{"id":1468,"date":"2009-01-19T00:47:30","date_gmt":"2009-01-19T02:47:30","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=1468"},"modified":"2009-03-01T12:07:47","modified_gmt":"2009-03-01T15:07:47","slug":"deixar-de-pensar-no-estilo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/01\/19\/deixar-de-pensar-no-estilo\/","title":{"rendered":"Deixar de pensar no estilo"},"content":{"rendered":"
\n

Considera\u00e7\u00f5es sobre o of\u00edcio da arquitetura no Brasil<\/h3>\n

<\/a>\"Pia<\/a><\/p>\n

Danilo Matoso Macedo<\/p>\n<\/div>\n


\n
[1]<\/a><\/p>\n

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Para que a nossa arquitetura tenha seu cunho original, como o tem as nossas m\u00e1quinas, o arquiteto moderno deve n\u00e3o somente deixar de copiar os velhos estilos, como tamb\u00e9m deixar de pensar no estilo<\/strong>. O car\u00e1ter da nossa arquitetura, como das outras artes, n\u00e3o pode ser propriamente em estilo para n\u00f3s, os contempor\u00e2neos, mas sim para as gera\u00e7\u00f5es que nos suceder\u00e3o. A nossa arquitetura deve ser apenas racional, deve basear-se apenas na l\u00f3gica e esta l\u00f3gica devemos op\u00f4-la aos que est\u00e3o procurando por for\u00e7a imitar na constru\u00e7\u00e3o algum estilo.<\/p>\n<\/blockquote>\n

Gregori Warchavchik[2]<\/a><\/p>\n

a ilus\u00e3o da arquitetura sem estilo<\/em><\/h3>\n

Pode-se dizer que h\u00e1 cem anos almejou-se p\u00f4r fim \u00e0 rela\u00e7\u00e3o de depend\u00eancia que a arquitetura tinha para com os estilos art\u00edsticos e para com os sistemas simb\u00f3licos deles derivados. Dentre todas as tentativas daqueles grupos mais ou menos articulados no ocidente talvez nenhuma tenha fracassado t\u00e3o retumbantemente quanto esta, enunciada em praticamente todos os manifestos de ent\u00e3o considerados modernos<\/em>. De fato, n\u00e3o apenas persistiram os estilos hist\u00f3ricos, como outros estilos foram criados a despeito e, sobretudo, a partir da pr\u00e1tica daqueles arquitetos. Em que pese a queixa de Anatole Kopp,[3]<\/a> a Arquitetura Moderna nunca deixou de tratar dos estilos: ao contr\u00e1rio, refor\u00e7ou neles o foco do discurso arquitet\u00f4nico.<\/p>\n

Mais que criar um novo estilo, no Brasil, o discurso moderno esteve fortemente ligado \u00e0 legitimidade da pr\u00e1tica profissional – “no nosso caso, da d\u00e9cada de quarenta em diante – <\/em>Arquitetura \u00e9 <\/em>Arquitetura Moderna. Se n\u00e3o \u00e9 <\/em>Arquitetura Moderna n\u00e3o \u00e9 <\/em>Arquitetura, <\/em>tout court.”[4]<\/a> N\u00e3o bastasse a hegemonia do estilo moderno no Brasil, seu questionamento, a partir da d\u00e9cada de 1960, exacerbou justamente os aspectos relacionados \u00e0s fei\u00e7\u00f5es externas das constru\u00e7\u00f5es. Parecia n\u00e3o haver escapat\u00f3ria: a pr\u00e1tica de Arquitetura Moderna ou P\u00f3s-moderna era simplesmente uma quest\u00e3o de estilo.<\/p>\n

\"Grande<\/a>

Grande Hotel Arax\u00e1 (Luiz Signorelli, 1936), Fonte Andrade J\u00fanior (Francisco Bolonha, 1945), Paisagismo de Roberto Burle-Marx. Foto: Danilo Matoso<\/p><\/div>\n

At\u00e9 hoje, as publica\u00e7\u00f5es de arquitetura concentram-se neste aspecto. E defendem-no os arquitetos com unhas e dentes em encarni\u00e7adas disputas intelectuais – nos semin\u00e1rios acad\u00eamicos – e profissionais – nos concursos de arquitetura. Discute-se, nas obras, o minimalismo, <\/em>o modernismo<\/em>, o p\u00f3s-modernismo <\/em>e qualquer novo “ismo”<\/em> que vier a surgir – quanto maior a aproxima\u00e7\u00e3o entre r\u00e9plica<\/em> e prot\u00f3tipo<\/em> estil\u00edstico, melhor. Este argumento pode ser facilmente verificado em qualquer revista de arquitetura com mais de vinte anos de idade: veremos a sucess\u00e3o do historicismo, do deconstrutivismo, do minimalismo, culminando hoje no pseudo-futurismo<\/em>[5]<\/a>, no neo-modernismo<\/em> holand\u00eas<\/em>[6]<\/a> – ainda carentes de denomina\u00e7\u00e3o. Sabe-se, certamente, que n\u00e3o se ver\u00e1 hoje uma casa de Michael Graves na revista espanhola AV: o estilo p\u00f3s-moderno saiu de moda.<\/p>\n

Sabemos, entretanto, que a constru\u00e7\u00e3o envolve mais que estilo. Envolve todas as quest\u00f5es de que se ouve falar desde o primeiro ano no curso de arquitetura, mas que s\u00e3o relegadas a segundo plano ao longo da carreira profissional pela maioria de n\u00f3s: custo, processo de contrata\u00e7\u00e3o do arquiteto, dos demais projetistas e do construtor, tempo de obra, t\u00e9cnicas construtivas, compatibilidade e durabilidade dos materiais etc.<\/p>\n

