{"id":325,"date":"2006-02-28T17:02:51","date_gmt":"2006-02-28T19:02:51","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=325"},"modified":"2009-02-04T05:44:07","modified_gmt":"2009-02-04T07:44:07","slug":"pensando-em-escolas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2006\/02\/28\/pensando-em-escolas\/","title":{"rendered":"Pensando em escolas"},"content":{"rendered":"

\"mdc<\/a><\/p>\n

\u00c1lvaro Puntoni<\/p>\n

[Ler o artigo em PDF]<\/strong><\/a><\/p>\n

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Existe continuidade, porque negar o legado de pessoas inteligentes seria uma estupidez. [2]<\/p>\n<\/blockquote>\n

Desta forma o arquiteto portugu\u00eas Eduardo Souto Moura reagiu ao ser indagado sobre seu percurso na Escola do Porto, seu trabalho e suas rela\u00e7\u00f5es com Fernando T\u00e1vora e Alvaro Siza. Continuidade [3] e, outro termo tamb\u00e9m utilizado por ele, compatibilidade, s\u00e3o palavras interessantes e poderiam auxiliar a moderar esta discuss\u00e3o a ser promovida pelo MDC acerca da persist\u00eancia da Arquitetura Moderna.<\/p>\n

N\u00e3o abdicar de uma intelig\u00eancia constru\u00edda talvez seja o ponto de partida para o estabelecimento de um poss\u00edvel e desej\u00e1vel denominador comum na Arquitetura Contempor\u00e2nea Brasileira.<\/p>\n

N\u00e3o se trata de simplesmente aceitar passivamente ou renegar as experi\u00eancias anteriores, como quem escolhe fortuitamente um caminho, mas saber valorizar o que de essencial e significativo elas realizaram e as suas possibilidades de desdobramento e multiplica\u00e7\u00e3o no presente momento, como quem procura conhecer todas as veredas de um caminho.<\/p>\n

Nesse sentido, seria interessante sublinhar a id\u00e9ia de Escola para contribuir com a pauta do MDC. Existe uma Escola Brasileira?<\/p>\n

Considerando a diversidade da produ\u00e7\u00e3o da Arquitetura Brasileira Contempor\u00e2nea, as diferen\u00e7as regionais, todos os outros \u201cpaises dentro do pa\u00eds\u201d, as in\u00fameras faculdades de arquitetura, talvez seja uma tarefa \u00e1rdua definir esta Escola. Talvez sejam v\u00e1rias Escolas.<\/p>\n

A Arquitetura Moderna Brasileira, fundada na d\u00e9cada de quarenta a partir do empenho de uma gera\u00e7\u00e3o \u00fanica e not\u00e1vel de arquitetos como Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Sergio Bernardes, Jorge Moreira, entre outros no Rio de Janeiro, foi fomentada principalmente pela a\u00e7\u00e3o governamental. Correspondia esta a\u00e7\u00e3o a um anseio do Estado Novo de se mostrar com uma imagem moderna e os arquitetos convocados, juntamente com os artistas de outras \u00e1reas, souberam aproveitar este momento hist\u00f3rico.<\/p>\n

Quase que simultaneamente, a Arquitetura Moderna se estabelece em S\u00e3o Paulo, sob uma matriz diversa e mais relacionada \u00e0 iniciativa particular e a funda\u00e7\u00e3o das escolas [4] com arquitetos fundamentais como Rino Levi, Abelardo de Sousa, Helio Duarte, Eduardo Corona, Oswaldo Bratke, Vilanova Artigas , entre outros. Trata-se de um momento impressionante e vigoroso da Arquitetura Moderna\u00a0 em S\u00e3o Paulo. Artigas (Polit\u00e9cnica, 1935) representa uma refer\u00eancia por sua postura ideol\u00f3gica e os desdobramentos de suas a\u00e7\u00f5es incisivas no ensino, al\u00e9m obviamente da qualidade de suas obras.<\/p>\n

Da primeira, a Escola Carioca, pouco restou, al\u00e9m de um patrim\u00f4nio de obras representativas e significativas, mas \u00fanicas. Apesar da influ\u00eancia que exerceram no pa\u00eds, n\u00e3o encontraram aparentemente resson\u00e2ncia e aprofundamento em um processo de forma\u00e7\u00e3o e ensino no Rio de Janeiro da mesma forma que ocorreu em S\u00e3o Paulo, a Escola Paulista, duas vezes \u201cescola\u201d, portanto.<\/p>\n

O v\u00ednculo das faculdades de S\u00e3o Paulo com a Engenharia Civil \u2013 ambos os cursos adv\u00eam do curso Polit\u00e9cnico \u2013 marcam uma das principais caracter\u00edsticas da Arquitetura Paulista que \u00e9 a valoriza\u00e7\u00e3o e, muitas vezes, a sublima\u00e7\u00e3o da raz\u00e3o construtiva. Uma arquitetura que se explica silenciosamente por meio da l\u00f3gica de seus espa\u00e7os e solu\u00e7\u00f5es estruturais e, mais uma vez, assume o papel de escola.<\/p>\n

