{"id":2897,"date":"2009-06-11T03:02:26","date_gmt":"2009-06-11T06:02:26","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=2897"},"modified":"2009-06-20T19:48:35","modified_gmt":"2009-06-20T22:48:35","slug":"sobre-projetos-executivos-e-detalhes","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/06\/11\/sobre-projetos-executivos-e-detalhes\/","title":{"rendered":"Sobre projetos executivos e detalhes"},"content":{"rendered":"
\n

\"NBR6492-DETALHES\"<\/a>Danilo Matoso Macedo<\/p>\n<\/div>\n

<\/p>\n

A partir da pr\u00f3xima mat\u00e9ria, a se\u00e7\u00e3o Projetos e obras<\/em><\/a> da revista mdc <\/strong>passar\u00e1 a disponibilizar arquivos com o Projeto Executivo \u2013 ou Projeto de Execu\u00e7\u00e3o \u2013 completo. Entendemos que, com isso, amplia-se significativamente a relev\u00e2ncia do material publicado. Ao acrescentar informa\u00e7\u00e3o sobre as t\u00e9cnicas projetuais e construtivas adotadas na feitura da obra, procuramos trazer alguma contribui\u00e7\u00e3o ao delineamento de novos horizontes na cr\u00edtica e de historiografia de nossa pr\u00e1tica arquitet\u00f4nica atual. Esperamos que uma nova cr\u00edtica se forme e que nossa teoria se renove a partir da sistematiza\u00e7\u00e3o e da transmiss\u00e3o did\u00e1tica de um campo de conhecimento que at\u00e9 hoje tem sua cultura reproduzida quase que exclusivamente pela pr\u00e1tica nos escrit\u00f3rios \u2013 ao menos no Brasil. Esse medievalismo<\/em> cultural da arquitetura talvez mere\u00e7a aqui uma pequena digress\u00e3o, necess\u00e1ria \u00e0 explicita\u00e7\u00e3o de nossas inten\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

arquitetura \u00e9 inven\u00e7\u00e3o \u2013 de problemas?<\/h3>\n
\"Entablamento<\/a>

Entablamento e capitel j\u00f4nico, segundo o tratado de Vignola (1562)<\/p><\/div>\n

Desde o surgimento, no s\u00e9culo XV, do livro de arquitetura tal como o conhecemos hoje, nossa disciplina vem sendo transmitida majoritariamente por meio de textos, gravuras ou fotos naturalistas e desenhos t\u00e9cnicos simplificados de modo a caber nos formatos dos livros. Substitu\u00edam-se, e principalmente complementavam-se, com isso, os c\u00f3dices das corpora\u00e7\u00f5es de of\u00edcio e as li\u00e7\u00f5es pr\u00e1ticas por tratados de arquitetura concebidos e editados quase que \u00e0 guisa de literatura. A cultura do livro impresso multiplic\u00e1vel foi componente ativo da revolu\u00e7\u00e3o human\u00edstica da Idade Moderna no mundo ocidental. E as conseq\u00fc\u00eancias da difus\u00e3o arquitet\u00f4nica completamente dissociada de qualquer contato direto com os edif\u00edcios, por assim dizer, protot\u00edpicos, levou em muitos casos \u00e0 redu\u00e7\u00e3o do escopo de nossa disciplina ao que pode ser transmitido por meio de livros e revistas: textos, imagens naturalistas e desenhos t\u00e9cnicos esquem\u00e1ticos simplificados de escala reduzida. Os tratados da Renascen\u00e7a definem as \u201cordens\u201d de arquitetura (colunas, capit\u00e9is, lint\u00e9is etc.) carentes de peso material. <\/em>De que s\u00e3o feitos? Madeira, m\u00e1rmore, pedra, tijolo, estuque? Como s\u00e3o feitos? Por quem? Com que instrumentos? A que pre\u00e7o? Os livros n\u00e3o nos dizem.<\/em> [1]<\/a><\/p>\n

Com isso, a profiss\u00e3o e o profissional deslocavam-se do canteiro de obra dos artes\u00e3os para as c\u00f4rtes dos nobres, dos intelectuais e sobretudo dos artistas. O desenho erudito desenvolvido junto \u00e0 geometria descritiva acaba por se relacionar mais \u00e0s especula\u00e7\u00f5es matem\u00e1ticas e cient\u00edficas do Iluminismo que \u00e0 manufatura de edif\u00edcios e de seus componentes construtivos. Estes t\u00eam sua conforma\u00e7\u00e3o ajustada \u00e0 base de cinz\u00e9is, lixadeiras, desempenadeiras, sarrafos, gabaritos e outros instrumentos rudimentares para os quais as geometrias complexas advindas de equa\u00e7\u00f5es espaciais fazem pouco sentido. Como nos lembra Alfonso Corona Mart\u00ednez, os arquitetos do Renascimento inventaram uma compet\u00eancia profissional a partir dos meios de representa\u00e7\u00e3o, ao dar import\u00e2ncia maior aos problemas formais, de tal modo que estes somente poderiam ser resolvidos pelos arquitetos com o emprego de seu novo instrumental<\/em>.[2]<\/a><\/p>\n

