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arquitetura da raz\u00e3o<\/h4>\n
\u201cO genu\u00edno e aut\u00eantico estilo do nosso s\u00e9culo j\u00e1 estava constitu\u00eddo por volta de 1914\u201d [1], anunciou Nikolaus Pevsner coincidentemente ao in\u00edcio do recorte proposto pelo historiador Eric Hobsbawn para \u201co breve s\u00e9culo XX: 1914-91\u201d [2].<\/p>\n
O estilo \u00fanico ganhou impulso e o perdeu pari passu<\/em> ao projeto socialista global [3], evidente entre 1917-1968 [4]. Isto nunca caracterizou v\u00ednculo de causalidade. Demonstrou que ambos projetos se desenvolveram num mesmo substrato ideal-racional e anti-hist\u00f3rico, em circunst\u00e2ncias filos\u00f3ficas prop\u00edcias \u00e0 raz\u00e3o e \u00e0 supera\u00e7\u00e3o dos arcadismos art\u00edsticos e sociais.<\/p>\nO anti-historicismo social romperia com as rela\u00e7\u00f5es de poder consolidadas pelas classes dominantes: com o dom\u00ednio teocr\u00e1tico, com a propriedade da terra e dos meios de produ\u00e7\u00e3o. Manfredo Tafuri explica o anti-historicismo art\u00edstico como recurso hegeliano ao fim do dom\u00ednio da intui\u00e7\u00e3o na arte, a ser contraposto:<\/p>\n
\n\u201cPela autoconsci\u00eancia, pelo criticismo e pela racionaliza\u00e7\u00e3o dos processos criativos. O anti-historicismo das vanguardas modernas n\u00e3o seria, portanto, o produto de uma escolha arbitr\u00e1ria, mas a sa\u00edda l\u00f3gica da experi\u00eancia que teve epicentro na revolu\u00e7\u00e3o brunelleschiana e as suas bases no debate que durante mais de cinco s\u00e9culos se desenvolveu na cultura europ\u00e9ia\u201d [5].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Aceitou-se a est\u00e9tica internacional como alternativa coletivista e ideal-racional ao individualismo ecl\u00e9tico, de arbitr\u00e1rio e desestruturador relativismo desde o fim do s\u00e9culo XIX [6]. Divulgou-se o estilo definitivo, que substituiu o sistema ecl\u00e9tico manipulador de tipos hist\u00f3ricos pela opera\u00e7\u00e3o racional que estabelecia l\u00f3gicas entre diretrizes projetuais e formas geom\u00e9tricas abstratas. Ambos processo de projeta\u00e7\u00e3o iniciavam-se com uma op\u00e7\u00e3o conceitual eminentemente racional: fosse pelo objeto do \u201credesenho tipol\u00f3gico\u201d (ecl\u00e9tico) ou por determinar um \u201cpartido de projeto\u201d (moderno) [7].<\/p>\n
Ao redesenho tipol\u00f3gico precedia-se definir um tipo adequado \u00e0s determinantes construtivas, program\u00e1ticas, culturais ou locais. O partido tamb\u00e9m definia as diretrizes projetuais tect\u00f4nicas, funcionais, est\u00e9ticas ou topol\u00f3gicas. A diferen\u00e7a surgia na materializa\u00e7\u00e3o dessas diretrizes em formas matem\u00e1ticas (geom\u00e9tricas), visando a que a conceitua\u00e7\u00e3o e a formaliza\u00e7\u00e3o fossem l\u00f3gicas, aut\u00f4nomas e universalmente intelig\u00edveis, transcendendo o esoterismo estil\u00edstico do ecletismo.<\/p>\n