Em S\u00e3o Paulo segue uma segunda gera\u00e7\u00e3o t\u00e3o importante quanto a pioneira: Carlos Milan, Joaquim Guedes, F\u00e1bio Penteado, Pedro Paulo Saraiva, Eduardo de Almeida, Abra\u00e3o Sanovicz, \u00cdcaro de Castro, Marcos Acayaba, entre outros, com destaque para Paulo Mendes da Rocha. Formado no Mackenzie (1954), Mendes da Rocha ganha o concurso para o Gin\u00e1sio do Paulistano em 1957 e \u00e9 convidado por Artigas, que havia projetado a Casa Baeta no mesmo per\u00edodo, para ser professor assistente na FAUUSP. Mesmo considerando a disparidade entre o projeto de uma casa e de um clube, havia na estrutura e espa\u00e7os do Gin\u00e1sio solu\u00e7\u00f5es impressionantes e essencialmente novas. Deste encontro n\u00e3o antag\u00f4nico, mas complementar entre dois arquitetos de duas gera\u00e7\u00f5es distintas, adv\u00e9m uma arquitetura luminosa que orienta como um farol parte da atual gera\u00e7\u00e3o de arquitetos.<\/p>\n

N\u00e3o se pode deixar de mencionar ainda as contribui\u00e7\u00f5es singulares dos arquitetos que escolhem a cidade para se instalarem como Warchavchik, Rino Levi e, principalmente, Lina Bo. Aparentemente contestada pelos arquitetos paulistanos, a \u201carquiteto italiana\u201d vai contribuir de uma forma indel\u00e9vel com sua vis\u00e3o profundamente humanista e generosa, sem deixar de considerar a for\u00e7a da sua obra, que acena para a possibilidade de caminhos menos r\u00edgidos e ortodoxos na Arquitetura Paulista.<\/p>\n

Desta prof\u00edcua conviv\u00eancia pode-se afirmar que se formaram outros arquitetos e outras arquiteturas.<\/p>\n

Deve-se ressaltar que apenas 15 anos ap\u00f3s a funda\u00e7\u00e3o das faculdades de arquitetura em S\u00e3o Paulo, quando discutiam e aplicavam seus novos e promissores programas de ensino, concatenados com as demandas daquele momento hist\u00f3rico, instalou-se no Pa\u00eds a Ditadura Militar (1964) e iniciou-se um processo de destrui\u00e7\u00e3o cultural sem precedentes. Bras\u00edlia havia sido inaugurada h\u00e1 apenas tr\u00eas anos…Durante vinte anos \u201cos arquitetos velaram\u201d. [5] Cassados, censurados, cindidos politicamente, profundamente enfraquecidos era dif\u00edcil afirmar as posi\u00e7\u00f5es. Talvez fosse mais conveniente assimilar os influxos externos.<\/p>\n

Foi neste quadro que vicejou o P\u00f3s-Moderno em nossa arquitetura. Correspondia a um compreens\u00edvel anseio de uma necess\u00e1ria renova\u00e7\u00e3o de uma experi\u00eancia que aparentemente havia conduzido o pa\u00eds a um impasse, ao fim do caminho. A Arquitetura Moderna n\u00e3o havia feito a t\u00e3o desejada mudan\u00e7a social e por isso, estaria condenada a fal\u00eancia. Aparentemente estava claro, apesar de sempre se afirmar o contr\u00e1rio, que arquitetura era uma disciplina fundamental, mas que apenas desenharia a solu\u00e7\u00e3o social, esta sim pol\u00edtica e antecedente. Como dizia Artigas, era poss\u00edvel ser artista e pol\u00edtico ao mesmo tempo.<\/p>\n

\u00c9 ineg\u00e1vel, da mesma forma que ocorreu com o Estado Novo, a Ditadura e seu projeto desenvolvimentista e modernizador serviu-se da Arquitetura Moderna e pode sugerir um v\u00ednculo entre ambos. Exatamente como havia ocorrido com a assimila\u00e7\u00e3o e a burocratiza\u00e7\u00e3o dos princ\u00edpios da Arquitetura Moderna pelas corpora\u00e7\u00f5es capitalistas ap\u00f3s a sua funda\u00e7\u00e3o no in\u00edcio do s\u00e9culo XX, relacionada aos movimentos sociais e pol\u00edticos europeus. Era necess\u00e1rio rever esta hegemonia.<\/p>\n

O fato \u00e9 que a experi\u00eancia do p\u00f3s-moderno em nossa arquitetura n\u00e3o encontra o mesmo vigor da anterior, n\u00e3o se constituiu em escola.<\/p>\n