As conseq\u00fc\u00eancias e conflitos desse deslocamento da profiss\u00e3o at\u00e9 hoje se fazem sentir quando as solu\u00e7\u00f5es formais<\/em> dos arquitetos deslocados do canteiro precisam ser constru\u00eddas com integridade de modo a resistir \u00e0s intemp\u00e9ries e \u00e0 passagem do tempo. A cis\u00e3o entre o canteiro e o desenho \u00e9 problema antigo discutido repetida e exaustivamente a cada gera\u00e7\u00e3o desde aqueles tempos. Entricheiram-se, de um lado, os arquitetos que vivem de textos, palestras e publica\u00e7\u00f5es em revistas, e de outro lado aqueles que vivem de produzir desenhos destinados \u00e0 constru\u00e7\u00e3o. Os argumentos de cada parte s\u00e3o repetitivos e talvez n\u00e3o valha a pena aqui mencion\u00e1-los sen\u00e3o em seus mais conhecidos pares dial\u00e9ticos: teoria versus<\/em> pr\u00e1tica, \u201carquitetura do espet\u00e1culo\u201d versus<\/em> \u201carquitetura comum\u201d, artistas versus<\/em> pedreiros, estrelas versus<\/em> oper\u00e1rios etc. J\u00e1 lembramos recentemente[3]<\/a> <\/em>que, enquanto primeiro grupo goza de maior prest\u00edgio social, o segundo grupo projeta e constr\u00f3i mais. Fosse a conviv\u00eancia entre estes grupos pac\u00edfica, e talvez nossas cidades houvessem sido constru\u00eddas pelos arquitetos e urbanistas. A realidade, entretanto, \u00e9 bastante distinta. Enquanto mestres de obras e t\u00e9cnicos em edifica\u00e7\u00f5es efetivamente materializam nossas metr\u00f3poles \u2013 que se expandem via de regra pelos bairros de classe m\u00e9dia-baixa e baixa \u2013 os arquitetos digladiam-se pela primazia da execu\u00e7\u00e3o de poucos monumentos, edif\u00edcios p\u00fablicos, moradias e escrit\u00f3rios das classes mais altas \u2013 e vez por outra ou conjuntos habitacionais assistencialistas.<\/p>\n

Essa inser\u00e7\u00e3o social e esse campo de atua\u00e7\u00e3o restritos descendem claramente daqueles constru\u00eddos pelos arquitetos renascentistas \u2013 e do que se convencionou chamar de arquitetura a partir de ent\u00e3o, em oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 mera constru\u00e7\u00e3o<\/em>[4]<\/a>.<\/em> Ocorre que, com a expans\u00e3o das classes m\u00e9dias e a prolifera\u00e7\u00e3o de arquitetos nesses extratos sociais intermedi\u00e1rios, o n\u00famero de profissionais exclu\u00eddos \u00e9 crescente. E mesmo os exclu\u00eddos <\/em>n\u00e3o se ocupam de tratar com compet\u00eancia dos seus problemas mais pr\u00f3ximos: os edif\u00edcios das periferias (os respons\u00e1veis por mais de 70% da mancha urbana de nossas metr\u00f3poles). O motivo \u00e9 muito simples: n\u00e3o foram preparados para faz\u00ea-lo. Aprenderam nas faculdades \u2013 e l\u00eaem nas revistas e livros de arquitetura \u2013 solu\u00e7\u00f5es para problemas que, ou n\u00e3o existem efetivamente, ou n\u00e3o lhes dizem respeito. Do mesmo modo, voltando aos dois grupos antag\u00f4nicos, as estrelas <\/em>costumam esbanjar uma despreocupa\u00e7\u00e3o ol\u00edmpica com a constru\u00e7\u00e3o, uso e manuten\u00e7\u00e3o de seus edif\u00edcios, enquanto os t\u00e9cnicos <\/em>pavoneiam-se ingenuamente de sua ignor\u00e2ncia total sobre qualquer quest\u00e3o human\u00edstica que v\u00e1 al\u00e9m do carisma de que usam para convencer seus clientes.<\/p>\n

A hist\u00f3ria nos ensina que estes grupos n\u00e3o se reconciliar\u00e3o. Preferimos, por isso, uma via alternativa, que teorize sobre os aspectos pr\u00e1ticos e que cobre relev\u00e2ncia social direta das problematiza\u00e7\u00f5es te\u00f3ricas. Se o arquiteto de escrit\u00f3rio<\/em> trata de desenhos t\u00e9cnicos e de t\u00e9cnicas construtivas, sobre eles tamb\u00e9m nos devemos debru\u00e7ar em busca de constantes, princ\u00edpios, valores e m\u00e9todos pass\u00edveis de sistematiza\u00e7\u00e3o \u2013 em busca da pr\u00f3pria teoria \u2013 e transmiss\u00e3o para as gera\u00e7\u00f5es futuras. Na m\u00e3o inversa, se o arquiteto de revista<\/em> trata de publica\u00e7\u00f5es, de livros, palestras e exposi\u00e7\u00f5es, que elas digam respeito ao menos a solu\u00e7\u00f5es efetivas para os problemas de seu tempo, e n\u00e3o de fr\u00edvolas quest\u00f5es end\u00f3genas.<\/p>\n

a compet\u00eancia do arquiteto<\/h3>\n

Em nossa sociedade, arquitetos que projetam – e n\u00e3o possuem empreiteiras \u2013 extraem seu sustento da entrega de desenhos. Mesmo que acompanhados por maquetes e textos, s\u00e3o os desenhos o cerne da documenta\u00e7\u00e3o comercializada. Nesse sentido, o desenho \u00e9 uma mercadoria como outra qualquer: possui seu valor intr\u00ednseco e seu valor como \u00edndice de uma obra que ser\u00e1 constru\u00edda. Mesmo que acompanhados pela carga simb\u00f3lica conotada pela griffe <\/em>do autor \u2013 evidentemente parte do produto em quest\u00e3o \u2013, s\u00e3o os desenhos que conectam criador e obra constru\u00edda. Comprovam estes argumentos os croquis <\/em>, os riscos originais<\/em> que todos fazem quest\u00e3o de publicar junto aos projetos.<\/p>\n

