{"id":267,"date":"2006-01-31T03:56:58","date_gmt":"2006-01-31T05:56:58","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=267"},"modified":"2009-02-04T05:44:15","modified_gmt":"2009-02-04T07:44:15","slug":"a-pertinencia-da-forma-e-a-poetica-da-construcao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2006\/01\/31\/a-pertinencia-da-forma-e-a-poetica-da-construcao\/","title":{"rendered":"A pertin\u00eancia da forma e a po\u00e9tica da constru\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"

O que ocorreria a voc\u00eas, se fossem convidados a falar sobre estes assuntos? Eu, precisei perguntar: o qu\u00ea com isto, ou a partir disto, esperavam que eu dissesse?<\/p>\n

A tradu\u00e7\u00e3o dos organizadores come\u00e7ou com uma hist\u00f3ria do pedreiro, passou para o pre\u00e7o do saco de cimento,\u00a0 e acabou resvalando num piano… j\u00e1 que estava assim, t\u00e3o ad libitum<\/em>, poderia eu comentar ainda, ou sen\u00e3o, sobre as seguintes quest\u00f5es: \u201cA Pertin\u00eancia da Po\u00e9tica e a Forma da Constru\u00e7\u00e3o\u201d, ou \u201cA Pertin\u00eancia da Constru\u00e7\u00e3o e a Po\u00e9tica da Forma\u201d, ou \u201cA Forma da Po\u00e9tica e a Pertin\u00eancia da Constru\u00e7\u00e3o\u201d, ou \u201cA Forma da Pertin\u00eancia e a Po\u00e9tica da Constru\u00e7\u00e3o\u201d, ou \u201cA Po\u00e9tica da Pertin\u00eancia e a Constru\u00e7\u00e3o da Forma\u201d, ou \u201cA Constru\u00e7\u00e3o da Pertin\u00eancia e a Forma da Po\u00e9tica\u201d, ou\u00a0 \u201cA Constru\u00e7\u00e3o da Po\u00e9tica e a Forma da Pertin\u00eancia\u201d etc, sem que fizesse a menor diferen\u00e7a, tudo renderia assunto e um causo. Giochezze, giochezze!<\/em> comentaria meu pai.<\/p>\n

Mas esta aus\u00eancia de limites sempre perturbou este mam\u00edfero, cuja prosa, cl\u00e1ssica por heran\u00e7a gen\u00e9tica, faz da po\u00e9tica da constru\u00e7\u00e3o o seu cons\u00adtruir, e da obsess\u00e3o geom\u00e9trica das estruturas o seu deleite. Cabe julgar a pertin\u00eancia. Como defesa, apresento esta liberdade do qu\u00ea dizer que me foi concedida, mas, contraditoriamente, prefiro e preciso falar dos limites,e sempre que neles penso me ocorre a primeira li\u00e7\u00e3o da Fayga: \u201ccriar \u00e9 conhecer os seus limites<\/em>\u201d.<\/p>\n

Um bom ponto de partida \u00e9 come\u00e7ar pelos \u201cdeles\u201d, o que todos, no nosso of\u00edcio, estamos sujeitos: limites do s\u00edtio versus necessidades dos usos limites da disponibilidade financeira dos meios. Limites l\u00f3gicos, mensur\u00e1veis e consensuais, ci\u00eancia. J\u00e1 os \u201cseus\u201d, os de n\u00f3s outros, s\u00e3o fruto de como cada um percebe e manipula isso: qualidades dos limites f\u00edsicos do s\u00edtio versus adequacidade de meios \u00e0 necessidade dos usos. O custo do texto da forma e os valores que esta acrescentar\u00e1 ao contexto. L\u00adimites sensuais, emocionais, intelectuais e mentais, portanto subjetivos e imprevis\u00edveis. Tem muito mais, contudo j\u00e1 d\u00e1 para definir um territ\u00f3rio.<\/p>\n

Com muito menos o cachorro j\u00e1 mijou e d\u00adelimitou o seu. Mas a gente tende a complicar para explicar o que nos aflora pela consci\u00eancia de nossas pr\u00f3prias limita\u00e7\u00f5es, e o entendimento e a resposta de cada um de n\u00f3s aos mesmos est\u00edmulos pode ser a mais variada.<\/p>\n