Na d\u00e9cada dos vinte, sistemas art\u00edsticos puramente abstratos tornaram poss\u00edvel a est\u00e9tica racional, que corroboraria a racionalidade construtivo-program\u00e1tica evidenciada j\u00e1 antes do racionalismo estrutural de Viollet-Le-Duc [8]:<\/p>\n
\n\u201cEm arquitetura h\u00e1 dois modos necess\u00e1rios de ser aut\u00eantico. Pode-se ser aut\u00eantico de acordo com o programa e aut\u00eantico de acordo com os m\u00e9todos de constru\u00e7\u00e3o. Ser aut\u00eantico de acordo com o programa \u00e9 cumprir exata e simplesmente as condi\u00e7\u00f5es impostas pela necessidade; ser verdadeiro de acordo com os m\u00e9todos de constru\u00e7\u00e3o \u00e9 empregar os materiais de acordo com suas qualidades e propriedades. (…) As quest\u00f5es puramente art\u00edsticas de simetria e forma aparente s\u00e3o apenas condi\u00e7\u00f5es secund\u00e1rias na presen\u00e7a de nossos princ\u00edpios dominantes\u201d [9].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Tal racionalidade construtiva e program\u00e1tica encontraria sua correspondente racionalidade pl\u00e1stica no primeiro p\u00f3s-guerra, quando vanguardas art\u00edsticas europ\u00e9ias caracterizavam sistemas est\u00e9ticos com avan\u00e7adas abstra\u00e7\u00e3o e geometriza\u00e7\u00e3o, integrando seus princ\u00edpios art\u00edsticos de composi\u00e7\u00e3o, equil\u00edbrio e express\u00e3o \u00e0 l\u00f3gica construtiva industrial e \u00e0 projeta\u00e7\u00e3o racionalista.<\/p>\n
O racionalismo abstrato estabeleceu-se como abordagem hegem\u00f4nica na arquitetura erudita ocidental gra\u00e7as \u00e0 prof\u00edcua gera\u00e7\u00e3o de repert\u00f3rio pelos pioneiros que, em algumas d\u00e9cadas, produziram alternativas sint\u00e1ticas racionalistas para mil\u00eanios de tradi\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica tipol\u00f3gica. Foram surpreendentes o desempenho do sistema arquitet\u00f4nico racionalista e as rela\u00e7\u00f5es possibilitadas entre t\u00e9cnica, est\u00e9tica, contexto e sujeito moderno.<\/p>\n
sua historiografia<\/h4>\n
Com o estilo racionalista abstrato fundou-se sua historiografia, talvez a mais consistente abordagem te\u00f3rica arquitet\u00f4nica do s\u00e9culo XX, com dissens\u00f5es efetivas apenas nos anos sessenta.<\/p>\n
A organiza\u00e7\u00e3o da exposi\u00e7\u00e3o International Style<\/em> (1932) definiu a est\u00e9tica ligada \u00e0 produ\u00e7\u00e3o dos pioneiros nos anos vinte. A coordena\u00e7\u00e3o l\u00f3gica entre a conceitua\u00e7\u00e3o te\u00f3rica e a est\u00e9tica resultante – somadas ao crescente campo de aplica\u00e7\u00e3o daquelas pressuposi\u00e7\u00f5es – motivou Pevsner, em Pioneers of the modern movement<\/em> [10], de 1936, \u00e0 dedu\u00e7\u00e3o do estilo definitivo. A tese foi aceita e enriquecida pela historiografia do primeiro p\u00f3s-guerra com Space, time and architecture<\/em> [11], publicado em 1941 por Sigfried Giedion, que especificou as interfaces sociais pelo conceito de Existenzminimun<\/em>.