Existem defini\u00e7\u00f5es claras sobre a natureza dos desenhos arquitet\u00f4nicos. Segundo a Norma Brasileira, o projeto de arquitetura \u00e9 elaborado nas seguintes etapas: levantamento de dados, programa de necessidades, estudo de viabilidade, estudo preliminar, anteprojeto (ou de pr\u00e9-execu\u00e7\u00e3o), projeto legal, projeto b\u00e1sico (opcional, voltado para \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos), e projeto para execu\u00e7\u00e3o [ou Projeto Executivo] de arquitetura.[5]<\/a> Este \u00faltimo \u00e9 definido como etapa destinada \u00e0 concep\u00e7\u00e3o e \u00e0 representa\u00e7\u00e3o final das informa\u00e7\u00f5es t\u00e9cnicas da edifica\u00e7\u00e3o e de seus elementos, instala\u00e7\u00f5es e componentes, completas, definitivas e necess\u00e1rias \u00e0 licita\u00e7\u00e3o (contrata\u00e7\u00e3o) e \u00e0 execu\u00e7\u00e3o dos servi\u00e7os de obra correspondentes.<\/em>[6]<\/a> <\/em>A Tabela de Honor\u00e1rios<\/em> do Instituto dos Arquitetos do Brasil[7]<\/a> foi feita a partir dessas etapas. Enquanto se atribui um valor de 10% a 15% ao Estudo Preliminar, o Projeto Executivo corresponde a 50% da remunera\u00e7\u00e3o. Voltaremos a esta rela\u00e7\u00e3o proporcional em seguida.<\/p>\n

A responsabilidade do projetista sobre a obra constru\u00edda \u00e9 tanto maior quanto maior for a correspond\u00eancia entre seus desenhos e a edifica\u00e7\u00e3o concreta. Na pr\u00e1tica atual, entretanto, esta constata\u00e7\u00e3o op\u00f5e-se ao senso comum corporativo corrente entre n\u00f3s de que o arquiteto \u00e9 dirigente<\/em> da edifica\u00e7\u00e3o. Assim o seria se sobre ela tiv\u00e9ssemos responsabilidade total \u2013 o que n\u00e3o \u00e9 o caso em nosso pa\u00eds. A obra constru\u00edda \u00e9 produto coletivo de todos os projetistas e de responsabilidade principalmente do construtor, e nesse grupo o arquiteto comumente assume apenas o peso do papel secund\u00e1rio que lhe cabe (vegetal, manteiga ou sulfite<\/em>).<\/p>\n

Indo mais al\u00e9m na argumenta\u00e7\u00e3o, em nosso pa\u00eds n\u00e3o temos not\u00edcia de acionamento legal de algum arquiteto ou escrit\u00f3rio de arquitetura devido a erros de projeto. Normalmente, a culpa por problemas em edifica\u00e7\u00f5es recai sobre os empreiteiros e engenheiros projetistas, devido a problemas construtivos e a falhas nas instala\u00e7\u00f5es. No Brasil, o arquiteto \u2013 o mesmo a encabe\u00e7ar a ficha t\u00e9cnica em revistas, relegando aos demais os papeis de coadjuvantes \u2013 n\u00e3o \u00e9 responsabilizado por praticamente nada. Convido o leitor a vasculhar sua mem\u00f3ria e a encontrar exemplos recentes de arquitetos considerados publicamente respons\u00e1veis por desabamentos, patologias estruturais e mesmo por acidentes de trabalho e enfermidades em moradores de seus edif\u00edcios. Ver\u00e1 que n\u00e3o se ouviu falar dos arquitetos. Os engenheiros em alguns casos foram presos ou execrados publicamente, porque deles efetivamente era a responsabilidade pelas decis\u00f5es cr\u00edticas.<\/p>\n

N\u00e3o nos enganemos atribuindo ao arquiteto contempor\u00e2neo uma compet\u00eancia que na pr\u00e1tica n\u00e3o lhe cabe: o produto concreto imediato de seu trabalho s\u00e3o os desenhos, que s\u00e3o valorados por sua qualidade comunicativa e pelo que resulta dela \u2013 a obra constru\u00edda entendida em seu sentido meramente pl\u00e1stico<\/em>. O desenvolvimento e detalhamento construtivo relevante de um projeto, para al\u00e9m das apar\u00eancias portanto, implica em assumir mais responsabilidades. Ao assumir plenamente o encargo do projeto executivo, do detalhamento e da integra\u00e7\u00e3o e compatibiliza\u00e7\u00e3o de projetos complementares, o arquiteto amplia consideravelmente o seu cr\u00e9dito efetivo pela obra constru\u00edda \u2013 e consequentemente seu campo potencial de atua\u00e7\u00e3o. Saber desenvolver e representar um projeto para execu\u00e7\u00e3o des\u00e1gua assim em mais compet\u00eancias profissionais.<\/p>\n

Feita esta constata\u00e7\u00e3o, torna-se desconcertante o descaso do m\u00e9tier<\/em> da arquitetura e engenharia brasileiras para com as conven\u00e7\u00f5es de desenhos. As normas s\u00e3o escassas[8]<\/a>, as disciplinas universit\u00e1rias de desenho t\u00e9cnico s\u00e3o consideradas instrumentais <\/em>(ou n\u00e3o final\u00edsticas<\/em>) e chega a ser um milagre que alguma comunica\u00e7\u00e3o efetivamente ocorra por meio de uma linguagem t\u00e3o carente de gram\u00e1tica. Tanto nas engenharias quanto na arquitetura, a disciplina de desenho t\u00e9cnico foi reduzida a um reles semestre letivo, e o desenho t\u00e9cnico tem seu aprendizado nos est\u00e1gios de escrit\u00f3rio e marginalmente nas disciplinas de projeto.<\/p>\n