No campo da constru\u00e7\u00e3o, a arquitetura \u00e9 demandada sobretudo quanto \u00e0 integridade <\/strong>e durabilidade<\/strong> dos objetos propostos. A integridade, em oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 tend\u00eancia dos materiais \u00e0 desagrega\u00e7\u00e3o, \u00e9 um dos bodes expiat\u00f3rios das vanguardas do s\u00e9culo XX. A luta das vanguardas contra a integridade tradicional dos edif\u00edcios – associada aos historicismos – culminou na paradoxal associa\u00e7\u00e3o, recentemente promovida no m\u00e9tier<\/em>, entre falta de integridade e boa arquitetura[7]<\/a>. Arquitetura envolve ainda durabilidade. E durabilidade nos exige pensar al\u00e9m da \u00faltima moda, al\u00e9m dos estilos passageiros, afinal o edif\u00edcio vai durar mais que eles. A durabilidade cont\u00e9m, em si, dois outros importantes fatores derivados: a economia de recursos para reforma e manuten\u00e7\u00e3o, e a adaptabilidade do edif\u00edcio a diversos usos.[8]<\/a> S\u00e3o crit\u00e9rios objetivos de concep\u00e7\u00e3o e an\u00e1lise de projeto que raramente v\u00eam \u00e0 tona no discurso arquitet\u00f4nico, e aos quais, ao fim e ao cabo, todo estilo presta contas.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 d\u00favidas de que, n\u00e3o apenas a arquitetura ainda \u00e9 pensada em termos de estilo, como tamb\u00e9m esta \u00e9 a discuss\u00e3o majorit\u00e1ria em nosso campo. \u00c9 a discuss\u00e3o de estilo que subjetiviza todo e qualquer ju\u00edzo de valor acerca de uma obra. E, se por um lado ela tem gerado a exalta\u00e7\u00e3o de profissionais e edifica\u00e7\u00f5es de m\u00e9rito duvidoso, por outro lado \u00e9 o que assegura ao campo arquitet\u00f4nico sua reserva de mercado. O estilo est\u00e1 no cerne do capital simb\u00f3lico<\/em>[9]<\/a> que acaba por resguardar o lugar social dos profissionais. Pode-se facilmente constatar este fato na arrog\u00e2ncia de qualquer estudante de arquitetura de primeiro ano, que acredita serem aqueles dois semestres de estudo, no campo da hist\u00f3ria da arte, suficientes para garantir-lhe compet\u00eancia e capacidade de discernimento superiores aos de qualquer engenheiro com cinq\u00fcenta anos de of\u00edcio. No Brasil, entretanto, os efeitos desta exclus\u00e3o sistem\u00e1tica dos demais temas s\u00e3o mais perversos.<\/p>\n

rebeldes sem causa<\/h3>\n

Ocorre que, na Europa, Estados Unidos, Canad\u00e1, e mesmo no Chile, Argentina ou Uruguai[10]<\/a>, a arquitetura \u00e9 profiss\u00e3o bastante regulamentada – e as cidades s\u00e3o melhor constru\u00eddas, diga-se de passagem. A regulamenta\u00e7\u00e3o significa, principalmente, que naqueles pa\u00edses a pr\u00e1tica de arquitetura segue diversos padr\u00f5es normativos expressos tanto na legisla\u00e7\u00e3o quanto nas normas t\u00e9cnicas elaboradas pela pr\u00f3pria corpora\u00e7\u00e3o. Significa ainda que um arquiteto com trinta anos de experi\u00eancia n\u00e3o possui a mesma habilita\u00e7\u00e3o profissional que um rec\u00e9m-formado, coisa que ocorre no Brasil – onde ambos est\u00e3o habilitados legalmente a assinar o projeto de um aeroporto internacional. Aqui, ao ouvir falar de normas, alguns colegas gabam-se de desconhec\u00ea-las. Afinal, um artista n\u00e3o conhece normas: tem coisas mais importantes de que se ocupar – como a fei\u00e7\u00e3o minimalista, colonial, deconstrutivista ou holandesa <\/em>de seu projeto. Se nos pa\u00edses mencionados o arquiteto orgulha-se de assumir para si a responsabilidade do projeto – e por isso cerca-se das normas, das leis e dos seguros profissionais -, no Brasil os arquitetos orgulham-se em n\u00e3o assumir responsabilidade alguma. N\u00e3o nos responsabilizamos pela constru\u00e7\u00e3o nem pela efici\u00eancia, pela integridade ou durabilidade do artefato entregue e, consequentemente, negligenciamos as gera\u00e7\u00f5es do futuro obrigadas, enfim, a lidar com pal\u00e1cios de papel <\/em>e com as cidades ca\u00f3ticas que legamos.<\/p>\n

As normas – a pr\u00f3pria base do Estado Democr\u00e1tico de Direito, o cerne do contrato social -, que permitiriam uma conven\u00e7\u00e3o<\/em> profissional: s\u00e3o elas as grandes negligenciadas pela arquitetura nacional.[11]<\/a> Conta-se nos dedos das m\u00e3os as normas da ABNT diretamente ligadas \u00e0 arquitetura.[12]<\/a> Basta dizer que at\u00e9 hoje n\u00e3o possu\u00edmos sequer uma norma de Projeto Executivo e compatibiliza\u00e7\u00e3o de projetos, e que o grande manual de medidas e padr\u00f5es usado em escrit\u00f3rios brasileiros – o Neufert <\/em>[13]<\/a>–\u00a0 foi feito na Alemanha h\u00e1 mais de sessenta anos.<\/p>\n

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\"Alojamentos<\/a>

Alojamentos da UnB feitos usando sistema padronizado de constru\u00e7\u00e3o (S\u00e9rgio Rodrigues, 1962). Foto - Danilo Matoso<\/p><\/div>\n

No Brasil n\u00e3o h\u00e1 padroniza\u00e7\u00e3o de materiais, de medidas, de metodologia de projeto ou de sistemas construtivos. N\u00e3o h\u00e1 padr\u00f5es organizacionais para os escrit\u00f3rios de arquitetura, improvisados em ateli\u00eas semi-dom\u00e9sticos, e n\u00e3o h\u00e1 padr\u00f5es s\u00e9rios de contrata\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os de arquitetura – onde os pr\u00f3prios arquitetos trabalham ilegalmente. Os par\u00e2metros de desempenho t\u00e9cnico restringem-se aos mirrados c\u00f3digos de edifica\u00e7\u00f5es – a maioria elaborada por engenheiros h\u00e1 pouco menos de cem anos – determinando cones de ilumina\u00e7\u00e3o, tamanho m\u00ednimo de aberturas e de c\u00f4modos. H\u00e1 poucos e louv\u00e1veis estudos objetivos em nosso pa\u00eds sobre o custo das decis\u00f5es arquitet\u00f4nicas<\/em>[14]<\/a> <\/em>. Os aspectos est\u00e9ticos, formais, simb\u00f3licos e sobretudo estil\u00edsticos<\/strong> dos edif\u00edcios s\u00e3o, entretanto, pisados e repisados em publica\u00e7\u00f5es, semin\u00e1rios, bienais, e nos cursos de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Evidentemente, a preval\u00eancia deste tipo de abordagem estil\u00edstica em nosso meio deve-se \u00e0s vantagens simb\u00f3licas de dominar este tipo de discurso – mesmo que apenas intu\u00eddas por alguns dos nossos inadvertidos colegas. Quanto mais m\u00e1gica<\/em> e inexplicavelmente irracional uma decis\u00e3o de projeto se torna, maior a fatia do mercado reservada pelo seu hermetismo.<\/p>\n

