Jos\u00e9 Eduardo Ferolla<\/p>\n<\/div>\n

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A moda agora \u00e9 falar em \u201ccasa inteligente\u201d, contudo qualquer curioso logo descobre sobre o que, de fato, a este respeito est\u00e3o falando: casa inteligente, para a m\u00eddia nem tanto, \u00e9 a mesma coisa, apenas adornada de gadgets<\/em> destinados a algum tipo de automa\u00e7\u00e3o.
\nH\u00e1, de fato, edifica\u00e7\u00f5es inteligentes, como outras bem burras, mas n\u00e3o devido a esta – no jarg\u00e3o automobil\u00edstico – tecnologia embarcada.
\nFosse o bastante, muito carro nem deixaria que entrassem certos motoristas.
\nO que seria, ent\u00e3o, uma casa inteligente?
\nA quest\u00e3o antecede o projeto.
\nCome\u00e7a pelo lugar escolhido. Por que s\u00e3o mais valorizados os terrenos em aclive desde a rua se nestes gastamos mais arrimos e perdemos muito com acessos, privacidade e \u00e1rea \u00fatil quando comparados aos terrenos em declive?
\nQuase sempre lote em aclive n\u00e3o \u00e9 a escolha mais inteligente.
\nA nossa topografia \u00e9 complicada. Aqui, ent\u00e3o, nem se fala, mas uma vista vende – e h\u00e1 quem compre – barrancos vi\u00e1veis s\u00f3 para circula\u00e7\u00e3o de bodes s\u00f3 para usufruir de um panorama que amanh\u00e3 vai virar extra\u00e7\u00e3o de min\u00e9rio ou ser tampado por um edif\u00edcio.
\nMais inteligente \u00e9 comprar lote melhor e sair pra curtir a vista. Cada vez, uma vista diferente.
\nConv\u00e9m avaliar tamb\u00e9m a orienta\u00e7\u00e3o solar, principalmente perante a topografia. Um terreno voltado para a nascente \u00e0s vezes n\u00e3o recebe, dali, insola\u00e7\u00e3o alguma devido ao sombreamento de algum morro pr\u00f3ximo. Muitas vezes at\u00e9 mesmo uma edifica\u00e7\u00e3o pr\u00f3xima, ou cont\u00edgua, poder\u00e1 acabar com o sol.
\nComo implantar a casa no lote?
\nNa maioria das vezes s\u00e3o desenvolvidas longitudinalmente, deixando dois becos laterais mal iluminados para devassar o vizinho, ou ser por ele devassado.
\nInteligente \u00e9 construir transversalmente, se poss\u00edvel de divisa a divisa: a casa, abrindo apenas para a maior extens\u00e3o do terreno, que usualmente \u00e9 a profundidade, usufrui mais das suas \u00e1reas livres, e com mais privacidade.
\nO mundo anda violento e os muros subindo.
\nEstamos construindo pris\u00f5es para n\u00f3s mesmos. Aqui a eletr\u00f4nica tem, de fato, muito a contribuir, com solu\u00e7\u00f5es mais eficientes e de menor transtorno est\u00e9tico do que cercas eletrificadas e \u201cconcertinas\u201d (como foram arrumar nome t\u00e3o bonito para aqueles enrolados de arames farpados de terras-de-ningu\u00e9m militares?).
\nInteligente \u00e9 a casa cujo muro, participando da est\u00e9tica da arquitetura, j\u00e1 seja a fachada, e n\u00e3o uma barreira entre esta e a rua, sem agredir a vizinhan\u00e7a, favorecendo acesso a moradores, convidados e servi\u00e7os.
\nQuanto \u00e9 preciso construir neste nosso clima permitindo 80% do ano usar a varanda, que \u00e9 onde todos preferimos ficar? A casa m\u00e9dia japonesa tem 40m\u00b2. Ser\u00e3o eles t\u00e3o mais pobres? Nossas fam\u00edlias est\u00e3o menores e mais vol\u00e1teis, j\u00e1 as casas, s\u00f3 aumentando. Criamos dois filhos em 200m\u00b2. Hoje, com uma filha j\u00e1 casada, sobram 30m\u00b2, mais outros tantos onde ficamos semanas sem entrar. Pra qu\u00ea escrit\u00f3rio se voc\u00ea \u00e9 do tipo que nunca trabalha em casa? Pra qu\u00ea biblioteca se voc\u00ea gosta mesmo \u00e9 de ler no banheiro? Pra qu\u00ea suntuosa sala de jantar se o povo n\u00e3o sai da copa e da cozinha, agora rebatizadas de espa\u00e7o gourmet<\/em>? Pra qu\u00ea home movie<\/em> se voc\u00ea acaba mesmo vendo os filmes no aconchego da sua cama?
\nN\u00e3o me cabe questionar os que podem, nem aqueles que, por raz\u00f5es at\u00e9 profissionais, precisam de grandes espa\u00e7os para receber, mesmo assim, ao dimensionar nossas casas, conv\u00e9m lembrar que s\u00f3 ocupamos um espa\u00e7o de cada vez, e mesmo ali ainda podemos sobrepor usos diversos.
\nO planeta est\u00e1 esquentando.
\nAgora \u00e9 moda usar vidros duplos at\u00e9rmicos e \u00e9 um conforto o ar condicionado, contudo geralmente s\u00e3o empregados estes recursos para corrigir erros do projeto: seriam dispens\u00e1veis numa constru\u00e7\u00e3o protegida dos excessos do sol, aproveitando uma brisa conduzida pela sombra ou pela \u00e1gua que, naturalmente, e de gra\u00e7a, amenizaria o clima interno.
\nInteligente \u00e9 uma casa fresca e clara, preferencialmente aberta para leste e sul, poupando energia.
\nEsta orienta\u00e7\u00e3o, entretanto, n\u00e3o \u00e9 regra geral: se a moradia estiver em altitudes superiores a 1.400m, como a nossa, vamos precisar de muito sol, principalmente \u00e0 tarde, para aquec\u00ea-la nas noites de inverno.
\nUma casa n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 constru\u00e7\u00e3o, \u00e9 o resultado do di\u00e1logo desta com as \u00e1reas livres.
\nLugares para servi\u00e7o e conviv\u00eancia precisam de extens\u00f5es descobertas e um bom projeto determina, a\u00ed, \u00e1reas de lazer separadas de varais.
\nImportante tamb\u00e9m o papel da vegeta\u00e7\u00e3o: um jardim bem planejado continua l\u00e1 fora a arquitetura, ajuda no sombreamento onde desej\u00e1vel e cria barreiras visuais para favorecer a privacidade.
\nA \u00e1gua vai ficar escassa, mas grassa uma obsess\u00e3o escatol\u00f3gica por banheiros.
\nNa nossa inf\u00e2ncia, com fam\u00edlias bem mais numerosas, compartilh\u00e1vamos, sem problemas, um, no m\u00e1ximo dois, agora enchemos nossas casas de su\u00edtes e vangloriamo-nos da economia do aquecimento solar…
\nChove demais em BH.
\nInteligente \u00e9 a casa que armazena e aproveita deste aguaceiro para faxina, irriga\u00e7\u00e3o e descarga sanit\u00e1ria.
\nInteligente \u00e9 parar de desperdi\u00e7ar e reciclar, para que dure mais o que ainda resta da Terra.
\n\u00c9 usar corretamente o terreno, que um erro, nele, n\u00e3o ter\u00e1 mais conserto.
\n\u00c9 rever nosso estilo de vida, despindo-o das ef\u00eameras \u201ctend\u00eancias\u201d impostas pelo consumo. O \u00faltimo lan\u00e7amento de Mil\u00e3o ser\u00e1 descartado pelo pr\u00f3ximo, do ano que vem, e n\u00e3o se troca de casa nem de mob\u00edlia como se troca de roupa, logo conv\u00e9m dimensionar correta e conscientemente os espa\u00e7os das nossas necessidades, dos nossos desejos.
\n\u00c9 escolher, ao edificar, a solu\u00e7\u00e3o com o menor impacto ambiental e consumo energ\u00e9tico, materiais mais dur\u00e1veis e de menor manuten\u00e7\u00e3o, respeitando o vizinho e os lugares p\u00fablicos, \u00e9 por a\u00ed afora.
\nA partir de casas inteligentes para cidad\u00e3os inteligentes iremos tornando nossas cidades inteligentes.<\/p>\n

