{"id":2932,"date":"2009-06-17T14:01:55","date_gmt":"2009-06-17T17:01:55","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=2932"},"modified":"2009-06-17T14:21:03","modified_gmt":"2009-06-17T17:21:03","slug":"oscar-niemeyer-alem-da-cronica-de-uma-praca-anunciada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/06\/17\/oscar-niemeyer-alem-da-cronica-de-uma-praca-anunciada\/","title":{"rendered":"Oscar Niemeyer al\u00e9m da cr\u00f4nica de uma pra\u00e7a anunciada"},"content":{"rendered":"

Sobre o projeto da<\/em> <\/em><\/a>Pra\u00e7a da Soberania<\/a><\/em>, de Oscar Niemeyer.<\/em><\/p>\n

Eduardo Pierrotti Rossetti<\/p>\n

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\"Plataforma<\/a><\/p>\n

\u201c…provisoriamente<\/em>\u201d. Assim, com a indica\u00e7\u00e3o desta possibilidade latente \u00e9 que o Arquiteto Oscar Niemeyer encerrou sua participa\u00e7\u00e3o direta nos embates acerca de seu projeto para a \u201cPra\u00e7a da Soberania<\/em>\u201d na Esplanada dos Minist\u00e9rios, em Bras\u00edlia.<\/p>\n

Somente os mais incautos poderiam supor que o maior arquiteto atuante no campo brasileiro fosse deixar a \u00faltima palavra sobre seu projeto com a imprensa, com \u201ca popula\u00e7\u00e3o<\/em>\u201d, com outros arquitetos ou mesmo com pesquisadores e estudiosos da arquitetura \u2014os \u201cespecialistas<\/em>\u201d! Enquanto acatava \u201cprovisoriamente<\/em>\u201d o veredicto sobre sua proposi\u00e7\u00e3o para uma interven\u00e7\u00e3o no vazio soberano da Esplanada dos Minist\u00e9rios, Oscar Niemeyer retomava o problema para redefinir uma nova solu\u00e7\u00e3o para a \u201cPra\u00e7a da Soberania<\/em>\u201d. A nova vers\u00e3o para esta Pra\u00e7a tornou-se p\u00fablica em 27 de maio, quando da abertura da exposi\u00e7\u00e3o \u201cOscar Niemeyer 1999-2009<\/em>\u201d e do lan\u00e7amento do quarto n\u00famero da revista Nosso Caminho<\/em>, que traz em sua capa a primeira vers\u00e3o da Pra\u00e7a da Soberania<\/em>. Essa nova vers\u00e3o foi divulgada dois dias depois pelo jornal Correio Braziliense<\/em>, justamente no dia em que o Arquiteto proferiu uma aula aos estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Bras\u00edlia.<\/p>\n

Neste novo projeto para a Pra\u00e7a da Soberania<\/em>, Oscar Niemeyer apresenta uma solu\u00e7\u00e3o que claramente indica a considera\u00e7\u00e3o de alguns aspectos que foram bastante criticados naquele primeiro projeto, para al\u00e9m da quest\u00e3o do tombamento e da possibilidade legal de construir a Pra\u00e7a \u2014quest\u00e3o para a qual o IPHAN tem toda compet\u00eancia e legitimidade para decidir. O novo projeto de Oscar Niemeyer, descrito como sendo \u201cUma modifica\u00e7\u00e3o irrecus\u00e1vel<\/em>\u201d[1]<\/a> prop\u00f5e uma altera\u00e7\u00e3o significativa na dimens\u00e3o e na implanta\u00e7\u00e3o do obelisco (ou monumento<\/em>), deslocando-o do eixo da Esplanada onde se situava originalmente, reduzindo sua altura pela metade, passando a ter 50m.[2]<\/a> Al\u00e9m disso, o Memorial dos Presidentes<\/em> passou a ser implantado paralelamente \u00e0s vias do Eixo Monumental, aproximando-se da Via S1. Este Memorial<\/em> tornou-se um bloco retil\u00edneo, dialogando formalmente com um novo edif\u00edcio de implanta\u00e7\u00e3o equivalente com uso indicado de \u201cmuseu\/exposi\u00e7\u00f5es<\/em>\u201d. Tudo agenciado sobre uma superf\u00edcie graficamente homog\u00eanea, provavelmente seca, sem fatores indicativos sobre o car\u00e1ter construtivo e mat\u00e9rico, sem maiores informa\u00e7\u00f5es sobre a implanta\u00e7\u00e3o e suas conex\u00f5es com os setores culturais Norte e Sul, ou suas conex\u00f5es com a Plataforma Rodovi\u00e1ria. Sem essas e outras precis\u00f5es, pretender abordar a nova vers\u00e3o do projeto da Pra\u00e7a, torna-se apenas uma oportunidade especulativa.<\/p>\n