H\u00e1, entretanto, um mercado restrito para esta pr\u00e1tica, na qual a simples presen\u00e7a do arquiteto torna um objeto magicamente <\/em>significativo: \u00e9 o mercado das pessoas de poder e gosto<\/em>[15]<\/a>. A consequ\u00eancia deste afunilamento \u00e9 a restri\u00e7\u00e3o das demandas deste grupo \u00e0queles que, originalmente, j\u00e1 pertencem a ele: os pr\u00f3prios arquitetos de poder e gosto<\/em>. Que fique claro: a arquitetura no Brasil – e na maior parte do mundo – \u00e9 atividade reservada aos provenientes de fam\u00edlias ricas, poderosas ou tradicionais – n\u00e3o necessariamente nesta ordem. E, evidentemente, h\u00e1 exce\u00e7\u00f5es que confirmam a regra. Um breve estudo da biografia de nossos \u00eddolos maiores – os arquitetos da chamada Escola Carioca<\/em>[16]<\/a>, mostrar\u00e1 que, mesmo em se tratando de comunistas, alguns s\u00e3o mais iguais que outros.<\/em><\/p>\n

\u00c9 de se suspeitar que, no cerne de nossa alma colonizada, aqueles que det\u00eam maior poder e gosto s\u00e3o os estrangeiros – preferivelmente os europeus. Da\u00ed o modo acr\u00edtico com que abrimos avidamente as revistas e livros de nossos colegas do hemisf\u00e9rio norte. Da\u00ed o modo submisso com que dedicamos nossas pesquisas \u00e0s dores e penas que afligem os arquitetos norte-americanos ou ingleses, deixando praticamente desconhecidos e abandonados os arquitetos e edif\u00edcios que fizeram e fazem as cidades brasileiras.<\/p>\n

Os arquitetos europeus e norte-americanos preocupam-se com estilo<\/em>, hoje, por n\u00e3o haver assunto melhor de que tratar: a profiss\u00e3o em seus pa\u00edses est\u00e1 reconhecida e normatizada, a ind\u00fastria oferece diversos novos materiais com garantia de execu\u00e7\u00e3o; as cidades possuem infra-estrutura urbana, transporte e teto para todos. Para um arquiteto americano, submeter-se \u00e0s normas e conven\u00e7\u00f5es \u00e9 condi\u00e7\u00e3o para o exerc\u00edcio profissional, e a fuga das normas \u00e9 um saud\u00e1vel exerc\u00edcio de inven\u00e7\u00e3o<\/em> e rebeldia. E, ao copiar-lhe a atitude, o arquiteto brasileiro torna-se apenas um rebel without a cause…<\/em><\/p>\n

construindo barato<\/h3>\n

Mas n\u00e3o apenas o processo de produ\u00e7\u00e3o \u00e9 diferente. Os objetos, aqui e l\u00e1, tamb\u00e9m s\u00e3o diversos entre si. A inclem\u00eancia de seus invernos levou os europeus e norte-americanos a construir paredes e janelas que s\u00e3o verdadeiras m\u00e1quinas <\/em>de isolamento entre ambientes interno e externo. S\u00e3o m\u00e1quinas<\/em> cujo desempenho depende da qualidade dos acabamentos, das solu\u00e7\u00f5es de encaixe etc. E se uma m\u00e1quina <\/em>falha, a responsabilidade pelos danos causados \u00e9 do arquiteto. Aqueles que j\u00e1 tiveram contato com a pr\u00e1tica de arquitetura nos Estados Unidos, por exemplo, sabem do valor que o profissional prancheteiro<\/em> norte-americano d\u00e1 a uma wall-section<\/em>: o \u00e2mago de sua solu\u00e7\u00e3o e de sua profiss\u00e3o. Por isso, o processo construtivo nesses pa\u00edses \u00e9 substancialmente mais caro e elaborado que no Brasil. Em nosso pa\u00eds, o clima ameno permite solu\u00e7\u00f5es construtivas simples, pouco estanques e pouco elaboradas. Nos tr\u00f3picos, para usar a figura lembrada por Angelo Bucci em suas palestras: se algu\u00e9m dormir na pra\u00e7a, n\u00e3o morre de frio<\/em>. Faz sentido, portanto, sermos menos criteriosos quanto \u00e0s veda\u00e7\u00f5es, quanto aos acabamentos, e quanto \u00e0 performance dos materiais no que tange ao isolamento e \u00e0 resist\u00eancia \u00e0s intemp\u00e9ries mais brandas[17]<\/a>. N\u00e3o se justifica, entretanto, o desleixo com que tratamos a qualidade construtiva em nosso pa\u00eds.<\/p>\n

S\u00e3o valores diametralmente distintos, os deles e os nossos, que n\u00e3o deveriam ser confundidos e misturados, como o s\u00e3o diariamente. S\u00e3o profissionais diferentes em sua inser\u00e7\u00e3o social, que produzem objetos diferentes para sociedades e lugares diferentes.<\/p>\n

\"Camadas<\/a>

Camadas constituintes das paredes externas da Funda\u00e7\u00e3o Iber\u00ea Camargo - Porto Alegre (\u00c1lvaro Siza, 1998). Foto: Danilo Matoso<\/p><\/div>\n

Dois exemplos recentes ilustram bem o exposto: a Cidade da M\u00fasica, no Rio de Janeiro – projeto do franc\u00eas Christian de Portzamparc e a Funda\u00e7\u00e3o Iber\u00ea Camargo, em Porto Alegre – projeto do portugu\u00eas \u00c1lvaro Siza. Ambas foram constru\u00eddas quase inteiramente com concreto – a segunda, com concreto branco (ou seja: com cimento, areia e brita brancos e com a\u00e7o galvanizado nas armaduras). Os peitoris desta foram feitos de m\u00e1rmore branco grego com espessura de cinco cent\u00edmetros. Todo o interior do edif\u00edcio foi revestido com\u00a0 estrutura met\u00e1lica e coberto com pain\u00e9is de gesso acartonado, dentro dos quais corre uma serpentina que auxilia no controle de temperatura. Evidentemente, o resultado \u00e9 impressionante. Como tamb\u00e9m o \u00e9 o da an\u00e1loga Cidade da M\u00fasica (constru\u00edda por dez vezes o custo normal do metro quadrado vigente no pa\u00eds). Nem a Oscar Niemeyer ou a Paulo Mendes da Rocha – nossos dois Pritzker<\/em> – teria sido dada tamanha liberdade or\u00e7ament\u00e1ria. \u00c9 claro: o maior capital simb\u00f3lico<\/em>, para n\u00f3s, ainda \u00e9 o dos estrangeiros.<\/p>\n

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\"Casa<\/a>

Casa de Cora Coralina na cidade de Goi\u00e1s Velho (s\u00e9culo XVIII). Foto - Danilo Matoso<\/p><\/div>\n

Nossa boca est\u00e1 torta pelo cachimbo da pobreza e – mesmo sendo um pa\u00eds rico – somente sabemos projetar e construir mal. Nossos pr\u00e9dios necessitam de reformas significativas com menos de dez anos de vida: os revestimentos de fachadas despencam, a impermeabiliza\u00e7\u00e3o invariavelmente vaza, as portas e janelas emperram, as telhas voam com o vento… \u00c9 poss\u00edvel, por\u00e9m, atribuir qualidade construtiva a objetos de pouco valor diretamente agregado. Foi esta a fa\u00e7anha da arquitetura urbana do Brasil colonial, por exemplo, que inspirou os melhores dos nossos modernos. N\u00e3o seria poss\u00edvel, portanto, uma arquitetura de qualidade pensada segundo nossos pr\u00f3prios par\u00e2metros construtivos?<\/p>\n