As disciplinas de projeto e as demais disciplinas dos cursos universit\u00e1rios parecem tratar de tudo, menos do desenvolvimento de projetos nas sucessivas etapas necess\u00e1rias \u00e0 execu\u00e7\u00e3o da obra. A pr\u00e1tica dos escrit\u00f3rios de arquitetura \u00e9 quase que integralmente composta pelo desenvolvimento de projetos de aprova\u00e7\u00e3o, de projetos executivos, de detalhamentos e de desenhos adicionais necess\u00e1rios \u00e0 execu\u00e7\u00e3o. Na verdade, vemos que a propor\u00e7\u00e3o valorativa sugerida pela Tabela de Honor\u00e1rios do IAB<\/em> certamente sobrevalorizou as fases iniciais do projeto devido \u00e0 carga simb\u00f3lica da cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica. <\/em>A pr\u00e1tica mostra que a rela\u00e7\u00e3o estritamente quantitativa reduziria significativamente o valor daquelas. Um estudo preliminar desenvolvido em duas semanas tem seu desenvolvimento e obra arrastados por anos a fio, mas n\u00e3o se aprende sobre como lidar com isso nas universidades e pouco se discute sobre esta pr\u00e1tica em nossas revistas e livros de teoria e hist\u00f3ria. Como observou John Summerson,<\/p>\n

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Ele [o arquiteto moderno], por diversos motivos, saiu de seu papel, deu uma olhada na cena ao seu redor e tornou-se obcecado n\u00e3o com a import\u00e2ncia da arquitetura, mas com a rela\u00e7\u00e3o <\/strong>da arquitetura com outras coisas. Isso \u00e9 exatamente o que ocorreu.O arquiteto saiu de si mesmo, como se fosse uma segunda pessoa a sair da primeira num filme psicol\u00f3gico. Ele (prosseguindo momentaneamente com esta met\u00e1fora) deixou sua primeira personalidade na prancheta e assumiu a segunda (a personalidade \u2018viva\u2019) numa volta ao mundo contempor\u00e2neo \u2013 pesquisa cient\u00edfica, sociologia, psicologia, engenharia, as artes e diversas outras coisas. \u00a0Ao retornar \u00e0 prancheta, sua primeira personalidade lhe parece constrangedora e extremamente desinteressante. Ali est\u00e1 ele desajeitadamente sentado, recendendo levemente a \u201cestilos\u201d. Ent\u00e3o a segunda personalidade senta-se ao lado dele e dolorosamente guia sua m\u00e3o.[9]<\/a><\/p>\n<\/blockquote>\n

Por bizarro que possa parecer, esta esp\u00e9cie de dupla personalidade <\/em>do arquiteto n\u00e3o \u00e9 exce\u00e7\u00e3o. Comprova isso o descompasso entre o que consta em nossa historiografia e o que de fato correspondeu \u00e0 pr\u00e1tica edil\u00edcia das sociedades ali descritas. Em alguns momentos, o ethos<\/em> de uma personalidade invade os dom\u00ednios da outra. \u00c9 ent\u00e3o que o arquiteto imbu\u00eddo da cobran\u00e7a social pela inven\u00e7\u00e3o<\/em> \u2013 no sentido lato \u2013 torna-se incapaz de obedecer \u00e0s mais simples conven\u00e7\u00f5es<\/em>.[10]<\/a><\/p>\n

o desenho arquitet\u00f4nico, suas conven\u00e7\u00f5es e detalhes<\/h3>\n

Ocorre que, no Brasil, cada escrit\u00f3rio de arquitetura inventa suas pr\u00f3prias conven\u00e7\u00f5es gr\u00e1ficas. \u00a0Aqueles encarregados de construir as obras devem aprender a ler o idioma de cada escrit\u00f3rio, transformando-se em verdadeiros poliglotas<\/em> iconogr\u00e1ficos. De fato, se engenheiros civis, mestres-de-obras, serralheiros e marceneiros[11]<\/a> acabam por aprender algo desse c\u00f3digo na pr\u00e1tica, o fazem de tanto sentirem no bolso as conseq\u00fc\u00eancias de seus erros de interpreta\u00e7\u00e3o. E se n\u00e3o aprendem a ler os desenhos, aprendem a conversar sobre eles minuciosamente com o arquiteto na obra.<\/p>\n

Nessa babel, os arquitetos tamb\u00e9m padecem, j\u00e1 que dependem de engenheiros para desenvolver os projetos complementares. Os engenheiros \u2013 sobretudo os ligados \u00e0s instala\u00e7\u00f5es \u2013 embora sejam bastante mais afeitos a seguir conven\u00e7\u00f5es de s\u00edmbolos e metodologias de representa\u00e7\u00e3o, tendem a tratar o desenho t\u00e9cnico mais como diagrama simb\u00f3lico<\/em> que como desenho figurativo<\/em>. Dessa falta de compreens\u00e3o das caracter\u00edsticas f\u00edsicas e dimens\u00f5es da coisa tratada nascem os problemas de compatibiliza\u00e7\u00e3o<\/em> \u2013 cuja solu\u00e7\u00e3o ou bem fica a cargo do arquiteto ou bem fica a cargo do empreiteiro \u2013 onde tubos descem aparentes fachada abaixo, m\u00e1quinas n\u00e3o cabem nos v\u00e3os destinados a elas, equipamentos ficam sem visita<\/em> para manuten\u00e7\u00e3o etc. \u00a0A situa\u00e7\u00e3o agravou-se ainda mais com o advento dos sistemas de CAD \u2013 Computer Aided Design<\/em>. No computador, a representa\u00e7\u00e3o digital possui m\u00faltiplas possibilidades de elabora\u00e7\u00e3o, que resultam aparentemente num mesmo desenho impresso. O interc\u00e2mbio de arquivos entre engenheiros e arquitetos dentro desse universo infind\u00e1vel de vari\u00e1veis \u00e9 praticamente imposs\u00edvel sem uma padroniza\u00e7\u00e3o estrita do modo de trabalho. Evidentemente, a maior parte dos escrit\u00f3rios brasileiros de engenharia\u00a0 e arquitetura ignora ou despreza olimpicamente os poucos padr\u00f5es existentes.[12]<\/a><\/p>\n

