{"id":3073,"date":"2009-07-02T11:52:29","date_gmt":"2009-07-02T14:52:29","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=3073"},"modified":"2009-07-02T12:22:14","modified_gmt":"2009-07-02T15:22:14","slug":"arte-urgente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/07\/02\/arte-urgente\/","title":{"rendered":"Arte urgente"},"content":{"rendered":"
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\"bandeirinhasManifesto em defesa da exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica das Obras de Arte Brasileiras<\/h4>\n

Ana Luiza Nobre<\/p>\n<\/div>\n

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A exposi\u00e7\u00e3o “Volpi: dimens\u00f5es da cor”, fica at\u00e9 domingo no Instituto Moreira Salles. \u00c9 uma ocasi\u00e3o \u00fanica para ver um seleto conjunto dos trabalhos de Volpi, que depois do dia 5 n\u00e3o voltar\u00e1 a ser visto sequer no cat\u00e1logo que acompanha a exposi\u00e7\u00e3o. Isso porque ambos – exposi\u00e7\u00e3o e cat\u00e1logo – foram feitos sem a autoriza\u00e7\u00e3o dos herdeiros de Volpi, que t\u00eam cobrado valores exorbitantes para a exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica de qualquer imagem do artista, e agora amea\u00e7am processar o IMS.<\/p>\n

No caso de Volpi, os herdeiros n\u00e3o cobraram apenas pela exibi\u00e7\u00e3o de obras que sequer lhe pertencem (os propriet\u00e1rios s\u00e3o colecionadores que as cederam para uma exposi\u00e7\u00e3o aberta gratuitamente ao p\u00fablico). Num del\u00edrio de poder e arrog\u00e2ncia, chegaram a exigir que os textos do cat\u00e1logo lhe fossem entregues antes, para sua aprova\u00e7\u00e3o.
\nN\u00e3o \u00e9 um caso isolado, infelizmente. No Brasil, v\u00e1rios herdeiros de artistas t\u00eam tido comportamento semelhante. Pouco importa se com isso inviabilizam a divulga\u00e7\u00e3o da pr\u00f3pria obra pela qual dizem zelar. E, no limite, mesmo a reflex\u00e3o sobre a arte no Brasil.<\/p>\n

Nas \u00faltimas semanas, v\u00e1rios artigos e mat\u00e9rias sa\u00edram na imprensa do Rio e de S\u00e3o Paulo (“Fam\u00edlia de Volpi cobra R$ 100 mil por imagens do artista e impede cat\u00e1logo”, em O Globo<\/em> de 13 de junho de 2009; “A dana\u00e7\u00e3o da heran\u00e7a”, de Ferreira Gullar, na Folha de S. Paulo<\/em> de 21.jun; e “Marca de Fam\u00edlia”, tamb\u00e9m na Folha<\/em>, de 30.jun). Hoje, cr\u00edticos e historiadores da arte e da arquitetura lan\u00e7am um “manifesto em defesa da exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica das obras de arte brasileiras”, que tamb\u00e9m assinei e reproduzo aqui, na \u00edntegra. Ades\u00f5es e divulga\u00e7\u00e3o s\u00e3o urgentes.<\/p>\n


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Ana Luiza Nobre<\/strong><\/p>\n

Arquiteta (UFRJ), Doutora em Hist\u00f3ria (PUC-Rio), Professora de Teoria e Hist\u00f3ria da Arquitetura no Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio<\/p>\n

Post publicado originalmente no blog Posto 12<\/a><\/p>\n


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manifesto em defesa da exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica das obras de arte brasileiras<\/h3>\n

A Lei dos Direitos Autorais brasileira transfere aos herdeiros legais, por 70 anos ap\u00f3s a morte do artista, os direitos de autor e de imagem de obras de arte. Na pr\u00e1tica, isso significa que os herdeiros legais t\u00eam o direito de autorizar ou n\u00e3o a exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica dessas obras (mesmo quando estas pertencem a terceiros), e tamb\u00e9m o de cobrar por isso. Lei e pr\u00e1tica n\u00e3o s\u00e3o ex\u00f3ticas: regimes legais an\u00e1logos vigoram em diversas partes do mundo.<\/p>\n