Se os exemplos em apre\u00e7o nos ensinam algo, \u00e9 que carece totalmente de sentido acreditarmos realmente que o que se publica em revistas internacionais – e consequentemente em revistas nacionais – pode ser transposto diretamente para nossa realidade. Repetimos: s\u00e3o problemas diferentes de profissionais diferentes, em profiss\u00f5es diferentes, num contexto material o mais diverso poss\u00edvel.<\/p>\n

campo profissional e sociedade<\/h3>\n

O ciclo do auto-engano tem in\u00edcio cedo. Normalmente, o estudante de arquitetura m\u00e9dio j\u00e1 entra na faculdade acreditando que, se tiver a chance, ser\u00e1 o novo Niemeyer<\/em>: que ser\u00e1 capaz de comover a todos com seu talento e com a for\u00e7a de sua arquitetura, e que construir\u00e1 os monumentos de sua gera\u00e7\u00e3o – a quest\u00e3o de estilo \u00e9 tamb\u00e9m uma quest\u00e3o de \u00e9tica pessoal[18]<\/a>. Em seguida vem a primeira doutrina\u00e7\u00e3o: o estudo de hist\u00f3ria da arte como base para a hist\u00f3ria da arquitetura. Esta \u00faltima, evidentemente, ensinada como hist\u00f3ria dos estilos.<\/em> A miss\u00e3o do jovem arquiteto? Descobrir o estilo verdadeiro correspondente \u00e0 sua \u00e9poca [19]<\/a>. Via de regra, tal \u00e9 a meta de nossos colegas. Da\u00ed a sede pelo original<\/em>, pelo novo –<\/em> com a vantagem de ser menos trabalhoso que buscar seu pr\u00f3prio zeitgeist <\/em>estudando hist\u00f3ria e propor\u00e7\u00f5es cl\u00e1ssicas (m\u00e9rito e esfor\u00e7o de alguns arquitetos das d\u00e9cadas de 1970 e 1980).<\/p>\n

N\u00e3o mencionamos nossas escolas e estudantes ao acaso. A diferencia\u00e7\u00e3o m\u00edtica <\/em>entre inventor <\/em>e construtor<\/em><\/p>\n

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tem origem justamente no surgimento do ensino institucional, como preconizado na Academie Royale d’Architecture, criada por Colbert em 1671. Voltado para a forma\u00e7\u00e3o dos architectes du roi<\/em> – aqueles indiv\u00edduos encarregados do projeto e execu\u00e7\u00e3o das obras p\u00fablicas do reino de Lu\u00eds 14 – e eivado por uma doutrina neoplat\u00f4nica, esse ensino iria contribuir para a dissimula\u00e7\u00e3o da import\u00e2ncia dos aspectos pr\u00e1ticos da constru\u00e7\u00e3o, enfatizando mais o car\u00e1ter est\u00e9tico e formal das obras de arquitetura, deixando impl\u00edcita sua concep\u00e7\u00e3o da profiss\u00e3o.[20]<\/a><\/p>\n<\/blockquote>\n

Da chegada da Miss\u00e3o <\/em>Francesa ao Brasil, e com ela a concep\u00e7\u00e3o da Arquitetura Brasileira<\/em> como exerc\u00edcio de estilo, j\u00e1 se passaram quase dois s\u00e9culos. E at\u00e9 hoje a poucos ocorre que a quest\u00e3o aqui \u00e9 anterior. N\u00e3o percebemos que, antes de nos preocuparmos com estilo, dever\u00edamos preocupar-nos com atender \u00e0 sociedade a que pertencemos. Em lugar de acotovelarmo-nos tentando construir uns poucos monumentos, edif\u00edcios comerciais e casas de elite, dever\u00edamos tentar padronizar e simplificar m\u00e9todos de projeto e constru\u00e7\u00e3o, de modo objetivo e duradouro. Profissionais carentes de capital simb\u00f3lico internacional<\/em> – a maioria de n\u00f3s – teriam assim instrumental t\u00e9cnico para atender \u00e0s comunidades de classe m\u00e9dia e classe baixa – a que muitos pertencemos. S\u00e3o as regras, as normas simples, da boa t\u00e9cnica <\/em>de projetar e construir que servem \u00e0s demandas dessas pessoas.<\/p>\n

J\u00e1 apontamos, em outro texto[21]<\/a>, que basta um passeio pelo Google Earth<\/em> para constatar que no m\u00ednimo 70% de nossas cidades foram constru\u00eddas na ilegalidade, sem assist\u00eancia t\u00e9cnica alguma de engenheiro ou arquiteto. A estat\u00edstica que intu\u00edmos foi confirmada em reportagem veiculada recentemente na televis\u00e3o sobre materiais de constru\u00e7\u00e3o[22]<\/a>, mostrando que “23% dos produtos v\u00e3o para grandes obras e 77% para as pequenas constru\u00e7\u00f5es e reformas”.<\/em> As grandes obras<\/em>, n\u00e3o devem ser confundidas com os Grands Travaux<\/em>: s\u00e3o simplesmente aquelas obras feitas por construtoras que contratam arquitetos, e para quem estes aprendem a trabalhar, como veremos adiante.<\/p>\n

Aquele cliente m\u00e9dio<\/em>, respons\u00e1vel pela constru\u00e7\u00e3o efetiva de nossas cidades, nos prop\u00f5e um desafio muito simples: ajud\u00e1-lo a planejar e a construir sua edifica\u00e7\u00e3o. Para tanto, o profissional adequado \u00e9 aquele que projeta, or\u00e7a a obra e, preferivelmente, constr\u00f3i a edifica\u00e7\u00e3o. Aquele que se limita ao desenho arquitet\u00f4nico for\u00e7a o cliente a contratar mais m\u00e3o-de-obra, a resolver mais problemas – normalmente inventados por ele mesmo – e a consumir mais recursos. De fato, a legisla\u00e7\u00e3o brasileira[23]<\/a> permite ao arquiteto realizar o c\u00e1lculo estrutural e os demais projetos complementares da maioria absoluta das tipologias edil\u00edcias que constituem nossas cidades. E poder\u00edamos faz\u00ea-lo: realmente poder\u00edamos assumir para n\u00f3s essa responsabilidade. Deparamo-nos, entretanto, com dois problemas bastante dif\u00edceis de contornar.<\/p>\n

