{"id":5425,"date":"2011-04-07T15:53:37","date_gmt":"2011-04-07T18:53:37","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=5425"},"modified":"2011-04-08T02:32:44","modified_gmt":"2011-04-08T05:32:44","slug":"um-vade-mecum-da-arquitetura-no-brasil-no-seculo-20-arquiteturas-no-brasil-1900-1990","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2011\/04\/07\/um-vade-mecum-da-arquitetura-no-brasil-no-seculo-20-arquiteturas-no-brasil-1900-1990\/","title":{"rendered":"Um vade-m\u00e9cum da Arquitetura no Brasil no s\u00e9culo 20 : Arquiteturas no Brasil 1900-1990"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

Hugo Segawa<\/p>\n

<\/em><\/p>\n

<\/em><\/p>\n

<\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em> 1<\/sup><\/a><\/sup> \u00e9 um livro que se enquadra na categoria dos comp\u00eandios. Em ingl\u00eas, seria um textbook <\/em>ou handbook<\/em>; em franc\u00eas, um manuel <\/em>ou pr\u00e9cis<\/em>; pode ser um enchiridion<\/em>. Esses termos identificam uma obra cuja natureza \u00e9 a da informa\u00e7\u00e3o abrangente de forma concisa, um sum\u00e1rio de um conjunto de conhecimentos complexos \u2013 cujo tratamento da mat\u00e9ria merece a desconfian\u00e7a de scholars<\/em>.<\/p>\n

A origem de Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em> remonta aos anos 1980. Do maior significado foi a oportunidade concedida por Vicente Wissenbach, fundador e editor da revista de arquitetura Projeto<\/em>, para eu ser um colaborador do peri\u00f3dico \u2013 de muitos modos \u2013, a partir de 1979. Era um rec\u00e9m-formado. Como resenhista, ensa\u00edsta e editor de arquitetura em diferentes momentos ao longo de dezesseis anos de milit\u00e2ncia na imprensa especializada, pude viajar, conhecer realidades distantes, arquitetos e pessoas relacionadas ao campo da arte, da constru\u00e7\u00e3o, da ind\u00fastria e um universo expandido para al\u00e9m da vida acad\u00eamica tradicional, que se iniciou formalmente em 1982, na Universidade Cat\u00f3lica de Santos. Encerrei minha colabora\u00e7\u00e3o com a revista em 1996, um ano ap\u00f3s Wissenbach deixar o comando da revista. Para a Projeto <\/em>organizei em 1988 o livro Arquiteturas no Brasil\/Anos 80<\/em>, 2<\/sup><\/a><\/sup> um mapeamento nacional da produ\u00e7\u00e3o contempor\u00e2nea brasileira. Nas in\u00fameras viagens que realizei em busca dessas arquiteturas, mantive um olhar atento para as edifica\u00e7\u00f5es e espa\u00e7os dos muitos quadrantes do pa\u00eds e de todas as \u00e9pocas.<\/p>\n

Em artigo publcado no jornal Clar\u00edn<\/em>, de Buenos Aires, em 1989, o arquiteto Tom\u00e1s Dagnino comentou:<\/p>\n

\n

A revista <\/em>Projeto, de S\u00e3o Paulo, acaba de editar um interessante volume dedicado a compendiar o vasto labor construtivo levado a cabo na \u00faltima d\u00e9cada em seu pa\u00eds.<\/em><\/p>\n

Arquiteturas no Brasil\/Anos 80 concreta, com bons coment\u00e1rios e reprodu\u00e7\u00f5es fotogr\u00e1ficas todas a cor, \u201cum trabalho pioneiro <\/em>[…] que procura identificar as tend\u00eancias da arquitetura brasileira dos anos 80 a partir de levantamentos realizados a n\u00edvel regional\u201d.<\/em><\/p>\n

