{"id":3236,"date":"2009-09-10T21:14:51","date_gmt":"2009-09-11T00:14:51","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=3236"},"modified":"2009-09-15T11:18:34","modified_gmt":"2009-09-15T14:18:34","slug":"o-aeroporto-de-brasilia-merece-respeito","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2009\/09\/10\/o-aeroporto-de-brasilia-merece-respeito\/","title":{"rendered":"O Aeroporto de Bras\u00edlia merece respeito"},"content":{"rendered":"
Igor Soares Campos<\/p>\n<\/div>\n
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A sociedade brasileira \u00e9 ref\u00e9m de uma cultura nada democr\u00e1tica. Vivemos um per\u00edodo em que nunca, na hist\u00f3ria desse Pa\u00eds, se presenciou tamanho desprezo \u00e0s rela\u00e7\u00f5es profissionais, \u00e9ticas e morais. Acompanhamos atentos as den\u00fancias e os esc\u00e2ndalos freq\u00fcentes que se instalaram em nossos \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos.<\/p>\n
No Brasil, \u00e9 poss\u00edvel afirmar que os princ\u00edpios fundamentais que asseguram \u00e0s sociedades civilizadas a estabilidade de suas institui\u00e7\u00f5es, bem como a integridade da conviv\u00eancia humana, est\u00e3o fragilizados. \u00c9 clara a instaura\u00e7\u00e3o gradativa de uma pr\u00e1tica nada salutar entre aqueles que conduzem os destinos da na\u00e7\u00e3o. Somos surpreendidos, n\u00e3o raro, por decis\u00f5es pessoais reducionistas, pr\u00f3prias do autoritarismo de \u00e9pocas nada memor\u00e1veis da hist\u00f3ria do Pa\u00eds.\u00a0 Desmerecem profissionais reconhecidos em suas respectivas \u00e1reas de conhecimento. Descartam investimentos substanciais que a sociedade despendeu na forma\u00e7\u00e3o de t\u00e9cnicos qualificados para enfrentar os desafios do desenvolvimento sustent\u00e1vel. S\u00e3o posturas que atentam contra as maiores riquezas do povo brasileiro, sua criatividade, originalidade e espontaneidade.<\/p>\n
Em recente mat\u00e9ria publicada pelo Correio Braziliense, intitulada Conflito no ar<\/em><\/a>, \u00e9 flagrante a superficialidade e, ao mesmo tempo, a inadequa\u00e7\u00e3o dos argumentos expostos pela Infraero para defender a expans\u00e3o do Aeroporto Internacional Juscelino Kubistchek \u00e0 revelia do bom senso. Sem a necess\u00e1ria fundamenta\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, os respons\u00e1veis pela Estatal afirmam que a concep\u00e7\u00e3o do Aeroporto de Bras\u00edlia \u00e9 antiga e ineficaz. A alega\u00e7\u00e3o seria de todo leviana se n\u00e3o fosse completamente infundada. Tenta deslocar para a concep\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica o que \u00e9 responsabilidade da gest\u00e3o de funcionamento do terminal. Os tumultos eventualmente verificados, tanto no presente quanto no passado, como ocorreu no per\u00edodo do chamado apag\u00e3o a\u00e9reo, s\u00e3o conseq\u00fc\u00eancias lament\u00e1veis da falta de planejamento adequado, e n\u00e3o de defici\u00eancias do projeto arquitet\u00f4nico. Sobram imagens dos aglomerados humanos nos terminais aeroportu\u00e1rios que, \u00e0 \u00e9poca, esgotavam-se \u00e0 espera de atendimento, desamparados, sem conforto nem seguran\u00e7a. A imprensa mostrou, com riqueza de detalhes, o desrespeito aos direitos m\u00ednimos dos cidad\u00e3os. Ainda assim, o terminal, cujo projeto original nunca foi conclu\u00eddo, permitiu atravessar a crise, mesmo com todos os transtornos mencionados.<\/p>\n Assim, a desordem do aeroporto n\u00e3o se deve ao insucesso da Arquitetura. O projeto arquitet\u00f4nico do terminal de passageiros do Aeroporto Internacional Juscelino Kubistchek \u00e9 reconhecido e premiado internacionalmente pela sua qualidade inquestion\u00e1vel. Tentar desqualific\u00e1-lo com a pecha de antiquado \u00e9 interromper, de maneira abrupta, a evolu\u00e7\u00e3o natural de sua hist\u00f3ria. Lembra a indu\u00e7\u00e3o violenta de um aborto, cujos interesses fogem \u00e0 compreens\u00e3o. O edif\u00edcio n\u00e3o foi conclu\u00eddo na sua totalidade. Continua incompleto. Tampouco foi levado a termo o respectivo plano de expans\u00e3o que previa, j\u00e1 em 1996, dois novos terminais, hotel, mall comercial, edif\u00edcio garagem, entre outras fun\u00e7\u00f5es.<\/p>\n Refer\u00eancias internacionais que configuram paradigmas em todas as atividades humanas devem sempre servir de modelos exemplares. Com efeito, experi\u00eancias bem sucedidas merecem ser tamb\u00e9m objeto de an\u00e1lise quando da elabora\u00e7\u00e3o de projetos arquitet\u00f4nicos. O primeiro terminal de passageiros do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, foi concebido na d\u00e9cada de sessenta pelo arquiteto Paul Andreu. Ainda hoje, mant\u00e9m-se \u00edntegro, austero, operando dentro da capacidade planejada. A concep\u00e7\u00e3o inicial daquele projeto arquitet\u00f4nico n\u00e3o foi descaracterizada. Ao contr\u00e1rio, o edif\u00edcio permanece intacto, testemunho vivo de um per\u00edodo na hist\u00f3ria da constru\u00e7\u00e3o de aeroportos. O referido complexo aeroportu\u00e1rio franc\u00eas possui atualmente cerca de nove terminais, concebidos em \u00e9pocas distintas. Todos, projetados pelo mesmo arquiteto, refletem o compromisso com a arquitetura de seu tempo, sem qualquer preju\u00edzo para os usu\u00e1rios. Exemplo claro e incontest\u00e1vel de planejamento eficiente e adequado.<\/p>\n A arquitetura como bem cultural \u00e9 consenso universal. Sem ela seria imposs\u00edvel conhecer a pr\u00f3pria hist\u00f3ria da humanidade. Respeit\u00e1-la, na inteireza de seus projetos, \u00e9 marco civilizat\u00f3rio insubstitu\u00edvel. Por isso, modificar o projeto arquitet\u00f4nico do Aeroporto de Bras\u00edlia sem consultar o seu autor, como pretende a Infraero, \u00e9 desrespeitar a legisla\u00e7\u00e3o vigente para modificar o valioso patrim\u00f4nio cultural e art\u00edstico da capital da Rep\u00fablica.<\/p>\n