$\"AI-MarioVale\"$ <\/a><\/p>\n

\n
explica\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria<\/h4>\n
Desenterrei este artigo in\u00e9dito, escrito \u00e0s v\u00e9speras de um Brasil x Cro\u00e1cia (bonito, o uniforme deles, sempre achei), numa conversa outro dia com o Danilo, o qual insistiu em sua publica\u00e7\u00e3o. Mesmo eu argumentando que n\u00e3o havia sido escrito para arquitetos, mas para uma se\u00e7\u00e3o dominical de meia p\u00e1gina de um jornal mineiro, o qual n\u00e3o s\u00f3 o descartou como tamb\u00e9m descartou a mim de seus \u201ccolaboradores\u201d por motivos que nem valem mais a pena recordar, tamanha a baixaria da editora. Mesmo eu achando que ele fosse, de certa forma, \u201cdatado\u201d, ele argumentou que era um texto que ele mandaria para os pais dele, e mandou, o que muito me lisonjeou. Ent\u00e3o, l\u00e1 vai…<\/p>\n
Dedico isso ao grande amigo M\u00e1rio por esta incr\u00edvel ilustra\u00e7\u00e3o.
\nT\u00e1 certo: arquitetura inteligente tem que andar bem acompanhada.<\/p>\n
\n
Jos\u00e9 Eduardo Ferolla<\/strong><\/p>\n
Engenheiro arquiteto, urbanista e professor da Escola de Arquitetura da UFMG,
\nque anda por a\u00ed \u2013 fazer o que – a projetar casas cada vez maiores…
\nJun 06<\/p>\n
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