E \u00e9 essa for\u00e7a das regi\u00f5es que, em diversos escritos de Hugo Segawa, est\u00e3o refletidas nas an\u00e1lises que come\u00e7am com o reconhecimento dos \u201carquitetos peregrinos\u201d, n\u00f4mades<\/em> [refere-se ao cap\u00edtulo Arquitetos, peregrinos, n\u00f4mades e migrantes] que cruzam em todos os sentidos o pa\u00eds com obras que cada vez mais foram alcan\u00e7ando maiores dimens\u00f5es. <\/em>3<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

O Prof. Jos\u00e9-Augusto Fran\u00e7a, de Lisboa, teceu alguns coment\u00e1rios em resenha publicada na revista Col\u00f3quio Artes<\/em> de dezembro de 1989:<\/p>\n

Trata-se, em suma, de fazer rever o conhecimento moderno-cl\u00e1ssico que tem norteado as classifica\u00e7\u00f5es hist\u00f3ricas do fen\u00f3meno arquitet\u00f3nico no Brasil contempor\u00e2neo, evitando uma pretens\u00e3o \u201ctotalizante\u201d, a favor de uma mais real \u201cfragmenta\u00e7\u00e3o\u201d que a \u201ccondi\u00e7\u00e3o p\u00f3s-moderna\u201d proporciona.<\/em><\/p>\n

O Professor Fran\u00e7a observou mais ao final da resenha:<\/p>\n

\n

Este texto de H. Segawa <\/em>[refere-se ao cap\u00edtulo De Bras\u00edlia a It\u00e1] \u00e9 fundamental no volume, tal como o outro que escreveu sobre os materiais, reflectindo sobre tecnologia, ecologismo e tradi\u00e7\u00e3o \u2013 e fazendo o elogio da madeira e do tijolo <\/em>[refere-se ao capitulo Os materiais da natureza e a natureza dos materiais]. Estes s\u00e3o materiais, no Brasil, do \u201chomem real\u201d, numa \u201cmodernidade n\u00e3o program\u00e1tica mas pragm\u00e1tica\u201d \u2013 \u201cuma perspectiva ainda que ut\u00f3pica, subvertedora, mas sens\u00edvel ao saber tradicional\u201d. Outro texto inicial, de H. Segawa, p\u00f5e, por seu lado, o problema da transum\u00e2ncia dos arquitetos nacionais (e estrangeiros)<\/em> [refere-se ao cap\u00edtulo Arquitetos peregrinos, n\u00f4mades e migrantes] atrav\u00e9s dos espa\u00e7os brasileiros desde a d\u00e9cada de 50 dominada pelo ensino da F.N.A.U.B., no Rio. <\/em>4<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Pessoalmente, organizar Arquiteturas no Brasil\/Anos 80<\/em> foi uma descoberta do Brasil: de suas arquiteturas, de seus arquitetos, das paisagens t\u00e3o distintas e extraordin\u00e1rias que tive o privil\u00e9gio de conhecer efetivamente.<\/p>\n

Para al\u00e9m das descobertas pessoais, posso avaliar que Arquiteturas no Brasil\/Anos 80<\/em> foi a ponta do iceberg de um trabalho que foi mais amplo e complexo, realizado na milit\u00e2ncia de um grupo de pessoas na revista Projeto<\/em>. Refiro-me a um coletivo de arquitetos e jornalistas que trabalharam na reda\u00e7\u00e3o da Projeto <\/em>entre 1979 e 1996, com intermit\u00eancias e revezamentos. Serei indelicado ao n\u00e3o nomear a todos, mas destacaria como profissionais fundamentais para a revista nesse per\u00edodo: Nildo Carlos de Oliveira (editor executivo), Denise Yamashiro (jornalista), Ruth Verde Zein (editora, ensa\u00edsta), Cec\u00edlia Rodrigues dos Santos (colaboradora, ensa\u00edsta), Guilherme Mazza Dourado (articulista, ensa\u00edsta) e Anita Regina Di Marco (articulista, ensa\u00edsta).<\/p>\n

Fernando Lara comentou sobre a revista num artigo comemorativo dos 25 anos do peri\u00f3dico:<\/p>\n