O primeiro \u00e9 nossa forma\u00e7\u00e3o deficiente e nossa simples desqualifica\u00e7\u00e3o para projetar e construir a \u00edntegra de uma edifica\u00e7\u00e3o – embora tenhamos habilita\u00e7\u00e3o legal para faz\u00ea-lo: as mat\u00e9rias ditas t\u00e9cnicas <\/em>est\u00e3o sendo gradualmente extintas dos cursos de arquitetura; as cadeiras de projeto, por sua vez, deveriam chamar-se cadeiras de anteprojeto, pois n\u00e3o costumam ir al\u00e9m dessa fase de desenvolvimento que – todo arquiteto sabe – n\u00e3o ocupa mais que 5% do trabalho e esfor\u00e7o destinado \u00e0 elabora\u00e7\u00e3o de um projeto completo de uma edifica\u00e7\u00e3o. As cadeiras de anteprojeto<\/em> – adotemos a pecha – ensinam o arquiteto a enganar-se a si mesmo e a acreditar realmente que aqueles valores estil\u00edsticos ali elencados s\u00e3o relevantes para a cidade e a popula\u00e7\u00e3o. Afinal, enganando a si mesmo fica mais f\u00e1cil enganar aos demais – \u00e9 o capital corporificado<\/em>[24]<\/a> que auxilia na constru\u00e7\u00e3o da id\u00e9ia de magia<\/em> e intangibilidade nos valores da profiss\u00e3o. Acresce que, mesmo quando aprendem a desenvolver projetos e detalh\u00e1-los, os estudantes s\u00e3o treinados para projetar dentro de um sistema produtivo relacionado a grandes edif\u00edcios – onde o arquiteto \u00e9 respons\u00e1vel apenas pelo projeto arquitet\u00f4nico, deixando as instala\u00e7\u00f5es, a estrutura e, \u00e9 claro, a constru\u00e7\u00e3o, a cargo de terceiros. Quando este sistema \u00e9 transposto do mundo acad\u00eamico para a realidade do jovem arquiteto, h\u00e1 um conflito. O Brasil \u00e9 carente de um sistema coeso de grandes escrit\u00f3rios – supostamente, os que s\u00e3o encarregados das grandes obras – onde aquele conhecimento restrito e segmentado \u00e9 \u00fatil. A regra, portanto, \u00e9 que o jovem arquiteto abra seu pr\u00f3prio escrit\u00f3rio com outros colegas, onde se dedicar\u00e1 a pequenos projetos residenciais e de reformas – os 77%. Carente de instru\u00e7\u00e3o, o arquiteto aplicar\u00e1 os m\u00e9todos de projeto descentralizados que aprendeu – envolvendo v\u00e1rios profissionais – a objetos pequenos, levando ao cliente a necessidade de contratar engenheiros para realizar o trabalho que poderia ser executado integralmente, com mais economia, celeridade e compet\u00eancia, pelo pr\u00f3prio arquiteto. De fato, h\u00e1 aqui um conflito entre o sistema de cren\u00e7as que norteia e legitima a atua\u00e7\u00e3o profissional do arquiteto e a pr\u00e1tica cotidiana de trabalho, determinada pelas condi\u00e7\u00f5es de mercado<\/em>.[25]<\/a><\/p>\n

O segundo problema, relacionado ao primeiro, diz respeito justamente ao lugar social do construtor – hoje inferior ao do artista\/projetista. Afinal, a maioria de n\u00f3s, sen\u00e3o todos, gostaria de atingir o mais elevado status social poss\u00edvel. Portanto, n\u00e3o seria um bom conselho ao arquiteto m\u00e9dio de hoje incentiv\u00e1-lo ao dom\u00ednio total do processo de produ\u00e7\u00e3o das edifica\u00e7\u00f5es. Certamente, \u00e9 mais atraente a ilus\u00e3o de que se trabalha com inven\u00e7\u00f5es<\/em>, em lugar das conven\u00e7\u00f5es <\/em>implicadas por uma pr\u00e1tica padronizada.[26]<\/a> Ilus\u00e3o porque n\u00e3o h\u00e1 nada mais convencional que os processos culturais de inova\u00e7\u00e3o e de modas. Arquitetos fora destas conven\u00e7\u00f5es da inven\u00e7\u00e3o<\/em>, por assim dizer, – todas ligadas ao estilo – n\u00e3o conseguem publicar projetos nem vencer concursos. \u00c9 imposs\u00edvel hoje em dia publicar, em revistas como a AU ou a Projeto, uma resid\u00eancia neocolonial – por exemplo. J\u00e1 nas revistas que a popula\u00e7\u00e3o compra, a hist\u00f3ria \u00e9 bastante diferente, todos sabemos.<\/p>\n

pensamento, t\u00e9cnica e conhecimento arquitet\u00f4nico<\/h3>\n

Costuma-se objetar a nosso ponto de vista qualificando-o de tecnicista<\/em>, ou de burocr\u00e1tico<\/em>. Argumenta-se que, com tantas regras e normas, n\u00e3o se ensinaria os alunos a pensar. \u00c9 evidente que o conceito de pensamento<\/em> desses cr\u00edticos \u00e9 bastante restrito. Acreditam eles, realmente, que a reflex\u00e3o s\u00f3 tem lugar na forma de texto e no seio da escrita filos\u00f3fica. Todo aquele com alguma experi\u00eancia de projeto e constru\u00e7\u00e3o sabe das dificuldades conceituais que envolvem o dia-a-dia do of\u00edcio, das centenas de pequenas e grandes decis\u00f5es que devemos tomar para desenvolver uma constru\u00e7\u00e3o. S\u00e3o as pesquisas materiais e as reflex\u00f5es sobre as aptid\u00f5es entre elas que permitem ao arquiteto conciliar num mesmo lugar v\u00e1rios componentes, e transform\u00e1-los em espa\u00e7o constru\u00eddo. N\u00e3o h\u00e1 porque qualific\u00e1-las num patamar inferior ao agrupamento de palavras para escrever um artigo te\u00f3rico. S\u00e3o, por exemplo, quest\u00f5es de compatibiliza\u00e7\u00e3o entre dimens\u00f5es, de afinidade entre materiais, de sua resist\u00eancia, do encaixe de uma esquadria para que a \u00e1gua n\u00e3o escorra para dentro do edif\u00edcio, de uma simples e corriqueira solu\u00e7\u00e3o de sanit\u00e1rios p\u00fablicos que n\u00e3o cause constrangimento aos usu\u00e1rios. Tudo isso \u00e9 mat\u00e9ria pass\u00edvel de constru\u00e7\u00e3o cultural, de teoriza\u00e7\u00e3o, aprofundamento, e normaliza\u00e7\u00e3o – como se faria com a pr\u00e1tica em qualquer outra profiss\u00e3o.<\/p>\n

Mas para o arquiteto s\u00f3 existem a hist\u00f3ria dos estilos e as teorias que as legitimam. Aqueles temas “pragm\u00e1ticos” s\u00e3o comumente relegados a segundo plano em pesquisas acad\u00eamicas e mesmo nas publica\u00e7\u00f5es especializadas em projeto, onde habitam em suplementos t\u00e9cnicos – impressos em papel-jornal – e junto \u00e0 publicidade de materiais.<\/p>\n