Nesta vers\u00e3o atual do projeto, o arquiteto reconhece a import\u00e2ncia fundamental da visibilidade do conjunto arquitet\u00f4nico monumental projetado por ele mesmo a partir do risco de Lucio Costa e apreendido desde a Plataforma Rodovi\u00e1ria \u2014cuja autoria \u00e9 de Lucio Costa. Assim, muito mais do que um mero ajuste entre os edif\u00edcios da nova vers\u00e3o da Pra\u00e7a, \u00e9 sintom\u00e1tica a manuten\u00e7\u00e3o deste di\u00e1logo atemporal com Lucio Costa evidenciado na argumenta\u00e7\u00e3o de Niemeyer sobre a nova solu\u00e7\u00e3o: \u201c…senti que, sem querer<\/strong>, tinha atendido ao desejo de se manter uma visibilidade total da Rodovi\u00e1ria at\u00e9 a Pra\u00e7a dos Tr\u00eas Poderes.<\/em>\u201d[3]<\/a> Trata-se de uma altera\u00e7\u00e3o projetual muito significativa, que evidencia tamb\u00e9m que Oscar Niemeyer reviu seu entendimento de que a Plataforma da Rodovi\u00e1ria seria apenas um mero cruzamento de viadutos, conquanto se configura de fato como lugar articulador da vida urbana.[4]<\/a><\/p>\n

A segunda vers\u00e3o da Pra\u00e7a da Soberania<\/em> deve ser compreendida mais como uma resposta de Oscar Niemeyer ao campo da arquitetura \u2014incluindo a\u00ed tamb\u00e9m os \u201cespecialistas<\/em>\u201d\u2014 do que uma indica\u00e7\u00e3o de sua efetiva vontade de constru\u00ed-la. A edi\u00e7\u00e3o dominical do Correio Braziliense<\/em> j\u00e1 revelou a posi\u00e7\u00e3o oficial do Governo do Distrito Federal de que o \u201cprojeto n\u00e3o sair\u00e1 do papel<\/em>\u201d.[5]<\/a> Assim, a nova vers\u00e3o da Pra\u00e7a parece ter uma exist\u00eancia com inicio, meio e fim j\u00e1 anunciados, sem pretender causar maiores debates ou sem pretender suscitar efetivas pol\u00eamicas. Ao que parece, ao mesmo tempo em que Oscar Niemeyer entende que n\u00e3o poderia deixar a terceiros a \u00faltima palavra sobre o seu projeto, ele quer demonstrar que ainda est\u00e1 apto para assimilar cr\u00edticas e re-estabelecer um di\u00e1logo prof\u00edcuo com seu pr\u00f3prio campo, como uma de suas respostas \u00e0 entrevista do Correio Braziliense<\/em> indica. Indagado se foi um gesto de humildade modificar o projeto, ele responde: \u201cL\u00f3gico. Fiz o que \u00e9 justo, correto…<\/em>\u201d[6]<\/a> Menos do que um recuo, trata-se de um ind\u00edcio da capacidade do longevo arquiteto de rever suas pr\u00f3prias posi\u00e7\u00f5es perante as diversas circunst\u00e2ncias, como historicamente j\u00e1 fizera antes, no final dos anos 50, quando da publica\u00e7\u00e3o de \u201cDepoimento<\/em>\u201d.[7]<\/a><\/p>\n