\n

Nos anos 1980, <\/em>PROJETODESIGN (sic) 5<\/sup><\/a><\/sup> firma-se como a principal revista brasileira de arquitetura e vai gradualmente acompanhando as transforma\u00e7\u00f5es por que passavam o pa\u00eds e os arquitetos. Diversifica-se a participa\u00e7\u00e3o regional na revista, com mais espa\u00e7o para arquiteturas do Sul e do Nordeste, em detrimento do Rio de Janeiro, j\u00e1 que S\u00e3o Paulo sempre contribuiu com cerca de metade do total de obras publicadas. Consolida-se a cr\u00edtica, capitaneada por Hugo Segawa, Ruth Verde Zein e Cec\u00edlia Rodrigues dos Santos, e o debate sobre a p\u00f3s-modernidade (em sua vers\u00e3o mineira ou internacional) torna-se o tema principal. Diminui o espa\u00e7o dedicado \u00e0 habita\u00e7\u00e3o popular e aos edif\u00edcios administrativos (p\u00fablicos ou privados) e percebe-se, a partir de ent\u00e3o, um aumento da presen\u00e7a de edif\u00edcios culturais, que ser\u00e1 crescente at\u00e9 os dias de hoje. <\/em>6<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Clevio Rabelo, doutorando da FAU USP, escreveu um \u2018drops\u2019 no portal Vitruvius em 2005, \u201cSobre revistas e revis\u00f5es: o que aconteceu com as revistas brasileiras de arquitetura?\u201d, do qual extrai o primeiro par\u00e1grafo:<\/p>\n

\n

Os anos 1980 foram pr\u00f3digos para a cr\u00edtica de arquitetura nacional, em especial em face \u00e0 abertura pol\u00edtica que j\u00e1 se vislumbrava. Naquele momento, o debate era animado pela circula\u00e7\u00e3o de revistas de arquitetura cujo espa\u00e7o cr\u00edtico era valorizado e incentivado. Fizeram carreira no chamado \u201cjornalismo de arquitetura\u201d, personagens de import\u00e2ncia singular, como Hugo Segawa, Jos\u00e9 Wolf, S\u00e9rgio Teperman, Anna Regina di Marco e Ruth Verde Zein<\/em>. 7<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

O significado da revista Projeto <\/em>(dirigida por Vicente Wissenbach entre 1977 e 1995) ainda est\u00e1 para ser avaliado.<\/p>\n

Uma trajet\u00f3ria em resenhas<\/strong><\/h3>\n

Sintomaticamente, a primeira resenha publicada sobre o livro foi escrita por Vicente Wissenbach, na revista Finestra\/Brasil <\/em>(que ent\u00e3o dirigia, j\u00e1 afastado da Projeto<\/em>) de outubro-dezembro de 1998:<\/p>\n

\n

Mais uma vez, Hugo Segawa nos brinda com uma contribui\u00e7\u00e3o de inestim\u00e1vel valor para o conhecimento, an\u00e1lise e compreens\u00e3o da arquitetura brasileira. Nos oferece uma obra que abre novos horizontes para o estudo de nossas arquiteturas, sem tentar ser um int\u00e9rprete oficial de nossa produ\u00e7\u00e3o.<\/em><\/p>\n

E \u00e9 exatamente essa postura, de profunda honestidade, transpar\u00eancia e rigor intelectual \u2013 que, ali\u00e1s, sempre caracterizaram sua produ\u00e7\u00e3o \u2013 que dever\u00e1 servir de est\u00edmulo para que outros pesquisadores se debrucem sobre muitos dos temas levantados nesta obra e os vejam sob enfoques particulares. <\/em>8<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

A segunda resenha foi feita para o Boletim \u00d3culum<\/em>, da PUC-Campinas (ent\u00e3o dirigida por Ab\u00edlio Guerra), de dezembro de 1998, pela Prof\u00aa Maria Beatriz de Camargo Aranha:<\/p>\n