E mesmo dentro da hist\u00f3ria dos estilos, \u00e9 not\u00e1vel a incompet\u00eancia de nosso campo para construir uma historiografia real e objetiva de nossas pr\u00f3prias cidades. Conforme j\u00e1 apontamos, os arquitetos e obras nacionais s\u00e3o solenemente ignorados na maioria das pesquisas de fundo hist\u00f3rico. Estas subordinam toda a nossa evolu\u00e7\u00e3o a movimentos e estilos estrangeiros, sem tomar conhecimento de sua realidade mais pr\u00f3xima. A pouca hist\u00f3ria da arquitetura do s\u00e9culo XX que constru\u00edmos, por exemplo, insiste em que os estilos neocolonial<\/em>, e Art-D\u00e9co<\/em> foram prepara\u00e7\u00f5es para o moderno (falam at\u00e9 em proto-moderno<\/em>), e que j\u00e1 se extinguiram, segundo a ordem natural<\/em> das coisas. Um passeio por qualquer bairro de classe alta prova que os estilos hist\u00f3ricos continuam bem requisitados e constru\u00eddos – em casas e edif\u00edcios inteiros residenciais. Entretanto, carentes de historiografia<\/em> oficial <\/em>e de an\u00e1lise cr\u00edtica[27]<\/a>, cada vez mais decaem em qualidade construtiva e conceitual. Aquele que optar pelo uso de um capitel, por exemplo, dever\u00e1 adquirir pr\u00e9-fabricados de gesso totalmente desvinculados dos modelos originais e carentes de integridade material. Evidentemente: usar capitel hoje em dia n\u00e3o \u00e9 tarefa para arquiteto. O arquiteto, esse sim, far\u00e1 um tremendo esfor\u00e7o para executar um rodap\u00e9 embutido, um pano de vidro – para depois recobri-lo com brises<\/em> -, uma parede fora do esquadro ou qualquer outro elemento dos estilos moderno ou deconstrutivista. “Era a solu\u00e7\u00e3o natural que a t\u00e9cnica sugeria<\/em>…” – ressoa o conhecido mantra<\/em>…<\/p>\n

N\u00e3o queremos, com isso, atacar nossa arquitetura moderna ou diminuir suas conquistas. Ao contr\u00e1rio: sugerimos aqui que a produ\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica de nosso pa\u00eds seja estudada segundo seus pr\u00f3prios valores, constru\u00eddos sobre sua pr\u00f3pria hist\u00f3ria material. A partir desta abordagem de sentido amplo, a ado\u00e7\u00e3o de cada estilo passa a ser simplesmente uma quest\u00e3o de h\u00e1bito, de of\u00edcio, passado de gera\u00e7\u00e3o em gera\u00e7\u00e3o. Como bem nos lembra \u00c1lvaro Puntoni: n\u00e3o abdicar de uma intelig\u00eancia constru\u00edda talvez seja o ponto de partida para o estabelecimento de um poss\u00edvel e desej\u00e1vel denominador comum na Arquitetura Contempor\u00e2nea Brasileira<\/em>.[28]<\/a> Se um arquiteto aprende a projetar e construir bem em determinado estilo, ou modo, \u00e9 mais produtivo que suas inven\u00e7\u00f5es ocorram no seio daquela linguagem. Afinal, fazer experimentalismo com bens alheios \u00e9, no m\u00ednimo, inconveniente. Convido a todo aquele que suspeitar de alguma mesmice <\/em>excessiva derivada da hegemonia de alguma escola arquitet\u00f4nica[29]<\/a> a visitar um sub\u00farbio metropolitano e constatar que, certamente, a monotonia do que se v\u00ea nas revistas n\u00e3o poder\u00e1 ser encontrada nas ruas – palco natural da pluralidade.<\/p>\n

rumo \u00e0 maioridade<\/h3>\n
\"Andaimes<\/a>

Andaimes para execu\u00e7\u00e3o de forro durante as obras do Museu da Rep\u00fablica - Brasilia (Oscar Niemeyer, 1999). Foto: Danilo Matoso<\/p><\/div>\n

Somos um pa\u00eds com diversidade de pensamento e riqueza suficiente para p\u00f4r fim a este complexo de inferioridade colonizado, que nos coloca sempre em condi\u00e7\u00e3o de depend\u00eancia conceitual para com os arquitetos estrangeiros.[30]<\/a> Dentre os muitos legados de Oscar Niemeyer \u00e0 arquitetura nacional, talvez o mais relevante seja a demonstra\u00e7\u00e3o de que n\u00e3o devemos e n\u00e3o precisamos nos colocar em condi\u00e7\u00e3o de inferioridade em rela\u00e7\u00e3o aos mestres europeus ou norte-americanos. Ao contr\u00e1rio: devemos criar os valores e as condi\u00e7\u00f5es culturais pr\u00f3prios para reconhecer e apreciar nossos mestres tamb\u00e9m e, sem xenofobia, aprendermos a dialogar em p\u00e9 de igualdade com a cultura arquitet\u00f4nica global. Para isso, antes de tudo, \u00e9 necess\u00e1ria a produ\u00e7\u00e3o de conhecimento a partir do que a sociedade espera de n\u00f3s: que saibamos construir nossas pr\u00f3prias moradas.<\/p>\n

Nesse sentido, e a modo de encerramento, conv\u00e9m apontar alguns fatores que podem ser decisivos para uma mudan\u00e7a radical de pensamento pela comunidade de arquitetos – projetistas e pesquisadores.<\/p>\n

No campo da pr\u00e1tica profissional, as oportunidades que se afiguram s\u00e3o \u00fanicas. A nova Lei de Assist\u00eancia T\u00e9cnica Gratuita[31]<\/a> enseja a forma\u00e7\u00e3o de profissionais com perfil diferenciado, capazes de atender \u00e0s demandas mais imediatas da popula\u00e7\u00e3o. Por sua vez, a iminente cria\u00e7\u00e3o do Conselho Federal de Arquitetura, sugere a possibilidade de se estabelecer uma nova e mais extensiva regulamenta\u00e7\u00e3o das atividades do arquiteto, favorecendo sua qualifica\u00e7\u00e3o como projetista e construtor plenos, e n\u00e3o apenas projetista de arquitetura. Vem ao encontro disso a explos\u00e3o de cursos de arquitetura no Brasil, tornando-o “um dos pa\u00edses com maior n\u00famero de arquitetos registrados<\/em>“, apresentando “o maior n\u00famero de escolas de arquitetura do mundo (…) o que significa que a quantidade de arquitetos tende a crescer ainda mais rapidamente.”<\/em>[32]<\/a>
\n<\/em><\/p>\n

