{"id":2879,"date":"2009-06-10T11:35:57","date_gmt":"2009-06-10T14:35:57","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=2879"},"modified":"2009-09-24T07:18:28","modified_gmt":"2009-09-24T10:18:28","slug":"niemeyer-nao-dorme-nos-louros","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/06\/10\/niemeyer-nao-dorme-nos-louros\/","title":{"rendered":"Niemeyer n\u00e3o dorme nos louros…"},"content":{"rendered":"
Sobre o projeto da<\/em> <\/em><\/a>Pra\u00e7a da Soberania<\/a><\/em>, de Oscar Niemeyer.<\/em><\/p>\n Paulo Ormindo de Azevedo<\/p>\n <\/p>\n Desde a constru\u00e7\u00e3o de Bras\u00edlia n\u00e3o se discutia tanto na m\u00eddia arquitetura e urbanismo como agora. O respons\u00e1vel por este fato \u00e9 um rebelde de 101 anos. Independente do que possa ocorrer, a discuss\u00e3o j\u00e1 valeu \u00e0 pena. Esta pol\u00eamica remete a outra travada em 1985, quando o governador Jos\u00e9 Aparecido convidou os principais arquitetos que projetaram Bras\u00edlia – Lucio, Niemeyer e Burle Marx – para reverem o Plano Piloto depois de 20 anos de regime militar. Lucio respondeu com o documento \u201cBras\u00edlia Revisitada\u201d, onde aconselhava a ocupa\u00e7\u00e3o de \u00e1reas anteriormente consideradas non aedificandi e outras modifica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n A pol\u00eamica foi muito semelhante \u00e0 atual. Pode o autor de um projeto alter\u00e1-lo? Sim, especialmente no caso de uma cidade, que \u00e9 um organismo vivo e reflete os embates sociais ao longo da historia. Tem raz\u00e3o Niemeyer ao dizer que todas as cidades sofreram modifica\u00e7\u00f5es e que \u201cBras\u00edlia ainda vai passar por muitas delas\u201d. Depois de muita discuss\u00e3o as propostas de Lucio foram transformadas em lei e Bras\u00edlia, sem perder seu valor, foi inscrita, em 1987, na Lista do Patrim\u00f4nio Mundial da UNESCO.<\/p>\n <\/a>A bola da vez \u00e9 a proposta de Niemeyer, do inicio de 2009, de constru\u00e7\u00e3o da Pra\u00e7a da Soberania com um obelisco de 100 m. A rea\u00e7\u00e3o foi imediata, movida em grande parte por uma dissimulada \u201coscar-jeriza\u201d que tem varias origens. Uma delas muito antiga de car\u00e1ter ideol\u00f3gico, o monumentalismo de sua obra remanescente do autoritarismo da Era Vargas, teorizado por Joaquim Guedes[1]<\/a>, e que reflete o embate entre as escolas arquitet\u00f4nicas carioca e paulistana. Outra simplesmente de disputa de mercado de trabalho, como fica evidente na carta de Sylvio de Podest\u00e1[2]<\/a>, de 2003, e na ir\u00f4nica nota de Julio Daio Borges na revista Piau\u00ed de junho de 2009.<\/p>\n Mas vamos convir que a arquitetura n\u00e3o-oficial de Bras\u00edlia \u00e9 o que existe de mais provinciano em todo o pa\u00eds e se n\u00e3o fosse o g\u00eanio de Niemeyer, a nossa capital n\u00e3o passaria de uma Palmas, salvo o plano. O fato \u00e9 que se organizou uma esp\u00e9cie de cruzada digital de defesa da terra santa, como se Niemeyer quisesse destruir o Plano Piloto. N\u00e3o se discutiu em nenhum momento o m\u00e9rito da proposta, sen\u00e3o o fato de Bras\u00edlia ser tombada.