\n

Uma hist\u00f3ria da arquitetura brasileira do s\u00e9c. 20: ousadia bem-vinda. N\u00e3o deixa de ser um ato de coragem semelhante tarefa. Por sua extens\u00e3o e complexidade, mas \u2013 principalmente \u2013 por enfrentar o esfor\u00e7o de s\u00edntese nestes nossos tempos t\u00e3o avessos a elas. <\/em>[…]. Nesse sentido, a iniciativa tem \u00eaxito: Segawa consegue equilibrar exames mais localizados e, por isso mesmo mais profundos, com an\u00e1lises de car\u00e1ter mais panor\u00e2mico. Com isso evita o retrato definitivo da arquitetura brasileira do per\u00edodo, sem se restringir \u00e0 narrativa fragmentada. <\/em>9<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

O Prof. Carlos A. C. Lemos escreveu a primeira resenha publicada na grande imprensa, na Folha de S. Paulo<\/em>, em janeiro de 1999:<\/p>\n

\n

Na verdade, os arquitetos escrevem muito pouco e aqueles que se entregam \u00e0 cr\u00edtica e \u00e0 hist\u00f3ria s\u00e3o bastante raros. Da\u00ed as lacunas e o esgar\u00e7amento de nosso acervo memorial\u00edstico alusivo \u00e0 arte de construir no Brasil \u2013 sendo mais pobre ainda na historiografia a respeito. Por isso, se reveste da maior import\u00e2ncia este ensaio do arquiteto Hugo Segawa, profissional interessado desde os tempos acad\u00eamicos nessas quest\u00f5es te\u00f3ricas, cr\u00edticas e hist\u00f3ricas de nossa arquitetura \u2013 e sua atua\u00e7\u00e3o permanente na imprensa especializada tornou-o grande conhecedor do panorama de nossas constru\u00e7\u00f5es, sobretudo das obras contempor\u00e2neas. Seu tr\u00e2nsito entre colegas em congressos, bienais, cursos e semin\u00e1rios tamb\u00e9m tornou-o atualizad\u00edssimo.<\/em><\/p>\n

Com o livro \u201cArquiteturas no Brasil \u2013 1900-1990\u201d, Hugo Segawa, com o seu aludido cabedal de conhecimentos, enfrentou a hist\u00f3ria da arquitetura moderna brasileira e se saiu muito bem. Historiar fatos, procedimentos e realiza\u00e7\u00f5es recentes com imparcialidade, quando n\u00e3o se tem uma dist\u00e2ncia ampla necess\u00e1ria \u00e0 isen\u00e7\u00e3o de \u00e2nimos, \u00e9 bastante dif\u00edcil. Compreender e relatar o que est\u00e1 se passando \u00e9 t\u00e3o penoso como resgatar de documentos velhos a verdade dos fatos hist\u00f3ricos. Esse \u00e9 o grande m\u00e9rito da obra: chegar at\u00e9 o fim do s\u00e9culo concatenando e criticando as etapas de nossa arquitetura erudita moderna, estabelecendo as rela\u00e7\u00f5es havidas com a pol\u00edtica e a economia do pa\u00eds sem tomar partido e fazendo ju\u00edzos de valores extremamente corretos.<\/em><\/p>\n

Trata-se de um livro eminentemente did\u00e1tico, que prende desde as primeiras linhas<\/em>. […].<\/p>\n

S\u00e3o 224 p\u00e1ginas que completam com maestria alguns textos esparsos j\u00e1 existentes sobre o assunto, tornando-se um livro imperd\u00edvel. <\/em>10<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

A Prof\u00aa Ruth Verde Zein, que partilhou comigo da experi\u00eancia da revista Projeto <\/em>em sua \u00e9poca de consolida\u00e7\u00e3o, resenhou o livro no Jornal da Tarde <\/em>em maio de 1999:<\/p>\n