No campo da pesquisa acad\u00eamica, as novas demandas do Minist\u00e9rio da Educa\u00e7\u00e3o quanto \u00e0 produ\u00e7\u00e3o dos pesquisadores nas Universidades tem levado a um aumento significativo no n\u00famero de semin\u00e1rios e publica\u00e7\u00f5es. Cabe agora por um fim \u00e0 repeti\u00e7\u00e3o do que se diz alhures e \u00e0 subordina\u00e7\u00e3o incondicional de nossa pr\u00e1tica \u00e0 estrangeira: cabe realizar levantamentos de campo, invent\u00e1rios, medi\u00e7\u00f5es, pesquisa em documenta\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria e outras atividades que lidem com a arquitetura a partir de fontes prim\u00e1rias, e n\u00e3o com publica\u00e7\u00f5es e textos alheios.<\/p>\n

\u00c9 preciso operar uma mudan\u00e7a nas expectativas que os arquitetos brasileiros t\u00eam de seu of\u00edcio, voltando-o para o atendimento de sua pr\u00f3pria sociedade, e n\u00e3o para a comunidade arquitet\u00f4nica internacional. Desta, esperam os aplausos. Mas s\u00f3 receber\u00e3o outros arquitetos – e \u00e1vidos por trabalho.<\/p>\n

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notas<\/h3>\n

[1]<\/a> Dedico este texto aos meus colegas de of\u00edcio – em todos os sentidos: Alexandre Brasil, Andr\u00e9 Prado, Bruno Santa Cec\u00edlia, Carlos Alberto Maciel, Fernando Maculan, Humberto Hermeto e Pedro Morais.<\/p>\n

[2]<\/a> WARCHAVCHIK, Gregori. Acerca da Arquitetura moderna<\/em> (1925). In BARDI, Pietro Maria. Warchavchik e as origens da arquitetura moderna no Brasil<\/em>. Sa\u0303o Paulo: Museu de Arte de S\u00e3o Paulo “Assis Chateaubriand”, 1971. \u00a0s\/n (grifo nosso)<\/p>\n

[3]<\/a> KOPP, Anatole. Quando o moderno n\u00e3o era um estilo e sim uma causa<\/em>. Nobel\/Edusp, 1990. \u00a0253p.<\/p>\n

[4]<\/a> FICHER. Sylvia. Reflex\u00f5es sobre o p\u00f3s-modernismo<\/a>.<\/em> MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>, Belo Horizonte, n.4, p.5. nov.2007. Entrevista a Danilo Matoso.<\/p>\n

[5]<\/a> Por pseudo-futurismo englobo a arquitetura que tenta criar alegorias aerodin\u00e2micas<\/em> de uma arquitetura “futura”: projetos do escrit\u00f3rio Future Systems, <\/em>de Zaha Hadid etc.<\/p>\n

[6]<\/a> Mecanoo, MVRDV e, \u00e9 claro, Rem Koolhaas.<\/p>\n

[7]<\/a> Veja-se as obras de Rem Koolhaas e a maioria dos seus seguidores, como MRVDV. Veja-se ainda o texto:\u00a0 KAPP. Silke. Contra a integridade<\/a>. MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>, Belo Horizonte, n.2, p.8-10. fev.2006.<\/p>\n

[8]<\/a> Ironicamente hoje em dia o discurso da sustentabilidade <\/em> em arquitetura poucas vezes passa pela durabilidade, mas sim pelo uso indiscriminado de m\u00e1quinas de “economia energ\u00e9tica” associadas a edif\u00edcios feitos com materiais carentes de gravitas<\/em> e, a rigor, perec\u00edveis – como os revestimentos de alum\u00ednio, vidro laminado e madeira: \u00e9 o greenwash <\/em>promovido pela arquitetura Echo-tech. <\/em>Veja-se, a este respeito: SOBREIRA, Fabiano. “Concursos e sustentabilidade: os riscos da onda verde<\/a>“. In Portal Concursos de Projeto.<\/em> 16 dez.2008. Dispon\u00edvel em: < www.concursosdeprojeto.org<\/a> >. Acesso em: 15 jan.2009.<\/p>\n

[9]<\/a> Termo bourdiano<\/em> conforme desenvolvido, para o campo arquitet\u00f4nico em STEVENS, Garry. O c\u00edrculo privilegiado<\/em>: fundamentos sociais da distin\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica. Traduzido por Lenise Garcia Barbosa. Arquitetura e Urbanismo. Bras\u00edlia: Unb, 2003. p.76-82<\/p>\n

[10]<\/a> Um bom indicador: na maioria destes pa\u00edses h\u00e1 exame de ordem para se exercer a profiss\u00e3o. No caso Norte-Americano, antes de prestar exame, s\u00e3o obrigat\u00f3rios dois anos de pr\u00e1tica supervisionada em escrit\u00f3rio credenciado (Cf. www.aia.org<\/a>) . O exame de ordem \u00e9 baseado exclusivamente nos conhecimentos t\u00e9cnicos de projeto e constru\u00e7\u00e3o. Cf. http:\/\/www.ncarb.org<\/a>.<\/p>\n

[11]<\/a> As ra\u00edzes do descaso brasileiro para com tudo o que diga respeito a normas, regulamenta\u00e7\u00f5es ou sentimento de coletividade v\u00e3o al\u00e9m das quest\u00f5es espec\u00edficas da arquitetura e j\u00e1 foram suficientemente exploradas h\u00e1 tempos em estudos sociol\u00f3gicos como o de S\u00e9rgio Buarque de Hollanda em Ra\u00edzes do Brasil<\/em>: Pouco importa aos nossos colonizadores que seja frouxa e insegura a disciplina fora daquilo em que os fresos podem melhor aproveitar, e imediatamente, aos seus interesses terrenos. Para isso tamb\u00e9m contribuiria uma avers\u00e3o cong\u00eanita a qualquer ordena\u00e7\u00e3o impessoal da exist\u00eancia”<\/em> in HOLLANDA, S\u00e9rgio Buarque de. Ra\u00edzes do Brasil<\/em>. Edi\u00e7\u00e3o Comemorativa – 70 anos. S\u00e3o Paulo: Companhia das Letras, 2006. \u00a0p.112.<\/p>\n

[12]<\/a> Talvez as \u00fanicas a regulamentar diretamente o processo de projeto sejam as NBRs 6.492\/1994, 13.531\/1995 e 13.532\/1995.<\/p>\n

[13]<\/a> NEUFERT, Ernst. A arte de projetar em arquitetura: princ\u00edpios, normas e prescri\u00e7\u00f5es sobre constru\u00e7\u00e3o, instala\u00e7\u00f5es, distribui\u00e7\u00e3o e programa de necessidades, dimens\u00f5es de edif\u00edcios, locais e utens\u00edlios<\/em>. 5 ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1976. \u00a0431p.<\/p>\n

[14]<\/a> MASCAR\u00d3, Juan Luis. O custo das decis\u00f5es arquitet\u00f4nicas<\/em>. 3 ed. Porto Alegre: JLM, 2004. \u00a0180p.<\/p>\n