Mais uma vez, a origem dessas mazelas est\u00e1 na car\u00eancia de conhecimento sistematizado sobre o tema em nosso pa\u00eds. Os arquitetos aprendem a desenhar estudos preliminares na faculdade e passam a vida folheando e estudando revistas e livros com plantas na escala de 1:500, e dali extraindo seus par\u00e2metros de trabalho. Mesmo as revistas t\u00e9cnicas \u2013 como a brasileira Techn\u00e9<\/em>, a alem\u00e3 Detail <\/em>ou a espanhola Tect\u00f3nica<\/em> \u2013 limitam-se a exibir diretamente os detalhes da escala 1:1, passando ao largo das plantas, cortes e fachadas do projeto executivo, por uma simples impossibilidade material de publicar uma revista em formato A0. Estes desenhos gerais, os mais importantes de todo o projeto, onde todos os detalhes, eixos, especifica\u00e7\u00f5es e dimens\u00f5es est\u00e3o indicados e mapeados, simplesmente n\u00e3o s\u00e3o publicados em tamanho leg\u00edvel. Enquanto isso, esquadrias e grampos de fixa\u00e7\u00e3o de granito s\u00e3o reproduzidos ad nauseam.<\/em><\/p>\n

\n

\"\u00c0<\/a>

\u00c0 esquerda, detalhe do cat\u00e1logo da Alcoa para pano de vidro. \u00c0 direita, detalhe publicado no especial 'Detalles' da revista argentina Summa (dez.2004)<\/p><\/div>\n

Nesse ponto, o problema ganha nova complexidade, pois esbarramos no conflito entre a pr\u00e1tica arquitet\u00f4nica estrangeira e a brasileira. A representa\u00e7\u00e3o do detalhe ampliado de veda\u00e7\u00e3o tem sua origem nas wall-sections<\/em> norte-americanas \u2013 desenhos aut\u00f4nomos que convencionalmente sintetizam o desempenho da veda\u00e7\u00e3o do edif\u00edcio. S\u00e3o parte das conven\u00e7\u00f5es gr\u00e1ficas que os arquitetos s\u00e3o obrigados a dominar para obter seu diploma na maioria dos pa\u00edses europeus e nos Estados Unidos. Se nesses pa\u00edses as normas existem e s\u00e3o cumpridas, no Brasil as normas rareiam e s\u00e3o ignoradas. Lemos os desenhos nas revistas estrangeiras e copiamos os seus cacoetes e seus detalhes \u2013 as wall-sections <\/em>que n\u00e3o fazem sentido algum em alvenaria de tijolos \u2013<\/em>, no que muitas vezes se torna um tecnicismo in\u00fatil e um detalhismo perfeitamente dispens\u00e1vel. Um exemplo cl\u00e1ssico desse tipo de pr\u00e1tica corrente entre n\u00f3s \u00e9 a insist\u00eancia que se tem em publicar os detalhes de caixilharia de alum\u00ednio, quando \u00e9 sabido que as montagens desses perfis extrudados de grande complexidade \u00e9 inteiramente determinada pelas linhas criadas pela ind\u00fastria. Escolhido o modelo <\/em>da esquadria, trata-se simplesmente de uma montagem <\/em>de detalhes padronizados sobre os quais o arquiteto e o engenheiro t\u00eam pouca ou nenhuma influ\u00eancia.<\/p>\n

A causa para este tipo de v\u00edcio, mais uma vez, tem suas origens na pr\u00f3pria afirma\u00e7\u00e3o da autonomia do campo arquitet\u00f4nico. Como bem nos lembra S\u00e9rgio Ferro: a coisifica\u00e7\u00e3o desta verborragia anal\u00edtica n\u00e3o pedida s\u00f3 \u00e9 explic\u00e1vel (…) pela urg\u00eancia de iludir o pr\u00f3prio esvaziamento<\/em>.[13]<\/a> Al\u00e9m dos detalhes in\u00fateis, incluem-se na cr\u00edtica de S\u00e9rgio Ferro tamb\u00e9m os detalhamentos superabundantes. <\/em>Nesse campo, de identifica\u00e7\u00e3o mais dificultosa, incluem-se sobretudo os defensores da industrializa\u00e7\u00e3o na constru\u00e7\u00e3o \u2013 que de tanto buscar novos padr\u00f5es acabam simplesmente por inventar todo um novo sistema semi-industrial a cada projeto. Nesse v\u00edcio incorrem muitos dos que s\u00e3o admirados pelo dom\u00ednio da t\u00e9cnica construtiva<\/em>: inventam detalhes complexos, supostamente indicativos de alta tecnologia<\/em>, que ser\u00e3o de execu\u00e7\u00e3o dif\u00edcil, dispendiosa e de desempenho duvidoso. Um bom exemplo \u00e9 o que Peter Blake chamou, h\u00e1 mais de trinta anos, de celebra\u00e7\u00e3o da junta<\/em>:<\/p>\n

\n

(…) em certos tipos de constru\u00e7\u00e3o com pain\u00e9is ou outros tipos de pr\u00e9-fabrica\u00e7\u00e3o, a junta entre as partes \u2013 aquela infinitamente problem\u00e1tica e infinitamente multiplicada junta, a causa de vazamentos, empenamentos, corros\u00e3o, desbotamento, de muita confus\u00e3o, preocupa\u00e7\u00e3o e trabalho \u2013 essa junta insignificante simplesmente n\u00e3o era recoberta e ocultada da melhor maneira poss\u00edvel; ela era intrincadamente articulada, interminavelmente expressada, voluptuosamente discutida pelos cr\u00edticos e masoquisticamente celebrada. [14]<\/a><\/p>\n<\/blockquote>\n