Algumas, inconscientes de si mesmas, se manifestam pela repeti\u00e7\u00e3o de um arqu\u00e9tipo que, ao longo do tempo, foi aperfei\u00e7oado com o que demonstrou sucesso e garantia de alguma consist\u00eancia.<\/p>\n

Outras, conscientes de si mesmas, compreendida a Hist\u00f3ria e recebida a instru\u00e7\u00e3o do of\u00edcio, obrigam-nos \u00e0 mudan\u00e7a e \u00e0s peri\u00f3dicas e inevit\u00e1veis rupturas. Para uns salva\u00e7\u00e3o, para outros dana\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Mas tudo isso s\u00f3 faz sentido, s\u00f3 existe porque compreendido, sentido, usufru\u00eddo ou sofrido pelos demais, o que imp\u00f5e compartilhar alguns desejos comuns e c\u00f3digos tradutores de inten\u00e7\u00f5es, a come\u00e7ar do idioma. Limites de todas as culturas que, pela cren\u00e7a ou pela \u00e9tica, caso a caso determinam o bem e o mal. Uff!<\/p>\n

Parti pris<\/em>: tudo isto fruto de demandas exclusivas de homo sapiens<\/em>. Para o c\u00e3o j\u00e1 vimos como \u00e9 simples,\u00a0 mas a nossa esp\u00e9cie, extremamente predadora, armada o suficiente para destruir o meio da pr\u00f3pria\u00a0 subsist\u00eancia, como \u00e9 pern\u00f3stica, esta esp\u00e9cie: cogito, ergo sum, (pensa!…), mas como se viesse (?) de outro planeta, n\u00e3o suporta o terror da vida, e para n\u00e3o entrar em p\u00e2nico, inventa\u00a0 utopias, nirvanas, samadhis, para\u00edsos. Sabe que vai morrer, mas como s\u00f3 a eternidade lhe interessa, sai a ditar regras e adaptar a si o seu ao redor.<\/p>\n

H\u00e1 outros predadores, mas nenhum, com tamanho poder de fogo, cuspindo no prato e comprometendo seu habitat.<\/p>\n

A sobreviv\u00eancia dos outros bichos n\u00e3o depende de t\u00e3o complexa estrutura existencial, basta-lhes a essencial. Sabem que viver \u00e9 muito perigoso, mas n\u00e3o se consideram figura no fundo, s\u00e3o figura-e-fundo, e ignorando a eternidade, vivem, procriam e morrem. E pronto. Ser\u00edamos diferentes?<\/p>\n

Mas a nossa estrutura existencial alcan\u00e7ou complexidade s\u00f3 inferior \u00e0 nossa total depend\u00eancia dela, e os meios de constru\u00ed-la tornaram-se cada vez mais danosos ao planeta. Quem (sobre)viver, ver\u00e1. N\u00f3s, ou as baratas. \u00c9 este, de fato, o nosso atual \u201cm\u00ednimo denominador comum\u201d. Como cada um, vivencio isto com os instrumentos que adquiri e delimito o meu territ\u00f3rio \u00e0 minha maneira.<\/p>\n

Vou tentar em seguida explicar algo que andei fazendo nele.<\/p>\n

Edificio Sede da Fapergs<\/a><\/p>\n

jos\u00e9 eduardo ferolla (1947) <\/strong>
\nFormado em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1970), especializado em Urbanismo (UFMG, 1971),\u00a0 professor assistente de projeto arquitet\u00f4nico na Escola de Arquitetura da UFMG (desde 1977) e no Curso de Especializa\u00e7\u00e3o em Arquitetura de Interiores do IEC-Instituto de Educa\u00e7\u00e3o Continuada – da PUC-MG (desde 2002). Participa de concursos nacionais e internacionais, tendo recebido premia\u00e7\u00f5es em diversos deles.
\nPossui escrit\u00f3rio pr\u00f3prio desde 1970.<\/p>\n

contato:<\/strong> ferolla@brfree.com.br<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"