<\/p>\n O projeto de Niemeyer \u00e9 de fato, a nosso ver, um complemento e uma corre\u00e7\u00e3o. Ele procura criar um contra-ponto ao Congresso na outra extremidade da Esplanada dos Minist\u00e9rios, a meio caminho da torre de televis\u00e3o, refor\u00e7ando a escala monumental da cidade, e integrando os dois n\u00facleos de equipamentos culturais separados pela esplanada. Este esquema vem remotamente de Luxor e \u00e9 o mesmo utilizado por L\u2019Enfant no Mall de Washington, com a seq\u00fc\u00eancia Capit\u00f3lio, o grande obelisco e o Lincoln Memorial. Ainda em 1987 a Prefeitura de Paris realizou um concurso para criar um marco e integrar a nova zona corporativa de La Defense \u00e1 cidade, refor\u00e7ando a visual Louvre, obelisco da Conc\u00f3rdia, Champs \u00c9lys\u00e9es e Arco do Triunfo. Ganhou o dinamarqu\u00eas Otto von Spreckelsen com um monumental arco de 110 m, que em nada descaracterizou Paris, s\u00f3 a valorizou.<\/p>\n A quest\u00e3o n\u00e3o \u00e9 o fato de Bras\u00edlia ser ou n\u00e3o tombada, sen\u00e3o a implementa\u00e7\u00e3o do tombar, oposto ao de \u201cclassificar\u201d, ou promover, usado em todo mundo, arca\u00edsmo que tem sua origem no Decreto 25 de 1937, elaborado na urg\u00eancia de proteger imagens, igrejas e pal\u00e1cios barrocos do ciclo do ouro. Mas os inspiradores dessa legisla\u00e7\u00e3o, Mario de Andrade, Rodrigo Melo Franco e Lucio Costa, eram intelectuais que tinham um olho no passado e outro no futuro e consolidariam o Modernismo no Brasil. Se nas d\u00e9cadas de 1940 a 1960 tiv\u00e9ssemos a burocracia preservacionista que temos hoje no plano federal e estadual, n\u00e3o seria constru\u00edda a Pampulha, o conjunto Pedregulho, o Parque do Flamengo, nem os cal\u00e7ad\u00f5es da Av. Atl\u00e2ntica de Burle Marx, obras primas do s\u00e9culo XX.<\/p>\n Neste sentido, Niemeyer tem todo o direito de protestar e xingar contra um instrumento que foi usado a pretexto de preservar sua obra e de Lucio e acabou o censurando. O que desqualifica Bras\u00edlia n\u00e3o \u00e9 o obelisco proposto, s\u00e3o os favel\u00f5es sat\u00e9lites, como ele disse, e os 180 loteamentos fechados em \u00e1reas publicas verdes da cidade. Segrega\u00e7\u00e3o de exclu\u00eddos e auto-segrega\u00e7\u00e3o elitista, que os Amigos de Bras\u00edlia tentam ignorar. Diante dos protestos ruidosos da milit\u00e2ncia, o Governador Jos\u00e9 Roberto Arruda recuou alegando falta de recursos. Niemeyer elegantemente publicou, em 04\/02\/09, uma carta em que expressa a esperan\u00e7a de que no futuro sua obra seja constru\u00edda.<\/p>\n <\/a>Mas tinha raz\u00e3o o embaixador Andr\u00e9 Correia Lago, \u201cos g\u00eanios jamais jogam a toalha\u201d, titulo de uma entrevista dada ao Estado de S\u00e3o Paulo, em 07\/02\/09, em que tra\u00e7a um perfil muito l\u00facido da crise em que se debatem os arquitetos brasileiros, hoje. No final do m\u00eas de maio, Niemeyer voltou a fustigar com uma segunda vers\u00e3o do projeto, reaquecendo uma polemica que j\u00e1 deu um fruto, a cria\u00e7\u00e3o de uma comiss\u00e3o de alto n\u00edvel para cuidar do Plano Piloto, que deve ser preservado, mas n\u00e3o pode ser mitificado nem virar um museu dos anos 50.<\/p>\n \n 1<\/a> Monumentalidade x cotidiano: a fun\u00e7\u00e3o publica da \tArquitetura<\/a>,<\/em> in Arquitextos<\/strong> n. 071.01, Portal Vitruvius, \tem 09\/06\/09.<\/p>\n<\/div>\n
\nnotas<\/h3>\n