No Brasil, entretanto, a vig\u00eancia da lei tem dado lugar a situa\u00e7\u00f5es inusitadas, com herdeiros legais solicitando de institui\u00e7\u00f5es culturais pagamento de quantias que, na pr\u00e1tica, inviabilizam a exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica de obras de arte \u2013 seja em exposi\u00e7\u00f5es, seja em cat\u00e1logos e livros. H\u00e1, de resto, caso recente de representante legal de herdeiro que, em meio \u00e0 negocia\u00e7\u00e3o de condi\u00e7\u00f5es de autoriza\u00e7\u00e3o de publica\u00e7\u00e3o de obras, solicitou da institui\u00e7\u00e3o promotora o envio pr\u00e9vio dos textos cr\u00edticos que acompanhariam a reprodu\u00e7\u00e3o das obras. De toda evid\u00eancia, o objetivo era exercer controle sobre informa\u00e7\u00f5es e interpreta\u00e7\u00f5es de obra e artista, o que \u00e9 inaceit\u00e1vel.<\/p>\n

N\u00e3o obstante seu valor \u201ccultural\u201d, obras de arte n\u00e3o est\u00e3o alijadas do mundo das transa\u00e7\u00f5es e dos interesses comerciais, muito ao contr\u00e1rio. \u00c9 leg\u00edtima portanto a interpreta\u00e7\u00e3o de que, conforme prev\u00ea a Lei brasileira, os detentores dos direitos autorais e de imagem de obras de arte sejam remunerados quando de sua utiliza\u00e7\u00e3o em eventos e publica\u00e7\u00f5es cujos fins s\u00e3o manifestamente comerciais. Bem entendido, nem sempre a distin\u00e7\u00e3o entre \u201cfins culturais\u201d e \u201cfins comerciais\u201d \u00e9 clara, tanto mais quando se lida com eventos e projetos pertencentes \u00e0 chamada \u201cind\u00fastria cultural\u201d. Parece portanto igualmente leg\u00edtimo que os detentores dos direitos autorais e de imagem de obras de arte sejam adequadamente remunerados (a partir de bases de c\u00e1lculo razo\u00e1veis e transparentes, compat\u00edveis com a realidade financeira do evento, e que tomem como refer\u00eancia valores consagrados internacionalmente) quando de sua exibi\u00e7\u00e3o em exposi\u00e7\u00f5es com ingressos pagos e de sua reprodu\u00e7\u00e3o em cat\u00e1logos comercializados. Inversamente, no caso de uso para fins estritamente acad\u00eamicos, n\u00e3o deve jamais caber cobran\u00e7a.<\/p>\n

H\u00e1 algo, no entanto, que deve preceder e obrigatoriamente pautar a discuss\u00e3o sobre a distin\u00e7\u00e3o entre \u201cfins culturais\u201d e \u201cfins comerciais\u201d, e, por conseguinte, tamb\u00e9m a disputa sobre as condi\u00e7\u00f5es de remunera\u00e7\u00e3o dos detentores dos direitos autorais e de imagem de obras de arte: o dever prec\u00edpuo e inalien\u00e1vel dos herdeiros de promover a exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica e a ampla circula\u00e7\u00e3o das obras que lhes foram legadas. No caso de acervo de bens de comprovado valor cultural, o interesse patrimonial (privado) deve conviver, n\u00e3o se antepor ao interesse cultural (p\u00fablico).<\/p>\n

A id\u00e9ia de que o leg\u00edtimo direito de remunera\u00e7\u00e3o pode preceder o dever da exibi\u00e7\u00e3o e divulga\u00e7\u00e3o p\u00fablica da obra de arte \u00e9 inadmiss\u00edvel. O empenho por parte de alguns herdeiros, motivado por demanda comercial desmedida ou impertinente, em obstruir a exibi\u00e7\u00e3o p\u00fablica de obra de arte de artista desaparecido n\u00e3o \u00e9 apenas absurdo, \u00e9 imoral.<\/p>\n

1\u00ba de Julho de 2009.<\/p>\n

Ab\u00edlio Guerra, Agnaldo Farias, Ana Luiza Nobre, Carlos Z\u00edlio, Cec\u00edlia Cotrim, Fernando Cocchiarale, Ferreira Gullar, Gl\u00f3ria Ferreira, Guilherme Wisnik, Jo\u00e3o Masao Kamita, Ligia Canongia, Luiz Camillo Osorio, Otavio Leon\u00eddio, Paulo Sergio Duarte, Paulo Venancio, Renato Anelli, Roberto Conduru, Rodrigo Naves, Ronaldo Brito, Sophia Telles, Suely Rolnik, Tadeu Chiarelli.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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