[15]<\/a> Cf. STEVENS, O c\u00edrculo privilegiado.<\/em> p.105.<\/p>\n

[16]<\/a> Oscar Niemeyer, por exemplo, \u00e9 neto de ministro da Suprema Corte. Lucio Costa nasceu em Toulon, Fran\u00e7a. Ambos pertenciam \u00e0 aristocracia carioca.<\/p>\n

[17]<\/a> Cf. SANTA CEC\u00cdLIA, Bruno. “Tect\u00f4nica moderna e constru\u00e7\u00e3o nacional<\/a>“. MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>, Belo Horizonte\/Bras\u00edlia, n.1, p.6-9. jan.2006.<\/p>\n

[18]<\/a> Nos EEUU, o arqu\u00e9tipo deste personagem her\u00f3ico chama-se Howard Roark e protagoniza o famoso romance de Ayn Rand: The Fountainhead. A autora conta que o personagem foi baseado na vida de Frank Lloyd Wright.<\/p>\n

[19]<\/a> A respeito dos estilos no ensino de projeto, ver SOBREIRA, Fabiano. “A desconstru\u00e7\u00e3o do princ\u00edpio. Ensaio sobre o ensino do projeto de arquitetura.” Portal Vitruvius – Arquitextos – Texto Especial<\/em>, no. 147 (Abril 2008). http:\/\/www.vitruvius.com.br\/arquitextos\/arq000\/esp467.asp<\/a>.<\/p>\n

[20]<\/a> FICHER, Sylvia. “Mitos e perspectivas: profiss\u00e3o do arquiteto e ensino de arquitetura.” Revista Projeto<\/em>, S\u00e3o Paulo, n.185, p.79. maio 1995.<\/p>\n

[21]<\/a> MACEDO, Danilo Matoso. “Algumas fun\u00e7\u00f5es p\u00fablicas da arquitetura<\/a>.” MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>, Belo Horizonte\/Bras\u00edlia, n.2, p.14-21. fev.2006.<\/p>\n

[22]<\/a> Site G1. “Setor de material de constru\u00e7\u00e3o deve crescer 10% em 2008,” Junho 17, 2008. http:\/\/g1.globo.com\/Noticias\/Economia_Negocios\/0,,MUL604253-9356,00-SETOR+DE+MATERIAL+DE+CONSTRUCAO+DEVE+CRESCER+EM.html<\/a>.<\/p>\n

[23]<\/a> As atribui\u00e7\u00f5es profissionais do Arquiteto s\u00e3o definidas na mesma resolu\u00e7\u00e3o do CONFEA que a dos engenheiros- Resolu\u00e7\u00e3o 1.010\/2005- ao contr\u00e1rio do que reza o mito popular sobre edit\u00edcios de tr\u00eas pavimentos<\/em> e similares.<\/p>\n

[24]<\/a> Cf. STEVENS. O c\u00edrculo privilegiado<\/em>, p.77.<\/p>\n

[25]<\/a> In: DURAND, Jos\u00e9 Carlos Garcia. A profiss\u00e3o de arquiteto: estudo sociol\u00f3gico. Rio de Janeiro: CREA-5a. Regi\u00e3o, 1974. p. 3.<\/p>\n

[26]<\/a> Para a oposi\u00e7\u00e3o entre inven\u00e7\u00e3o e conven\u00e7\u00e3o<\/em>, cf. VENTURI, Robert. Complexity and Contradiction in Architecture<\/em>. New York: Museum of Modern Art; distributed by Doubleday, Garden City, N.Y, 1966. p.41-44.<\/p>\n

[27]<\/a> Cf. PUPPI, Marcelo. Por uma hist\u00f3ria n\u00e3o moderna da arquitetura brasileira<\/em> : quest\u00f5es de historiografia. Pandora. Campinas:\u00a0 Pontes\/ Associa\u00e7\u00e3o dos Amigos da Hist\u00f3ria da Arte\/ CPHA\/IFCH, 1998. 190p.<\/p>\n

[28]<\/a> PUNTONI, \u00c1lvaro. “Pensando em escolas<\/a>.” MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>, Belo Horizonte\/Bras\u00edlia, n.2, p.12. Fev.2006.<\/p>\n

[29]<\/a> Cr\u00edtica comum \u00e0 chamada Escola Paulista<\/em>, de casas: Quatro pilares, duas empenas cegas de concreto, \u00e1trio interno e pavimentos desnivelados.<\/p>\n

[30]<\/a> Anedotas recentes a respeito de nossa submiss\u00e3o a arquitetos estrangeiros s\u00e3o narradas por Jos\u00e9 Eduardo Ferolla em FEROLLA, Jos\u00e9 Eduardo. “<\/em>Globo alisado ou globo azulado<\/a>“<\/em>. MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>. Jan.2009. Dispon\u00edvel em: <www.puntoni.28ers.com >. Acesso em 13 jan.2009.<\/p>\n

[31]<\/a> Cf.\u00a0 Assist\u00eancia t\u00e9cnica gratuita agora \u00e9 lei<\/a><\/em> . <\/a>in MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo.Belo Horizonte\/Bras\u00edlia, Jan.2009. Dispon\u00edvel em: <www.puntoni.28ers.com >. Acesso em 13 jan.2009.<\/p>\n

[32]<\/a> MACIEL, Carlos Alberto. “Modernidade ainda que tardia<\/a>.” MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo<\/em>, Belo Horizonte\/Bras\u00edlia, n.1, p. 4-5, jan.2006.<\/p>\n

danilo matoso macedo<\/strong>
\nArquiteto e Urbanista (UFMG, 1997), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 2002), Especialista em Pol\u00edticas P\u00fablicas e Gest\u00e3o Governamental (ENAP, 2004).<\/p>\n

contato<\/strong>: correio@danilo.arq.br | www.danilo.arq.br<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Considera\u00e7\u00f5es sobre o of\u00edcio da arquitetura no Brasil Danilo Matoso Macedo<\/p>\n","protected":false},"author":6206942,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_coblocks_attr":"","_coblocks_dimensions":"","_coblocks_responsive_height":"","_coblocks_accordion_ie_support":"","advanced_seo_description":"","jetpack_seo_html_title":"","jetpack_seo_noindex":false,"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_publicize_feature_enabled":true,"jetpack_social_post_already_shared":false,"jetpack_social_options":{"image_generator_settings":{"template":"highway","enabled":false},"version":2}},"categories":[15077410,16350799],"tags":[1805738,2321734,5042777,15044424],"class_list":["post-1468","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-danilo-matoso","category-ensaio-e-pesquisa","tag-arquitetura-brasileira","tag-ensino-de-arquitetura","tag-pratica-profissional","tag-teoria-da-arquitetura"],"jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_likes_enabled":true,"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/plwdR-nG","jetpack-related-posts":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1468","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/6206942"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1468"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1468\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":1486,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1468\/revisions\/1486"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1468"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1468"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1468"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}