional esta relacionada às dimensões essenciais dos espaços que constituem um apartamento básico. Tomando como parâmetro outros empreendimentos habitacionais existentes e baseando-se no que vem sendo praticado pela Cohab, CDHU, e construtoras particulares, em média podemos verificar uma caracterização de tipos de apartamento através de suas dimensões mínimas em metros quadrados. As mais usuais são: o apartamento quitinete com 27m2, o apartamento de um quarto com 36 m2 e o apartamento de 2 quartos com 45 m2.

Estas dimensões dos ambientes podem ser pensadas em múltiplos de módulos de 3×3 metros, que por sua vez constituem múltiplos das dimensões das quadras e dos lotes. Um quadrado de 3 metros de lado pode abrigar um quarto compatível com as dimensões mínimas exigidas pelo código de obras do município de Belo Horizonte [6]. Estas mesmas dimensões podem resolver um módulo hidráulico onde se concentrariam as áreas molhadas, cozinha, lavanderia e banheiro, da unidade habitacional. Este módulo de 3×3 metros se somado a outro de mesmas dimensões pode conformar um ambiente de uso múltiplo com 18 metros quadrados. O agrupamento destes módulos de 3×3 metros gera opções múltiplas de configurações de unidades habitacionais. A inexistência de afastamentos laterais e frontais na região permite este raciocínio [7]. A associação e a disposição destas unidades no espaço das quadras desenham a ocupação.

A escala relativa à técnica e à construção se baseia nas dimensões dos componentes construtivos industrializados. Em quase todos os países que adotam o sistema métrico encontramos produtos com frações exatas do valor de 1.200 milímetros. Medida que compreende em um módulo de 3.000 milímetros, 2,5 vezes a dimensão de 1.200 milímetros (em metros: 2,5×1,2=3). Em 6.000 milímetros a correspondência a 5 módulos de 1.200 milímetros (em metros: 5×1,2=6). Portanto esta proporcionalidade que existe entre grande parte dos produtos existentes no mercado e o módulo proposto de 3×3 metros se faz econômica e racional. Prova disso são, por exemplo, as vedações mais comuns: tijolos (200 ou 300 milíme­tros), as placas acartonadas (1.200 milímetros) com sustentação baseada em perfis espaçados de 600 em 600 milímetros. Nos revestimentos temos as cerâmicas com 150×150, 200×200, 300×300, 400×400 milímetros. Nos elementos da estrutura principal em aço, pilares e vigas, também encontramos dimensões padrões reguladas a partir de múltiplos de 1.200 milímetros. A modulação de componentes construtivos fabricados a partir de aços planos é baseada no comprimento padrão da chapa fabricada, 3.000 e 6.000 milímetros.

A opção em utilizar um módulo de 3×3 metros se torna pertinente, pois permite a coordenação das escalas urbana ?o dimensionamento das quadras e lotes, a escala habitacional – as dimensões dos ambientes essenciais em uma unidade habitacional de interesse social e a escala relativa à técnica e a construção ?o módulo estrutural básico.

Por fim, a coordenação modular empregada neste estudo garante a racionalização e a conseqüente padronização dos elementos construtivos gerando economia e melhorias na qualidade final da construção. Transforma a modulação arquitetônica em ferramenta que integra estrutura principal aos espaços arquitetônicos desejados e ainda aos demais componentes da construção. Contribui para o enriquecimento do debate relativo à recuperação de zonas centrais degradadas de Belo Horizonte, envolvendo as escalas sociais, urbanísticas e tipológicas.

referências bibliograficas

BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal. Decreto Lei 84 de 21 de Dezembro de 1940. Aprova o regulamento de construções da prefeitura de Belo Horizonte (Código de Obras).
BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Lei No 7165 de 27 de Agosto de 1996. Plano Diretor do Município de Belo Horizonte.
BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Lei No 7166 de 27 de Agosto de 1996. Estabelece normas e condições para parcelamento, ocupação e uso do solo urbano no Município.
BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Lei No 8137 de 21 de Dezembro de 2000. Altera as leis Nos 7.165 e 7.166, ambas de 27 de Agosto de 1996, e dá outras providências.
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 516 p.
 MALARD, Maria Lúcia (coordenadora) e outros. Habitar Belo Horizonte ?Ocupando o Centro. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da UFMG, 2003 (Projeto de Pesquisa).