da pr\u00e1tica \u00e0 teoria do desenho<\/h3>\n

\u00c9 desej\u00e1vel, portanto, que nos debrucemos mais detidamente sobre os desenhos e especifica\u00e7\u00f5es que resultam nas obras constru\u00eddas que admiramos, de modo a lhes conhecer os pormenores que tornaram poss\u00edveis a comunica\u00e7\u00e3o com os executores e sua feitura a contento. Se nosso produto de trabalho \u00e9 o desenho, \u00e9 natural e desej\u00e1vel que nos detenhamos com mais vagar na reflex\u00e3o acerca do que nos consome mais tempo e esfor\u00e7o \u2013 o Projeto Executivo e a obra \u2013 que nos valores art\u00edsticos emanados dos Desenhos de Apresenta\u00e7\u00e3o<\/em> constantes nos estudos preliminares feitos em uma semana. \u00c9 natural que desejemos desenvolver uma esp\u00e9cie de \u201cTeoria do Projeto Executivo\u201d, ou \u201cTeoria do Desenho\u201d.<\/em><\/p>\n

\u00c9 nesta documenta\u00e7\u00e3o, em sua clareza, em sua capacidade de comunica\u00e7\u00e3o e s\u00edntese de id\u00e9ias, que est\u00e1 um dos fatores indicativos de um bom projeto de arquitetura \u2013 e frequentemente de uma boa obra executada. Se a constru\u00e7\u00e3o, por suas avantajadas dimens\u00f5es, for\u00e7osamente \u00e9 composta por v\u00e1rios elementos e componentes, \u00e9 no modo como ordenamos esta composi\u00e7\u00e3o e conciliamos as partes e materiais que est\u00e1 o cerne de nosso labor. \u00c9 no desenvolvimento de cada parede, de cada janela, onde os valores fundadores do projeto s\u00e3o testados e reavaliados, e as partes questionam de volta o autor sobre a pertin\u00eancia do todo. \u00c9 nessa ret\u00f3rica do jogo construtivo que se determina a medida de coes\u00e3o e integridade de uma obra, e consequentemente sua durabilidade \u2013 preocupa\u00e7\u00e3o premente em tempos de escassez de recursos n\u00e3o-renov\u00e1veis.<\/p>\n

Para ser levado \u00e0 execu\u00e7\u00e3o, um projeto passa por uma amplia\u00e7\u00e3o de escala, pela divis\u00e3o do todo em partes sucessivamente menores, representadas em eleva\u00e7\u00f5es, se\u00e7\u00f5es e perspectivas devidamente especificadas. Se este conjunto de desenhos \u00e9 coeso em sua ordena\u00e7\u00e3o e homog\u00eaneo em sua representa\u00e7\u00e3o, sua compreens\u00e3o \u00e9 enormemente facilitada. Ao representar plantas, cortes e fachadas do conjunto da edifica\u00e7\u00e3o, o arquiteto escolhe os elementos e componentes cujo custo, complexidade ou import\u00e2ncia para o conjunto requerem desenho ampliado. A partir dessa escolha inicial, o detalhamento \u00e9 agrupado normalmente em sua ordem de execu\u00e7\u00e3o e import\u00e2ncia, em pequenos conjuntos aut\u00f4nomos que podem ser enviados a sub-empreiteiros. Esta aparente autonomia do detalhe exige um estrito controle do autor de modo a harmonizar os pr\u00f3prios elementos entre si, mantendo a unidade do conjunto e a coes\u00e3o dos conceitos desenvolvidos. <\/em><\/p>\n

Quando se desenvolve um projeto plenamente e se acompanha sua execu\u00e7\u00e3o, cai por terra o mito do projeto ideal<\/em> surgido platonicamente na cabe\u00e7a do arquiteto a priori<\/em>, do qual a mat\u00e9ria seria apenas um p\u00e1lido reflexo. \u00c9 ali, na lida com as coisas concretas, suas vontades, suas afinidades e limita\u00e7\u00f5es, que surgem as inven\u00e7\u00f5es duradouras. \u00a0Dentro desta vis\u00e3o, o conceito original do edif\u00edcio, normalmente entendido como uma declara\u00e7\u00e3o inicial de inten\u00e7\u00f5es por seu autor, converte-se em objeto de di\u00e1logo com a realidade mediado pelo desenho, conforme nos explica Carlos A. Leite Brand\u00e3o, para quem<\/p>\n

\n

nem o conceito \u00e9 da pura ordem da subjetividade e da teoria, nem o projeto e a obra s\u00e3o da pura ordem da objetividade e da pr\u00e1tica emp\u00edrica. O conceito se faz na pr\u00f3pria representa\u00e7\u00e3o e na pr\u00f3pria constru\u00e7\u00e3o. E para o cr\u00edtico interessa compreender os conceitos nessa fala do projeto, e n\u00e3o na id\u00e9ia original do autor, a qual creio sempre permanecer inacess\u00edvel, inclusive ao pr\u00f3prio autor. O conceito est\u00e1 na obra e no projeto, e n\u00e3o na subjetividade do arquiteto. Ele mora no desenho, na maquete ou na imagem virtual – e n\u00e3o no pensamento do autor ou no contexto s\u00f3cio econ\u00f4mico – e \u00e9 l\u00e1, em primeiro lugar, que ele deve ser perseguido pelo cr\u00edtico ou int\u00e9rprete. Essa representa\u00e7\u00e3o, portanto, n\u00e3o \u00e9 a mera persegui\u00e7\u00e3o de uma id\u00e9ia que sempre insiste em fugir, mas um dos momentos em que o pr\u00f3prio conceito se formula[15]<\/strong><\/a><\/p>\n<\/blockquote>\n

O desenho de execu\u00e7\u00e3o, portanto, vai al\u00e9m da apresenta\u00e7\u00e3o <\/em>de uma id\u00e9ia. Ele \u00e9 sua representa\u00e7\u00e3o<\/em>, e como tal estabelece uma rela\u00e7\u00e3o dial\u00e9tica e din\u00e2mica com ela.<\/p>\n