\nA partir de sua g\u00eanese un\u00edvoca, o racionalismo expandiu-se e ampliou o escopo, contrariando a unicidade \u00e0 medida que se difundiu em espa\u00e7o e tempo.<\/p>\nBruno Zevi, com Storia dell\u2019architettura moderna<\/em>, de 1950, alternou a consolida\u00e7\u00e3o te\u00f3rica desempenhada pelos historiadores do primeiro p\u00f3s-guerra com a atua\u00e7\u00e3o cr\u00edtica e a historiogr\u00e1fica: \u201cO equ\u00edvoco mais difundido na historiografia da arquitetura moderna est\u00e1 na valora\u00e7\u00e3o das personalidades e das obras do per\u00edodo racionalista – 1920-33\u201d [12]. Atentou para as vertentes est\u00e9ticas que fundamentaram a express\u00e3o da racionalidade arquitet\u00f4nica moderna: \u201co cubismo, o neoplasticismo, o expressionismo, o purismo e, em pequena quantidade, o futurismo\u201d [13]. Relativizou a unicidade inicial ao apresentar as alternativas organicistas de Wright e Aalto como abordagens que incorporavam os \u00e2mbitos culturais e topol\u00f3gicos.<\/p>\nHenri Russel Hitchcock, com Architecture, nineteenth and twentieth centuries<\/em> [14], de 1958, e Leonardo Benevolo, com Storia dell\u2019architettura moderna<\/em> [15], de 1960, reiteraram a vis\u00e3o historiogr\u00e1fica de Zevi, embora em menor intensidade cr\u00edtico-propositiva, mas preservaram o determinismo supra-hist\u00f3rico que caracterizava o projeto moderno universalista.<\/p>\nA despeito da cis\u00e3o que a cr\u00edtica p\u00f3s-moderna promoveu na d\u00e9cada de sessenta, abordagens racionalistas e idealistas prosseguiram at\u00e9 findar o s\u00e9culo. Flexibilizaram o estilo \u00fanico para absorver a pulveriza\u00e7\u00e3o de tend\u00eancias significativas mas importunamente diversas. Foi sintom\u00e1tica a integra\u00e7\u00e3o – proposta por Pevsner – de Gaud\u00ed e Sant\u00b4Elia na edi\u00e7\u00e3o brasileira de Pioneiros do desenho moderno<\/em>, de 1962:<\/p>\n\n\u201cQuando escrevi este livro a arquitetura da raz\u00e3o e o funcionalismo estavam em plena expans\u00e3o em muitos pa\u00edses […]. N\u00e3o havia discuss\u00e3o sobre que Wright, Gramier, Loos, Behrens e Gropius eram os iniciadores do estilo do s\u00e9culo e que Gaud\u00ed e Sant\u00b4Elia eram caprichosos e suas inven\u00e7\u00f5es del\u00edrios fantasiosos. Agora estamos novamente rodeados de fantasistas e caprichosos, e mais uma vez \u00e9 posta em quest\u00e3o a validade do estilo cuja pr\u00e9-hist\u00f3ria \u00e9 tratada neste livro\u201d [16].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Giulio Carlo Argan, em L\u00b4arte moderna. Dall\u00b4Illuminismo ai movimenti contemporanei <\/em>[17], de 1970, situou express\u00f5es art\u00edsticas e arquitet\u00f4nicas do s\u00e9culo XX como concludentes do projeto de modernidade anunciado no renascimento, efetivado no iluminismo e esgotado [18] na sua no\u00e7\u00e3o de arte v\u00e1lida no modernismo. Para Argan, o apogeu do projeto, fundamentado na \u201cracionalidade natural da sociedade\u201d [19], caracterizou-se, em matrizes variadas, na arquitetura da d\u00e9cada dos vinte: a matriz formal (Fran\u00e7a), a metodol\u00f3gico-did\u00e1tica (Alemanha), a ideol\u00f3gica (URSS), a formalista (Holanda), a emp\u00edrica (Escandin\u00e1via) e a org\u00e2nica (EUA) [20] relacionadas \u00e0s vertentes de Zevi (1950). Manfredo Tafuri e Francesco Dal Co, com Architettura contemporanea<\/em>, de 1976 [21] – reiteravam a no\u00e7\u00e3o de projeto hist\u00f3rico.<\/p>\nKenneth Frampton, com Modern architecture – a critical view<\/em>, de 1980, aprofundara-se em tem\u00e1ticas espec\u00edficas. Agrupou autores e tend\u00eancias em cap\u00edtulos aut\u00f4nomos, embora comprometidos em \u201cilustrar de que modo a arquitetura moderna evoluiu como esfor\u00e7o cultural cont\u00ednuo\u201d [22]. Resolveu a quest\u00e3o da \u00e9poca – diversidade e inter-rela\u00e7\u00e3o de inst\u00e2ncias mundiais e locais modernistas – ao propor sintetiz\u00e1-las no conceito de regionalismo cr\u00edtico.<\/p>\nWilliam J. R. Curtis, em Modern Architecture since 1900<\/em>, de 1982, minimizaria as mais recentes rea\u00e7\u00f5es ao modernismo, atribuindo-lhes incapacidade de suplantar o discurso divergente em formas n\u00e3o extensivas de proposi\u00e7\u00f5es recorrentes no s\u00e9culo [23].<\/p>\nrumo ao novo ecletismo<\/h4>\n