notas

1.  (MALARD, 2003:1)
2.  Em 2003 o Ministério das Cidades através da Secretaria Nacional de Programas Urbanos lançou o Programa de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais que tem como principais objetivos reverter o processo de esvaziamento e degradação das áreas centrais a partir do estímulo à utilização de imóveis ociosos.
Ministério das Cidades. Disponível em: <//www.cidades.gov.br//index.php?option=content&task=section&id=204. Acesso em 20 fev. 2006.
3.  (JACOBS, 2000:12).
4.  Importante ação contemplada pela Política Nacional de Habitação: implementação de medidas voltadas à moder-nização da produção habitacional, a cargo da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, por meio do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H.
Ministério das Cidades. Apresenta informações sobre o Ministério das Cidades. Disponível em: <//www.cidades.gov.br/index.php?option=content&task=section&id=16&menupid=213&menutp= habitacao>.  Acesso em 28 jun. 2005.
5.  O déficit habitacional brasileiro foi estimado em 6.656.526 novas moradias em 2000, com incidência notadamente urbana, que abrange 81,3% do montante brasileiro. A Região Nordeste lidera a demanda habitacional, com necessidades estimadas em 2 631 790 unidades (39,5% do total) e com parcela expressiva do problema a ser equacionado na área rural: há demanda habitacional por 902 733 novas moradia rurais, o que corresponde a  72,7% do déficit habitacional rural brasileiro. Junto com a região Sudeste, representam 75,8% do déficit habitacional brasileiro. A maior parcela da estimativa do déficit é composta pela coabitação familiar (56,1%) seguida pelo ônus excessivo com aluguel (18,2%), sendo que nas regiões metropolitanas esses percentuais são, respectivamente, 65,4% e 22%. Instituto Polis. Apresenta informações sobre o instituto. Disponível em: <//www.polis.org.br/tematicas.asp?cd_camada1=16&cd_camada2=117&gt;. Acesso em 10 fev. 2006.
6.  BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal. Decreto Lei 84 de 21 de Dezembro de 1940. Aprova o regulamento de construções da prefeitura de Belo Horizonte (Código de Obras). Art. 65 a Art. 71. Os compartimentos de permanência prolongada, como os dormitórios e os ambientes de estar, deverão ter a área mínima de oito metros quadrados (8 m2).
 7.  BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal. Lei No. 7166 de 27 de Agosto de 1996. Estabelece normas e condições para parcelamento, ocupação e uso do solo urbano no Município.

alexandre brasil garcia (1973)
Arquiteto e Urbanista (EA-UFMG – 1997) e Mestrando em Construções Metálicas – (UFOP – 2004-2006), foi professor na UFMG (2002-2004), autor de diversos projetos e obras destacados em premiações como o 6º e 7º Prêmios Jovens Arquitetos (2004-2005), a 4a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (1999), O Eixo das Três Praças em Formiga-MG, 1997, 1o lugar;  Concurso Público Praça Milton Campos em Betim-MG, 1999, 1o. lugar; Concurso Nacional Attílio Correa Lima, Requalificação da Praça Cívica, Requalificação da Avenida Goiás, Requalificação da Praça dos Trabalhadores, Goiânia-GO, 2000, 1o. lugar nas três áreas; 4o Prêmio Nacional Usiminas de Arquitetura em Aço, Centro de Arte Corpo, Nova Lima-MG, 2001; Prêmio Idéias para o Parque Tecnológico de Belo Horizonte-MG, 2003;  Possui escritório próprio desde 1996.

contato: alexandrebrasil@arquitetosassociados.arq.br |  www@arquitetosassociados.arq.br

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José Eduardo Ferolla

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O que ocorreria a vocês, se fossem convidados a falar sobre estes assuntos? Eu, precisei perguntar: o quê com isto, ou a partir disto, esperavam que eu dissesse?

A tradução dos organizadores começou com uma história do pedreiro, passou para o preço do saco de cimento,  e acabou resvalando num piano… já que estava assim, tão ad libitum, poderia eu comentar ainda, ou senão, sobre as seguintes questões: “A Pertinência da Poética e a Forma da Construção? ou “A Pertinência da Construção e a Poética da Forma? ou “A Forma da Poética e a Pertinência da Construção? ou “A Forma da Pertinência e a Poética da Construção? ou “A Poética da Pertinência e a Construção da Forma? ou “A Construção da Pertinência e a Forma da Poética? ou  “A Construção da Poética e a Forma da Pertinência?etc, sem que fizesse a menor diferença, tudo renderia assunto e um causo. Giochezze, giochezze! comentaria meu pai.