\n

O livro de Hugo Segawa \u00e9 hist\u00f3rico \u2013 mas \u00e9 tamb\u00e9m cr\u00edtico. N\u00e3o lhe faltam informa\u00e7\u00f5es, pesquisas, dados relevantes organizados de maneira a dar ao leitor uma vis\u00e3o ampla e gen\u00e9rica da arquitetura brasileira de quase todo este s\u00e9culo \u2013 tarefa herc\u00falea que o autor n\u00e3o pretende esgotar. \u00c9 cr\u00edtico, por\u00e9m, na medida em que recorta e seleciona, analisa e valoriza, dando maior ou menor destaque a alguns eventos, obras ou tend\u00eancias que o autor considera \u2013 e por isso as seleciona \u2013 como de relev\u00e2ncia e transcend\u00eancia maior. E, principalmente, porque se recusa a uma vis\u00e3o totalizadora, un\u00edvoca e triunfal desse panorama da arquitetura brasileira. N\u00e3o tem, como o autor afirma, \u201ca pretens\u00e3o acad\u00eamica do amplo esfor\u00e7o de Yves Bruand\u201d autor do cl\u00e1ssico \u201cArquitetura Contempor\u00e2nea no Brasil\u201d. N\u00e3o privilegia arquitetos, com honrosas exce\u00e7\u00f5es a poucos mestres como Gregori Warchavchik, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Vilanova Artigas. E o faz porque deseja operar n\u00e3o com produtos mas com processos, qualificados em alguns temas que, se bem sejam organizados a partir de certa contig\u00fcidade temporal, n\u00e3o s\u00e3o meramente seq\u00fcenciais mas se superp\u00f5em parcialmente, deixando claro que, em cada momento, muitas e diferentes tend\u00eancias buscam caminhos distintos, divergentes ou convergentes, algumas vezes apenas paralelos.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

E Ruth Verde Zein enfatizava o car\u00e1ter controverso do livro:<\/p>\n

\n

Publicar um livro com essa amplitude temporal num panorama da cultura arquitet\u00f4nica brasileira onde se exibem rar\u00edssimos exemplos de outros trabalhos do mesmo porte \u2013 o mais conhecido sendo o j\u00e1 citado Bruand, que atinge apenas at\u00e9 os anos 1960, sendo os demais apenas manuais pontuais de muito menor abrang\u00eancia – \u00e9 tarefa das mais pol\u00eamicas, pois ir\u00e1 enfrentar, da parte de alguns leitores, toda a expectativa pr\u00e9via que inevitavelmente nasce da aus\u00eancia de outras fontes. O livro de Hugo Segawa se sai com galhardia desse desafio configurando-se, desde o seu lan\u00e7amento, como um cl\u00e1ssico que se tornar\u00e1 cada vez mais indispens\u00e1vel, tanto ao arquiteto formado ou em forma\u00e7\u00e3o, como a qualquer interessado em compreender as quest\u00f5es mais relevantes da arquitetura brasileira deste s\u00e9culo. <\/em>11<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

O Prof. Ab\u00edlio Guerra, ent\u00e3o em transi\u00e7\u00e3o para a constru\u00e7\u00e3o de seu portal Vitruvius<\/em>, escreveu uma resenha contemplando dois livros, um deles Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em>, no Jornal de Resenhas<\/em> \u2013 ent\u00e3o um suplemento veiculado pelo jornal Folha de S. Paulo<\/em>:<\/p>\n

\n

A sem\u00e2ntica adotada por Hugo Segawa \u2013 \u201ca busca de alguma modernidade\u201d, \u201cmodernidade pragm\u00e1tica\u201d, \u201cmodernidade corrente\u201d, \u201cepis\u00f3dios de um Brasil grande e moderno\u201d \u2013 confirma a preval\u00eancia de uma vis\u00e3o de hist\u00f3ria apoiada nos vetores gerais da evolu\u00e7\u00e3o social. Conseq\u00fcentemente, onde a narrativa segue \u00e0 risca tal estrutura, ganha mais peso e densidade. <\/em>[…]. Ao priorizar a coordenada externa da evolu\u00e7\u00e3o socioecon\u00f4mica, Segawa acaba por esvaziar<\/em> […] a faceta transgressora e engajada do modernismo. <\/em>12<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Guerra observou o car\u00e1ter de an\u00e1lise por processos, que \u00e9 um dos esquemas estruturadores do livro, e o critica por um outro vi\u00e9s que n\u00e3o foi o pretendido pelo autor. Na primeira resenha internacional sobre Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em>, publicada no Docomomo Journal<\/em> de junho de 1999, o Prof. Paul Meurs, hoje da Delft University of Technology (TU Delft) tamb\u00e9m enfatiza o enfoque por processos. Cito alguns trechos:<\/p>\n