As rea\u00e7\u00f5es citadas por Curtis configuraram-se nas extens\u00f5es da cr\u00edtica p\u00f3s-modernista coincidentes ao refluxo hist\u00f3rico individualista gestado nos anos sessenta.<\/p>\n
\n\u201cPode-se dizer que esta arquitetura \u00b4p\u00f3s-moderna` \u00e9 o produto de uma teoria esot\u00e9rica, articulada a partir da d\u00e9cada de 60 por alguns grupos intelectuais europeus e em algumas escolas de arquitetura americanas (em especial, a de Filad\u00e9lfia e a de Princeton), ao abrigo do estruturalismo. Com tal background ideol\u00f3gico, n\u00e3o \u00e9 surpreendente que prescreva a substitui\u00e7\u00e3o do reformismo modernista por um discurso convenientemente apol\u00edtico\u201d [24].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Em decorr\u00eancia disso a historiografia do s\u00e9culo XX abrigou, simultaneamente \u00e0 continuidade racionalista, dissens\u00f5es p\u00f3s-modernas.<\/p>\n
\n\u201cNa verdade, modas \u2018p\u00f3s-modernas\u2019, iniciadas sob v\u00e1rios nomes (desconstru\u00e7\u00e3o, p\u00f3s-estruturalismo, etc.) entre a intelligentsia de fala francesa, chegaram aos departamentos de literatura americanos, e da\u00ed ao resto das humanidades e ci\u00eancias sociais. Todos os p\u00f3s-modernismos tinham em comum um ceticismo essencial sobre a exist\u00eancia de uma realidade objetiva, e\/ou a impossibilidade de chegar a uma compreens\u00e3o aceita dessa realidade por meios racionais. Todos tendiam a um radical relativismo\u201d [25].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Prosseguiriam nos anos setenta as dissens\u00f5es ao projeto moderno. A arquitetura erudita se reatou a valores tradicionais da ordem neoliberal: conformismo social e individualismo. Ap\u00f3s ter sido relegada a coadjuvante pela supera\u00e7\u00e3o ideal-racional, a hist\u00f3ria seria reintegrada como protagonista do novo sistema.<\/p>\n
\n\u201cDurante cerca de uma gera\u00e7\u00e3o, de 1920 a 1955, a fun\u00e7\u00e3o do historiador na did\u00e1tica arquitet\u00f4nica foi semelhante \u00e0 do pat\u00e9tico proponente do brinde. A sua tarefa consistia em prestar uma homenagem, mais ou menos embara\u00e7ada, a uma continuidade cultural agora desprovida de rela\u00e7\u00e3o com o que a arquitetura considerava sua aut\u00eantica miss\u00e3o. Esta miss\u00e3o, tinham proclamado os mestres da arquitetura moderna nos anos 20, consistia em recome\u00e7ar tudo do in\u00edcio. A musa de Gropius, Mies van der Rohe, Le Corbusier, Aalto, Oud e dezenas de outros n\u00e3o admitia amores il\u00edcitos com a hist\u00f3ria\u201d [26].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Robert Venturi, em Complexity and contradiction in architecture<\/em>, de 1966 [27], prop\u00f4s reengajar \u00e0 cena erudita a individualidade essencial ao gosto popular norte-americano e seus signos hist\u00f3ricos, vernaculares, publicit\u00e1rios e cotidianos mais tradicionais. Paolo Portoghesi, em Dopo l\u00b4architettura moderna<\/em>, de 1976, explicaria as reflex\u00f5es de Venturi como decurso de tend\u00eancias identificadas na produ\u00e7\u00e3o tardia de Corbusier, Gropius e Kahn:<\/p>\n\n\u201cWright desencadeia um esc\u00e2ndalo ao citar Sullivan na fachada de uma loja de flores em S. Francisco e, ainda mais, recuperando colunas e capit\u00e9is no projeto para a grande Bagdad; Gropius desenha a embaixada americana em Atenas inspirando-se explicitamente nas ru\u00ednas do Part\u00e9non.