Trata-se tamb\u00e9m de uma rea\u00e7\u00e3o muito diferente do pol\u00eamico enfrentamento que ele travou com o projeto do novo audit\u00f3rio para o Parque do Ibirapuera em S\u00e3o Paulo, quando tentou efetuar uma altera\u00e7\u00e3o em sua marquise. Em meados dos anos 90, quando proferiu uma aula magna na FAU-USP, Oscar Niemeyer encerrou seu discurso com a \u00faltima obra que pautava o debate corrente no campo, demarcando sua vivaz presen\u00e7a. Naquela ocasi\u00e3o, o Museu de Arte Contempor\u00e2nea de Niter\u00f3i foi a obra que arrematava sua trajet\u00f3ria, fato equivalente com o que ocorreu no dia 29 de maio, quando ele encerrou mais uma exposi\u00e7\u00e3o sobre sua pr\u00f3pria trajet\u00f3ria perante alunos, familiares, imprensa e autoridades, mostrando a segunda vers\u00e3o para a Pra\u00e7a da Soberania<\/em>. Qual ser\u00e1 a pr\u00f3xima obra ou o pr\u00f3ximo grande projeto a integrar essa trajet\u00f3ria? Isto \u00e9 imposs\u00edvel saber, mas ao que tudo indica, enquanto ele, Oscar Niemeyer, estiver projetando e vislumbrando suas novas arquiteturas, fato seguro \u00e9 que permanecer\u00e1 distante da unanimidade.<\/p>\n

A produ\u00e7\u00e3o\u00a0 recente do arquiteto nos \u00faltimos dez, quinze anos demonstra que Oscar Niemeyer permanece envolvido com demandas e programas complexos, tais como: universidades, centros administrativos ou complexos culturais de m\u00faltiplo uso, museus… S\u00e3o em grande parte projetos que correspondem a um \u201ctema mais forte<\/em>\u201d segundo ele, exigindo arquiteturas de car\u00e1ter representativo, c\u00edvico ou com uma abrang\u00eancia urbana de car\u00e1ter e escala monumental. Para resolver tais edif\u00edcios, Niemeyer assinala a perman\u00eancia de suas estrat\u00e9gias projetuais, especulando, depurando, refor\u00e7ando e ampliando o seu reconhecido repert\u00f3rio formal. Al\u00e9m das superf\u00edcies preponderantemente secas que idealmente embasam as obras, muitas c\u00fapulas, blocos ou edif\u00edcios pavilhonares, marquises e rampas predominam nesta produ\u00e7\u00e3o, sendo articulados e agenciados para resolver mais a plasticidade do conjunto que a diversa gama de programas que devem abrigar. Os croquis de Niemeyer, que antes enunciavam estrutura e forma a um s\u00f3 tempo, agora cederam lugar \u00e0s imagens produzidas pela computa\u00e7\u00e3o gr\u00e1fica, que direta e figurativamente constroem a pr\u00f3pria imagem do fato arquitet\u00f4nico. Contudo, o concreto se mant\u00e9m como o material inerente ao seu projetar. Sendo hoje\u00a0 preponderantemente branco, o concreto possibilita a Oscar Niemeyer definir as solu\u00e7\u00f5es formais, os v\u00e3os, os balan\u00e7os e as dimens\u00f5es que lhe s\u00e3o rotineiras: 50m, 200m, 300x300m, 150m de altura, etc.<\/p>\n

Reiteradamente, a forma emerge como \u00edndice mais evidente e assumido de seu discurso, constituindo-se como uma chave de acesso espec\u00edfica para compreender a formula\u00e7\u00e3o de seu racioc\u00ednio construtivo, formal e simb\u00f3lico. Oscar Niemeyer refor\u00e7a a quest\u00e3o da forma como sendo a quest\u00e3o praticamente \u00fanica e exclusiva da arquitetura. Sua fala de praxe defende que \u201carquitetura \u00e9 inven\u00e7\u00e3o<\/em>\u201d,[8]<\/a> e enfatiza que o controle sobre a forma \u00e9 o problema projetual a ser enfrentado. Indiretamente, Niemeyer parece considerar secund\u00e1rias as prementes circunst\u00e2ncias do projetar para as quais concorrem as novas tecnologias construtivas, as legisla\u00e7\u00f5es, os novos materiais, as demandas sos programas arquitet\u00f4nicos contempor\u00e2neos, os suportes e linguagens de produ\u00e7\u00e3o e representa\u00e7\u00e3o do projeto, as quest\u00f5es urbanas, as quest\u00f5es ambientais, as especificidades sociais e as oportunidades pol\u00edticas. Deste modo, seu discurso lan\u00e7a indaga\u00e7\u00f5es sobre como produzir tecnologicamente, como explorar simb\u00f3lica e plasticamente, como conceber as formas \u2014novas e outras formas. Em meio \u00e0s decis\u00f5es excludentes e \u00e0s subordina\u00e7\u00f5es que regem o ato de projetar \u2014ou seja, elaborar a inven\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica\u2014 a forma continua a ser a quest\u00e3o fundamental que Oscar Niemeyer prop\u00f5e e deixa a todo o campo, para al\u00e9m da cr\u00f4nica de uma pra\u00e7a anunciada, efetivamente.<\/p>\n