A tecnologia digital rompeu a barreira imposta originalmente pelo meio do livro impresso. Hoje, pode-se publicar arquivos de pranchas inteiras de desenho no mesmo espa\u00e7o em que antes se apresentava um texto e alguns diagramas. Com essa nova possibilidade, um novo campo de valora\u00e7\u00e3o da obra publicada vem \u00e0 tona. \u00c9 poss\u00edvel testemunhar o modo pelo qual o arquiteto comunicou-se com os executores, \u00e9 poss\u00edvel aferir o grau de realiza\u00e7\u00e3o das inten\u00e7\u00f5es originais, \u00e9 poss\u00edvel aprender com os erros e triunfos dos colegas, trazendo \u00e0 tona um campo de conhecimento t\u00e3o vital e t\u00e3o esquecido pela cultura de nosso campo. Num momento futuro, talvez alguma tecnologia de CAD\/CAM substitua o velho desenho t\u00e9cnico, mas esta \u00e9 uma outra discuss\u00e3o…<\/p>\n


\n

notas<\/h3>\n

[1]<\/a> Renaissance treatises define architectural \u201corders\u201d (columns, capitals, lintels, etc.) that are singularly lacking in material weight. What are they made out of? Wood, marble, stone, brick, stucco? How are they made? By whom? With what instruments? At what price? The books don\u2019t tell us. <\/em>Carpo, Architecture in the Age of Printing<\/em>, 7.<\/p>\n

[2]<\/a> Mart\u00ednez, Ensaio sobre o projeto<\/em>, 15.<\/p>\n

[3]<\/a> Macedo, \u201cDeixar de pensar no estilo.\u201d<\/p>\n

[4]<\/a> A passagem de Sylvia Ficher explica a conota\u00e7\u00e3o desta express\u00e3o, t\u00e3o recorrente na teoria da arquitetura: \u201cQuando n\u00f3s falamos em arquitetura cl\u00e1ssica<\/strong>, somos n\u00f3s que falamos em arquitetura cl\u00e1ssica<\/strong>, que adjetivamos o termo arquitetura<\/strong>. At\u00e9 meados do s\u00e9culo XVIII, quando se dizia arquitetura<\/strong> \u2013 obviamente estou me referindo ao contexto ocidental, europeu \u2013 n\u00e3o era preciso adjetivar: arquitetura<\/strong> queria dizer arquitetura cl\u00e1ssica<\/strong>, caso n\u00e3o fosse cl\u00e1ssica, n\u00e3o era arquitetura. E n\u00e3o apenas quando se tratava de edif\u00edcios de exce\u00e7\u00e3o. Se uma edifica\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 cl\u00e1ssica, n\u00e3o \u00e9 arquitetura<\/strong>: \u00e9 uma constru\u00e7\u00e3o<\/strong>. \u00c9 por essa raz\u00e3o que ainda se fala uma bobagem dessas: \u201cmera constru\u00e7\u00e3o<\/strong>\u201c… […] O caso brasileiro \u00e9 extremo. Ou seja, mais ainda do que nos Estados Unidos ou na Europa, aqui, naquele momento \u2013 no nosso caso, da d\u00e9cada de quarenta em diante \u2013 Arquitetura<\/strong> \u00e9 Arquitetura Moderna<\/strong>. Se n\u00e3o \u00e9 Arquitetura Moderna<\/strong>, n\u00e3o \u00e9 Arquitetura<\/strong>, <\/em>tout court, n\u00e3o \u00e9 entendida pelos arquitetos como Arquitetura: \u00e9 constru\u00e7\u00e3o […]\u201d<\/em> in Ficher, \u201cReflex\u00f5es sobre o p\u00f3s-modernismo,\u201d 5.<\/p>\n

[5]<\/a> Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Normas T\u00e9cnicas, NBR 13532\/1995<\/em>, 3.<\/p>\n

[6]<\/a> Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Normas T\u00e9cnicas, NBR 13531\/1995<\/em>, 2.<\/p>\n

[7]<\/a> Instituto de Arquitetos do Brasil, Tabela de Honor\u00e1rios<\/em>.<\/em><\/p>\n

[8]<\/a> Atualmente, a \u00fanica norma da ABNT espec\u00edfica de desenho arquitet\u00f4nico \u00e9 a NBR 6492\/1994 \u2013 Representa\u00e7\u00e3o de projetos de arquitetura.<\/p>\n

[9]<\/a> He has, for some reason or another, stepped out of his \u2018r\u00f4le\u2019, taken a look at the scene around him and then become obsessed with the importance not of architectures, but of the relation <\/strong>of architecture to other things. This is exactly what happened. The architect has walked out of himself, rather like a second personality is seen to walk out of the first in a psycological film. He has (to pursue this metaphor for a moment), left the first personality at the drawing board and taken the second (the \u2018live\u2019 personality) on a world-tour of contemporary life \u2013 scientific research, sociology, psychology, engineering, the arts and a great manu other things. Returning to the drawing-board he finds the fist personality embarrassing and profoundly unattractive. There he stubbornly sits, smelling slightly of \u2018the styles\u2019. So the second personality sits down beside him and painfully guides his hand.<\/em> In Summerson, \u201cThe mischievous analogy,\u201d 197.<\/p>\n

[10]<\/a> A seguinte anedota ilustra bem o lament\u00e1vel quadro de confus\u00e3o mental de alguns de nossos colegas nesse sentido. Certa vez, participando de uma banca de um Trabalho Final de Gradua\u00e7\u00e3o<\/em> em arquitetura, advertimos que o aluno n\u00e3o havia dotado um edif\u00edcio de seis pavimentos de escadas protegidas contra inc\u00eandio, em desacordo com as normas vigentes. Seu orientador saiu em sua defesa, afirmando: \u201cas regras est\u00e3o a\u00ed para serem quebradas<\/em>\u201d.<\/p>\n