\n[…] Le Corbusier, […] em Chandigarh recupera a seq\u00fc\u00eancia de arcos das termas romanas e a intersec\u00e7\u00e3o das ordens de Campidoglio de Michelangelo\u201d [28].<\/p><\/blockquote>\n
Charles Jenks, em The language of post-modern architecture<\/em>, de 1977, reuniu todos como dissid\u00eancia rumo a um ecletismo leg\u00edtimo:<\/p>\n\n\u201cPodemos esperar ver a futura gera\u00e7\u00e3o de arquitetos usar a nova linguagem ecl\u00e9tica com maior confian\u00e7a. Isto parecer\u00e1 mais semelhante \u00e0 Art Nouveau do que ao International Style, incorporando a estrutura rica das refer\u00eancias do primeiro, a sua ampla disponibilidade para a met\u00e1fora, os seus escritos, a sua vulgaridade, os seus sinais simb\u00f3licos e os seus clich\u00eas, a gama inteira da express\u00e3o arquitet\u00f4nica\u201d.<\/p>\n<\/blockquote>\n
Contraposto ao recurso oportunista do relativismo arbitr\u00e1rio, o leg\u00edtimo ecletismo teve g\u00eanese conceitual na revolu\u00e7\u00e3o francesa e difundiu-se na arquitetura do s\u00e9culo XIX como abordagem erudita capaz de integrar valores regionais fundados na figura\u00e7\u00e3o do redesenho tipol\u00f3gico.<\/p>\n
\n\u201cA no\u00e7\u00e3o de ecletismo no s\u00e9culo XIX, tornou-se de uso corrente inicialmente na Fran\u00e7a na d\u00e9cada de 1830, quando foi utilizada pelo fil\u00f3sofo franc\u00eas Victor Cousin para designar um sistema de pensamento composto por diversas perspectivas obtidas a partir de v\u00e1rios outros sistemas. (…) Os Ecl\u00e9ticos reivindicavam de maneira sensata que cada um pudesse decidir racionalmente e independentemente quais fatos filos\u00f3ficos (ou elementos arquitet\u00f4nicos) utilizados no passado seriam apropriados para o presente, para ent\u00e3o reconhec\u00ea-los e respeit\u00e1-los em qualquer contexto em que pudessem aparecer\u201d [30].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Nos ulteriores desenvolvimentos das abordagens historiogr\u00e1ficas, Josep Maria Montaner, em seu livro Despu\u00e9s del movimiento moderno. Arquitectura de la segunda mitad del siglo XX<\/em>, de 1993, relatou \u201ca dispers\u00e3o das posturas arquitet\u00f4nicas\u201d [31], que diluiu as \u00faltimas propostas metodol\u00f3gicas de Rossi, Venturi e Eisenman nos anos oitenta:<\/p>\n\n\u201cSobretudo entre arquitetos mais jovens, o princ\u00edpio dos anos noventa caracterizou-se pelo abandono da confian\u00e7a nas metodologias e pelo predom\u00ednio de atitudes raivosamente ecl\u00e9ticas que tomam refer\u00eancias fragmentadas fora de seu contexto e se nutrem de imagens desconexas dentro de uma cultura eminentemente visual, em que cada vez mais predominam mecanismos de transcultura\u00e7\u00e3o, de incorpora\u00e7\u00e3o acr\u00edtica de contribui\u00e7\u00f5es de contextos d\u00edspares. Tudo se manifesta em projetos que se destacam pela incoerente mistura de refer\u00eancias heterog\u00eaneas – tipologias, imagens, po\u00e9ticas – que se contradizem por desconhecerem os autores, as diversas implica\u00e7\u00f5es e ra\u00edzes de cada tipo, forma e linguagem utilizados. E \u00e9 nessa encruzilhada de ecletismos difusos sem m\u00e9todo que se encontra a arquitetura atual\u201d [32].<\/p>\n<\/blockquote>\n