Mas esta ausência de limites sempre perturbou este mamífero, cuja prosa, clássica por herança genética, faz da poética da construção o seu cons­truir, e da obsessão geométrica das estruturas o seu deleite. Cabe julgar a pertinência. Como defesa, apresento esta liberdade do quê dizer que me foi concedida, mas, contraditoriamente, prefiro e preciso falar dos limites,e sempre que neles penso me ocorre a primeira lição da Fayga: ?em>criar é conhecer os seus limites?

Um bom ponto de partida é começar pelos “deles? o que todos, no nosso ofício, estamos sujeitos: limites do sítio versus necessidades dos usos limites da disponibilidade financeira dos meios. Limites lógicos, mensuráveis e consensuais, ciência. Já os “seus? os de nós outros, são fruto de como cada um percebe e manipula isso: qualidades dos limites físicos do sítio versus adequacidade de meios à necessidade dos usos. O custo do texto da forma e os valores que esta acrescentará ao contexto. L­imites sensuais, emocionais, intelectuais e mentais, portanto subjetivos e imprevisíveis. Tem muito mais, contudo já dá para definir um território.

Com muito menos o cachorro já mijou e d­elimitou o seu. Mas a gente tende a complicar para explicar o que nos aflora pela consciência de nossas próprias limitações, e o entendimento e a resposta de cada um de nós aos mesmos estímulos pode ser a mais variada.

Algumas, inconscientes de si mesmas, se manifestam pela repetição de um arquétipo que, ao longo do tempo, foi aperfeiçoado com o que demonstrou sucesso e garantia de alguma consistência.

Outras, conscientes de si mesmas, compreendida a História e recebida a instrução do ofício, obrigam-nos à mudança e às periódicas e inevitáveis rupturas. Para uns salvação, para outros danação.

Mas tudo isso só faz sentido, só existe porque compreendido, sentido, usufruído ou sofrido pelos demais, o que impõe compartilhar alguns desejos comuns e códigos tradutores de intenções, a começar do idioma. Limites de todas as culturas que, pela crença ou pela ética, caso a caso determinam o bem e o mal. Uff!

Parti pris: tudo isto fruto de demandas exclusivas de homo sapiens. Para o cão já vimos como é simples,  mas a nossa espécie, extremamente predadora, armada o suficiente para destruir o meio da própria  subsistência, como é pernóstica, esta espécie: cogito, ergo sum, (pensa!…), mas como se viesse (?) de outro planeta, não suporta o terror da vida, e para não entrar em pânico, inventa  utopias, nirvanas, samadhis, paraísos. Sabe que vai morrer, mas como só a eternidade lhe interessa, sai a ditar regras e adaptar a si o seu ao redor.

Há outros predadores, mas nenhum, com tamanho poder de fogo, cuspindo no prato e comprometendo seu habitat.

A sobrevivência dos outros bichos não depende de tão complexa estrutura existencial, basta-lhes a essencial. Sabem que viver é muito perigoso, mas não se consideram figura no fundo, são figura-e-fundo, e ignorando a eternidade, vivem, procriam e morrem. E pronto. Seríamos diferentes?

Mas a nossa estrutura existencial alcançou complexidade só inferior à nossa total dependência dela, e os meios de construí-la tornaram-se cada vez mais danosos ao planeta. Quem (sobre)viver, verá. Nós, ou as baratas. É este, de fato, o nosso atual “mínimo denominador comum? Como cada um, vivencio isto com os instrumentos que adquiri e delimito o meu território à minha maneira.

Vou tentar em seguida explicar algo que andei fazendo nele.

Edificio Sede da Fapergs

josé eduardo ferolla (1947)
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1970), especializado em Urbanismo (UFMG, 1971),  professor assistente de projeto arquitetônico na Escola de Arquitetura da UFMG (desde 1977) e no Curso de Especialização em Arquitetura de Interiores do IEC-Instituto de Educação Continuada – da PUC-MG (desde 2002). Participa de concursos nacionais e internacionais, tendo recebido premiações em diversos deles.
Possui escritório próprio desde 1970.

contato: ferolla@brfree.com.br

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Sede da Fapergs - RSJosé Eduardo Ferolla | Eduardo Oliveira Fança

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Museu da Tolerância - SPAlexandre Brasil | Bruno Santa Cecília

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Sede da FHE - DFDanilo Matoso | Elcio Gomes | Fabiano Sobreira |Newton Godoy
Filipe Montserrat | Daniel Lacerda

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Casa em Rio Bonito - RJCarla Juaçaba

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Orquestra Afro-Brasileira - SPÂngelo Bucci

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PMDB - RSEdson Mahfuz

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sarah-macapa

João Filgueiras Lima

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