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notas<\/h3>\n

[1]<\/a> Trata-se do t\u00edtulo do texto de apresenta\u00e7\u00e3o que acompanha o projeto que est\u00e1 na\u00a0 exposi\u00e7\u00e3o \u201cOscar Niemeyer 1999-2009<\/em>\u201d aberta no dia 28 de maio na Galeria Anna Maria Niemeyer, com visita\u00e7\u00e3o at\u00e9 31 de julho. Note-se que este novo desenho e o texto n\u00e3o constam do livro hom\u00f4nimo, lan\u00e7ado nesta mesma ocasi\u00e3o.<\/p>\n

[2]<\/a> Deve ser notado que na proposi\u00e7\u00e3o apresentada na exposi\u00e7\u00e3o \u201cOscar Niemeyer 1999-2009<\/em>\u201d aberta no dia 27 de maio na Galeria Anna Maria Niemeyer, a \u00faltima frase do texto que acompanha o projeto indica uma altura de 30m: \u201cO monumento ter\u00e1 trinta metros de altura<\/em>\u201d (sic).<\/p>\n

[3]<\/a> Trata-se de uma frase que acompanha o desenho integrante da exposi\u00e7\u00e3o \u201cOscar Niemeyer 1999-2009<\/em>\u201d aberta em 27\/maio de 2009 na Galeria Anna Maria Niemeyer. Grifos adicionais.<\/p>\n

[4]<\/a> Sobre a Plataforma Rodovi\u00e1ria, adianto que h\u00e1 um artigo em elabora\u00e7\u00e3o sobre ela.<\/p>\n

[5]<\/a> Vide \u201cPra\u00e7a de Niemeyer sai dos planos<\/em>\u201d. Correio Braziliense<\/em>, 31\/maio\/2009, p.31.<\/p>\n

[6]<\/a> Vide Correio Braziliense<\/em>, 29\/maio\/2009, p.25.<\/p>\n

[7]<\/a> Vide M\u00f3dulo<\/em> n\u00ba.09, fev\/1958. pp.03-06.<\/p>\n

[8]<\/a> Frase proferida por Niemeyer novamente em sua aula, no dia 29\/maio\/2009.<\/p>\n


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refer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas<\/h3>\n

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ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e Destino<\/strong>. S\u00e3o Paulo: \u00c1tica, 2001.<\/p>\n

Correio Braziliense<\/em>. Edi\u00e7\u00f5es: 29\/05\/2009; 30\/05\/2009 e 31\/05\/2009;<\/p>\n

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VALLE, Marco Antonio Alves do. Desenvolvimento da forma e procedimentos de projeto na arquitetura \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 de Oscar Niemeyer (1935-1998)<\/strong>. S\u00e3o Paulo\/FAU-USP, Tese de Doutorado, 2000.<\/p>\n

XAVIER, Alberto (Org.). Depoimento de uma gera\u00e7\u00e3o<\/strong>. S\u00e3o Paulo: Cosac & Naify, 2003.<\/p>\n

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Eduardo Pierrotti Rossetti<\/strong><\/p>\n

Arquiteto, doutor em arquitetura e urbanismo, pesquisador-pleno e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Bras\u00edlia<\/p>\n

Leia mais sobre a Pra\u00e7a da Soberania em mdc.<\/strong><\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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