As atitudes de jovens arquitetos na d\u00e9cada de noventa retornaram a redesenhos de tipologias, elementos ou fragmentos arquitet\u00f4nicos preexistentes, embora prescindissem do apuro metodol\u00f3gico pretendido pelo autor, que concomitantemente prop\u00f4s:<\/p>\n
\n\u201cAtualmente, seguindo um esp\u00edrito cr\u00edtico e ecletista, \u00e9 poss\u00edvel desenvolver a experi\u00eancia de eleger para cada encargo e lugar concreto um sistema arquitet\u00f4nico definido, que varia quando as condi\u00e7\u00f5es do encargo e do lugar mudam. Estar\u00edamos, portanto, no momento de entender a fundo as implica\u00e7\u00f5es do pluralismo cultural sem cair ingenuamente em um reacion\u00e1rio relativismo\u201d [33].<\/p>\n<\/blockquote>\n
Montaner confirmou o processo de expans\u00e3o identificado na unicidade inicial do racionalismo abstrato com g\u00eanese nos anos vinte e no curto per\u00edodo em que aquela s\u00edntese ideal-racional da arquitetura, da sociedade e das ci\u00eancias pareceu poss\u00edvel. Iniciado o processo de expans\u00e3o, tudo conspirou para dissolver o cosmo racionalista do s\u00e9culo XX: a dispers\u00e3o de posturas arquitet\u00f4nicas, o retorno ao individualismo liberal e at\u00e9 mesmo a f\u00edsica qu\u00e2ntica [34], ainda que sob veemente protesto de Einstein: \u201cDeus n\u00e3o joga dados\u201d.<\/p>\n
Um novo ecletismo concluiu o s\u00e9culo. Enriqueceu-se pela experi\u00eancia racional abstrata, se comparado \u00e0 edi\u00e7\u00e3o do fim do s\u00e9culo XIX. Permitiu autonomia metodol\u00f3gica calcada em exercitar a racionalidade al\u00e9m da m\u00edmesis<\/em> tipol\u00f3gica. As \u201cposturas individuais\u201d que Montaner identificou \u00e0 la fin de si\u00e8cle sugerem possibilidades de expans\u00e3o bem maiores que a limitada diversidade estil\u00edstica ecl\u00e9tica caracter\u00edstica do s\u00e9culo XIX.<\/p>\nO p\u00eandulo hist\u00f3rico reincidiu sobre o pluralismo e tangenciou o absoluto relativismo. As precau\u00e7\u00f5es poderiam ter sido as usuais: erudi\u00e7\u00e3o capaz de assegurar criticismo e pertin\u00eancia de experi\u00eancias metodol\u00f3gicas – a poucos – ou delineamento e ado\u00e7\u00e3o de matrizes metodol\u00f3gicas claras e seguras – \u00e0 maioria.<\/p>\n
notas<\/h3>\n
1. PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno: de Willian Morris a Walter Gropius. 2.\u00aa ed. S\u00e3o Paulo, Martins Fontes, 1994, p. 25.
\n2. HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve s\u00e9culo XX: 1914-91. S\u00e3o Paulo, Companhia das Letras, 2.\u00aa ed., 1999, p. 7.
\n3. Idem, ibidem, p. 435. \u201cO que restava do movimento internacional comunista centrado em Moscou desintegrou-se entre 1956 e 1968, quando a China rompeu com a URSS em 1958-60\u201d.
\n4. Idem, ibidem.
\n5. TAFURI, Manfredo. Teorias e hist\u00f3ria da arquitetura. Lisboa, Editorial Presen\u00e7a, 2.\u00aa ed., 1988, p. 56-57.