Em S\u00e3o Paulo, notadamente, as novas gera\u00e7\u00f5es de arquitetos formadas em parte pelos professores, seus alunos, os alunos dos alunos, n\u00e3o abdicaram da intelig\u00eancia constru\u00edda.<\/p>\n

Todas as \u00e1reas da cultura ressentem obviamente da aus\u00eancia de um projeto para o pa\u00eds, e n\u00e3o poderia ser diferente com a arquitetura. Mas hoje se pode acenar novamente no cen\u00e1rio da arquitetura internacional, seja nas publica\u00e7\u00f5es ou exposi\u00e7\u00f5es, com frases mais elaboradas, com constru\u00e7\u00f5es mais precisas.<\/p>\n

Neste momento de reconstru\u00e7\u00e3o do pa\u00eds, vinculado ao processo de democratiza\u00e7\u00e3o consolidado nos \u00faltimos anos, nota-se o revigoramento da Arquitetura Brasileira como express\u00e3o do fortalecimento da cultura brasileira.<\/p>\n

A import\u00e2ncia de reorganizar o Ensino nesse momento \u00e9 fundamental. As faculdades aparen\u00adtemente n\u00e3o ensinam como fazer, tampouco a pensar, o que nos conduziria a uma pergunta subseq\u00fcente: o que fazer.<\/p>\n

No entanto existe uma quest\u00e3o anterior: o fato da profiss\u00e3o n\u00e3o estar organizada pressup\u00f5e que a escola n\u00e3o necessite estar organizada.<\/p>\n

Urge a discuss\u00e3o acerca das formas poss\u00edveis de organiza\u00e7\u00e3o e a conseq\u00fcente valoriza\u00e7\u00e3o da profiss\u00e3o, seu real aprofundamento com a quest\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o e as reais demandas da sociedade.<\/p>\n

As escolas, neste quadro, s\u00e3o necessariamente, novamente ou inauguralmente, os espa\u00e7os de formula\u00e7\u00e3o das quest\u00f5es e da constru\u00e7\u00e3o do saber, fortemente vinculadas aos seus lugares. As escolas das Escolas.<\/p>\n

Considera\u00e7\u00f5es aritm\u00e9ticas a parte, um pouco po\u00e9ticas talvez, o \u201cm\u00ednimo\u201d do MDC poderia tamb\u00e9m ser \u201cm\u00e1ximo\u201d, como fosse poss\u00edvel multiplicar e deixar-se ser dividido, para ampliar o inumer\u00e1vel, em busca de uma raz\u00e3o, uma intelig\u00eancia \u00fanica, quando pode e deve ser m\u00faltipla e variada.n<\/p>\n

notas<\/h3>\n

1. Este texto foi originalmente elaborado para apresenta\u00e7\u00e3o da mostra itinerante Panorama da Arqutectura Brasile\u00f1a organizada pela Escola da Cidade e promovida pela Universidade Los Andes de Bogot\u00e1, Col\u00f4mbia.
\n2. Trigueiros, Luis. Eduardo Soto de moura. Lisboa, Editora Blau Lda., 1994. p.27
\n3. Interessante notar que a exposi\u00e7\u00e3o sobre arquitetura portuguesa em S\u00e3o Paulo em 2005 chamava Descontinuidade.
\n4. A Faculdade de Arquitetura Mackenzie \u00e9 fundada em 1947 e a FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S\u00e3o Paulo em 1948.
\n5. \u201cDo sofrimento do nosso povo, posso dizer que participei\u00a0 profundamente. Algu\u00e9m ter\u00e1 olhos para, um dia, ler nas formas que projetei, todo este sofrimento. Se ver\u00e1 uma po\u00e9tica traduzida. Enfim, os arquitetos n\u00e3o dormiram, eles velaram\u201d Depoimento de Vilanova Artigas in Vilanova Artigas, Instituto Lina Bo Bardi, 1997.<\/p>\n

\u00e1lvaro puntoni<\/strong>
\nFormou-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade de S\u00e3o Paulo (FAUUSP) em 1987. Mestrado (1999) e doutorado (2005) pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de S\u00e3o Paulo (FAUUSP). Professor desde 1990. Atualmente leciona na FAUUSP, Escola da Cidade e Universidade Anhembi Morumbi.
\nAtualmente \u00e9 membro do Grupo SP, escrit\u00f3rio de arquitetura em S\u00e3o Paulo. Participou de quarenta concursos nacionais e internacionais, dentre os quais se destacam: primeiro pr\u00eamio Concurso Nacional para o Pavilh\u00e3o do Brasil na Expo\u201992 em Sevilha (1991), primeiro pr\u00eamio Concurso Nacional de Id\u00e9ias do Memorial \u00e0 Rep\u00fablica em Piracicaba (2002), segundo pr\u00eamio Concurso Nacional par a Sede da Petrobras em Vit\u00f3ria (2005).<\/p>\n

contato:<\/strong> alvaro@puntoni.arq.br |\u00a0 www.puntoni.arq.br<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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