[11]<\/a> Conv\u00e9m lembrar que, ao contr\u00e1rio dos engenheiros, a maioria \u2013 sen\u00e3o a totalidade \u2013 dos oper\u00e1rios da constru\u00e7\u00e3o civil carece de instru\u00e7\u00e3o formal no que concerne \u00e0 elabora\u00e7\u00e3o e interpreta\u00e7\u00e3o de desenhos t\u00e9cnicos, suas conven\u00e7\u00f5es e suas t\u00e9cnicas.<\/p>\n

[12]<\/a> Cf. Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Escrit\u00f3rios de Arquitetura – AsBEA. Diretrizes gerais para intercambialidade de projetos em CAD: integra\u00e7\u00e3o entre projetistas, construtoras e clientes<\/em>. Organizado por Henrique Cambiaghi, Sa\u0303o Paulo: Pini, 2002. \u00a0199p.<\/p>\n

[13]<\/a> Ferro, \u201cArquitetura nova,\u201d 55.<\/p>\n

[14]<\/a> (…) in certain kinds of panelized or otherwise prefabricated buildings, the joint between parts \u2013 that endlessly troublesome and endlessly multiplied joint, the source of leaks, of buckling, of corrosion, of discoloration, of much fuss and bother and expense \u2013 this miserable joint was not merely not covered up and done away with as best as possible; it was intricately articulated, interminably expressed, volubly discussed by the critics, and masochistically celebrated. In Blake, Form Follows Fiasco<\/em>, 61.<\/p>\n

[15]<\/a> Brand\u00e3o, \u201cLinguagem e arquitetura: o problema do conceito.\u201d<\/p>\n


\n

refer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas<\/h3>\n

Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Normas T\u00e9cnicas. NBR 13531 : Elabora\u00e7\u00e3o de projetos de edifica\u00e7\u00f5es – atividades t\u00e9cnicas<\/em>. Rio de Janeiro, 1995.<\/p>\n

\u2014\u2014\u2014. NBR 13532 : Elabora\u00e7\u00e3o de projetos de edifica\u00e7\u00f5es – Arquitetura<\/em>. Rio de Janeiro, 1995.<\/p>\n

Blake, Peter. Form follows fiasco: why Modern Architecture hasn’t worked<\/em>. Boston \/ Toronto: Little, Brown, 1977.<\/p>\n

Brand\u00e3o, Carlos Ant\u00f4nio Leite. \u201cLinguagem e arquitetura: o problema do conceito.\u201d Interpretar Arquitetura<\/em>, Novembro 2000. http:\/\/www.arquitetura.ufmg.br\/ia\/<\/a>.<\/p>\n

Carpo, Mario. Architecture in the age of printing: orality, writing, typography, and printed images in the history of architectural theory<\/em>. Traduzido por Sarah Benson. Cambridge, Mass: MIT Press, 2001.<\/p>\n

Ferro, Se\u0301rgio. \u201cArquitetura nova.\u201d In Arquitetura e trabalho livre,<\/em> 47-58. S\u00e3o Paulo: Cosac Naify, 2006.<\/p>\n

Ficher, Sylvia. \u201cReflex\u00f5es sobre o p\u00f3s-modernismo.\u201d MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo,<\/em> Mar\u00e7o 9, 2007.<\/p>\n

Instituto de Arquitetos do Brasil. Tabela de Honor\u00e1rios : condi\u00e7\u00f5es de contrata\u00e7\u00e3o e remunera\u00e7\u00e3o do Projeto de Arquitetura da edifica\u00e7\u00e3o.<\/em> http:\/\/www.iab.org.br<\/a>.<\/p>\n

Macedo, Danilo Matoso. \u201cDeixar de pensar no estilo.\u201d MDC – Revista de Arquitetura e Urbanismo,<\/em> Janeiro 19, 2009. http:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/01\/19\/deixar-de-pensar-no-estilo\/<\/a>.<\/p>\n

Mart\u00ednez, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto.<\/em> Traduzido por Ane Lise Spaltemberg. Arquitetura e Urbanismo. Brasi\u0301lia: Unb, 2000.<\/p>\n

Summerson, John. \u201cThe mischievous analogy.\u201d In Heavenly mansions and other essays on architecture, <\/em>195-218. New York\/London: W. W. Norton, 1963.<\/p>\n


\n

danilo matoso macedo<\/strong>
\nArquiteto e Urbanista (UFMG, 1997), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 2002), Especialista em Pol\u00edticas P\u00fablicas e Gest\u00e3o Governamental (ENAP, 2004), editor da revista mdc<\/strong>.<\/p>\n

contato<\/strong>: correio@danilo.arq.br | www.danilo.arq.br<\/a><\/p>\n

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Danilo Matoso Macedo<\/p>\n","protected":false},"author":6206942,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_coblocks_attr":"","_coblocks_dimensions":"","_coblocks_responsive_height":"","_coblocks_accordion_ie_support":"","advanced_seo_description":"","jetpack_seo_html_title":"","jetpack_seo_noindex":false,"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_publicize_feature_enabled":true,"jetpack_social_post_already_shared":false,"jetpack_social_options":{"image_generator_settings":{"template":"highway","enabled":false},"version":2}},"categories":[15077410,3919],"tags":[5827728,21474500,15256766,5042777,1721139,15205682],"class_list":["post-2897","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-danilo-matoso","category-opiniao","tag-desenho-arquitetonico","tag-detalhes-de-arquitetura","tag-editoriais-mdc","tag-pratica-profissional","tag-projeto-arquitetonico","tag-site-mdc"],"jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_likes_enabled":true,"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/plwdR-KJ","jetpack-related-posts":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2897","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/6206942"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2897"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2897\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":2908,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2897\/revisions\/2908"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2897"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2897"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2897"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}