\n6. PEVSNER, Nikolaus. op. cit., p. 1. Inicia o livro com fatos inusitados do projeto para instala\u00e7\u00f5es do governo brit\u00e2nico em Whitehall, Londres (1873). As discuss\u00f5es estil\u00edsticas e as altera\u00e7\u00f5es de projeto receberam descabidas interfer\u00eancias externas.
\n7. MART\u00cdNEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Bras\u00edlia, Editora UnB, 2000, p. 110. Distingue duas atitudes na projeta\u00e7\u00e3o: \u201cdesenvolver um tipo, isto \u00e9, projetar um edif\u00edcio pertencente a uma classe reconhec\u00edvel de edif\u00edcios existentes, com um referencial preciso (…) ou compor um partido que dar\u00e1 origem idealmente a um edif\u00edcio \u00fanico\u201d.
\n8. FRAMPTON, Kenneth. Hist\u00f3ria cr\u00edtica da arquitetura moderna. S\u00e3o Paulo, Martins Fontes, 1997, p. 69.
\n9. VIOLLET-LE-DUC, Eug\u00e8ne. Entretiens sur l\u00b4architecture, 1863-72. Apud FRAMPTON, Kenneth. Hist\u00f3ria cr\u00edtica da arquitetura moderna. S\u00e3o Paulo, Martins Fontes, 3.\u00aa ed., 2000. p. 69.
\n10. PEVSNER, Nikolaus. Pioneers of the modern movement, 1936. Em portugu\u00eas: PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno: de Willian Morris a Walter Gropius. S\u00e3o Paulo, Martins Fontes, 2\u00aa ed., 1994.
\n11. GIEDION, Sigfried. Space, time and architecture. Cambridge, The President and Fellows of Harvard College, 1941. Em portugu\u00eas: GIEDION, Sigfried. Espaco, tempo e arquitetura. S\u00e3o Paulo, Martins Fontes, 2005.
\n12. ZEVI, Bruno. Storia dell\u2019architettura moderna. Turim, Einaudi, 1950, p. 27.
\n13. Idem, ibidem, p. 42.
\n14. HITCHCOCK, Henri Russel. Architecture, nineteenth and twentieth centuries, 1958.
\n15. BENEVOLO, Leonardo. Storia dell\u2019architettura moderna, 1960. Em portugu\u00eas: BENEVOLO, Leonardo. Hist\u00f3ria da arquitetura moderna. S\u00e3o Paulo, Perspectiva, 1976.
\n16. PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno. Uma hist\u00f3ria do desenho aplicado e das modernas tend\u00eancias da arquitetura desde Willian Morris a Walter Gropius. Rio de Janeiro, Ulisseia, 1962, p. 19.
\n17. ARGAN, Giulio Carlo. L\u00b4arte moderna. Dall\u00b4Illuminismo ai movimenti contemporanei, 1970. Em portugu\u00eas: ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Do Iluminismo aos movimentos contempor\u00e2neos. S\u00e3o Paulo, Companhia das Letras, 1993.
\n18. ARGAN, Giulio Carlo. Salvezza e caduta nell\u00b4arte moderna. Mil\u00e3o, Il Saggiatore, 1964. p. 33. Para o autor: \u201cSinto-me despreparado para enfrentar o problema da arte de hoje, que n\u00e3o pode se colocar em termos de valor, j\u00e1 que justamente os valores e a id\u00e9ia de valor s\u00e3o contestados, e falta uma unidade de medida que n\u00e3o tenha o privil\u00e9gio do valor\u201d.
\n19. ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. Do Iluminismo aos movimentos contempor\u00e2neos. Op. cit., p. 392.
\n20. Idem, ibidem, p. 264.
\n21. TAFURI, Manfredo; DAL CO, Francesco. Architettura contemporanea. Mil\u00e3o, Electa, 1976.
\n22. FRAMPTON, Kenneth. Modern architecture – a critical view, Londres, Thames and Hudson, 1980. Em portugu\u00eas: FRAMPTON, Kenneth. Hist\u00f3ria cr\u00edtica da arquitetura moderna. S\u00e3o Paulo, Martins Fontes, 1997, p. X.
\n23. CURTIS, William J. R. Modern architecture since 1900. Londres, Phaidon, 1982, p. 7.
\n24. FICHER, Sylvia. \u201cAnota\u00e7\u00f5es sobre o p\u00f3s-modernismo\u201d. Projeto, n\u00ba 74. S\u00e3o Paulo, 1985, p. 42.
\n25. HOBSBAWN, Eric. op. cit., p. 499.
\n26. MOHOLY-NAGY, Sibyl. \u201cConfer\u00eancia em Pittsburg\u201d. Charette, abr. 1963. Apud TAFURI, Manfredo. Teorias e hist\u00f3ria da arquitetura. Lisboa, Editorial Presen\u00e7a, 2.\u00aa ed., 1988, p. 32.
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\n29. JENKS, Charles. The language of post-modern architecture, Londres, Academy Editions, 1977. Apud Portoghesi, Paolo. op. cit., p. 48.
\n30. COLLINS, Peter. Changing ideals in modern architecture 1750-1950. Montreal, McGill \/ Queen\u2019s University Press, 1965, p. 117-118.
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\n32. Idem, ibidem, p. 259.
\n33. Idem, ibidem.
\n34. Leis probabilistas da mec\u00e2nica qu\u00e2ntica contrastam com pressupostos deterministas e com a causalidade l\u00f3gica da f\u00edsica cl\u00e1ssica de Isaac Newton a Max Planck e Albert Einstein.<\/p>\n
refer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas das figuras<\/h4>\n
1. CURTIS, W. J. R. Modern Architecture Since 1900. 3a ed.
\nLondres: Phaidon, 1996. p 30.
\n2. SCULLY, V. Arquitetura Moderna. S\u00e3o Paulo: Cosac &
\nNaify, 2002. p. 55.
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\nLondres: Phaidon, 1996. p 524.
\n5. CURTIS, W. J. R. Modern Architecture Since 1900. 3a ed.
\nLondres: Phaidon, 1996. p. 607.
\n6. JODIDIO, P. Contemporary California Architects. Col\u00f4nia:
\nTaschen, 2004. p. 139.
\n7. JODIDIO, P. Architecture Now! Col\u00f4nia: Taschen, 2004. p.
\n247.
\nImagens editadas e tratadas pelo autor.<\/p>\n
Texto originalmente publicado no Portal Vitruvius – fevereiro de 2006 – http:\/\/www.vitruvius.com.br\/arquitextos\/arq000\/esp350.asp<\/a><\/p>\nrog\u00e9rio pontes andrade<\/strong>
\nGraduado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Bras\u00edlia com mestrado em Teoria e Hist\u00f3ria na mesma Institui\u00e7\u00e3o. Possui escrit\u00f3rio pr\u00f3prio desde 1996, desenvolvendo projetos de arquitetura institucionais, comerciais, residenciais e habitacionais no DF e em v\u00e1rios outros estados. Professor de Teoria e Hist\u00f3ria e Projeto de Arquitetura no UniCEUB – Bras\u00edlia DF – desde 2000.
\ncontato:<\/strong> arqrogerio@uol.com.br.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Rog\u00e9rio Pontes Andrade [Ler o artigo em PDF]<\/p>\n","protected":false},"author":6206942,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_coblocks_attr":"","_coblocks_dimensions":"","_coblocks_responsive_height":"","_coblocks_accordion_ie_support":"","advanced_seo_description":"","jetpack_seo_html_title":"","jetpack_seo_noindex":false,"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_publicize_feature_enabled":true,"jetpack_social_post_already_shared":false,"jetpack_social_options":{"image_generator_settings":{"template":"highway","enabled":false},"version":2}},"categories":[16350799,15083680,15084216],"tags":[5495449],"class_list":["post-433","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-ensaio-e-pesquisa","category-mdc-004","category-rogerio-pontes-andrade","tag-historia-da-arquitetura"],"jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_likes_enabled":true,"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/plwdR-6Z","jetpack-related-posts":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/433","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/6206942"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=433"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/433\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":1888,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/433\/revisions\/1888"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=433"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=433"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=433"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}