\n

Segawa prop\u00f4s-se a uma tarefa ambiciosa: buscar os processos que constitu\u00edram a arquitetura moderna no Brasil. Como o s\u00e9culo 20 produziu v\u00e1rios ramos, escolas e trajet\u00f3rias individuais, Segawa fala de \u201carquiteturas\u201d no Brasil. Mais que em outros livros anteriores sobre o assunto, ele logra inserir o desenvolvimento da arquitetura moderna em um contexto largo, fundo e variado.<\/em> […].<\/p>\n<\/blockquote>\n

Paul Meurs segue discorrendo sobre os cap\u00edtulos e as abordagens que desenvolvi, e ao concluir, afirmou:<\/p>\n

\n

O fato de que seu livro se esgotou em poucos meses mostra que sua reflex\u00e3o sobre a arquitetura moderna no Brasil encontrou base s\u00f3lida. Este livro \u00e9 tamb\u00e9m significativo para estrangeiros com interesse no Brasil. Ele merece uma tradu\u00e7\u00e3o para o ingl\u00eas, e possivelmente isto poder\u00e1 se realizar antes do congresso do Docomomo em Bras\u00edlia em 2000. <\/em>13<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Infelizmente, o livro n\u00e3o conhece uma vers\u00e3o em ingl\u00eas.<\/p>\n

Outra resenha internacional foi feita pelo Prof. Alfonso Corona Mart\u00ednez, professor da Universidad de Belgrano de Buenos Aires, para a revista Summa+<\/em> de agosto-setembro de 1999, e reflete uma postura latino-americanista:<\/p>\n

\n

Nosso conhecimento da arquitetura dos outros pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina \u00e9 bastante esquem\u00e1tico. <\/em>[…]. Para a arquitetura moderna do continente nossa vis\u00e3o \u00e9 tamb\u00e9m bastante estereotipada. Aceitamos as maneiras de v\u00ea-la de quem escreveu do hemisf\u00e9rio norte, e quase sempre como um derivado de \u201csua\u201d arquitetura moderna.<\/em> […]. Somente em anos recentes se supera essa limita\u00e7\u00e3o logrando-se perceber os desenvolvimentos de cada pa\u00eds (pa\u00edses at\u00e9 pouco tempo muito isolados entre si e conectados de modo admirativo com outros lugares) como fatos com realidade pr\u00f3pria, e n\u00e3o simplesmente como a espera da boa influ\u00eancia que nos trar\u00e1, finalmente, a modernidade.<\/em><\/p>\n

Esta nova forma de fazer hist\u00f3ria se inscreve no livro de Hugo Segawa, \u201cArquiteturas no Brasil, 1900-1990\u201d. \u00c9 ambicioso o prop\u00f3sito de <\/em>abarcar este lapso, mas muito correta a maneira de enfoc\u00e1-lo.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Corona Mart\u00ednez segue descrevendo partes do livro, e estranha o cap\u00edtulo final, sobre os anos recentes, observando:<\/p>\n

\n

Qui\u00e7\u00e1 seja exageradamente breve o tratamento das d\u00e9cadas que se seguem, em especial os anos 1980-90, que tem apenas dez p\u00e1ginas. Mas \u00e9 poss\u00edvel fazer hist\u00f3ria do que \u00e9 quase o presente? Segawa, cujo prest\u00edgio como articulista est\u00e1 cimentando por muitos anos nas revistas de S\u00e3o Paulo, pode ter se cansado ante este per\u00edodo que j\u00e1 havia tratado como atualidade. Ou bem sua probidade acad\u00eamica o leva a manter seu papel de historiador dos processos conclu\u00eddos e n\u00e3o se apresentar no papel dos historiadores do presente, aos quais Manfredo Tafuri chamou ironicamente de \u201csugeridores\u201d.<\/em><\/p>\n

\u201cArquiteturas no Brasil\u201d \u00e9 um aporte interessante para conhecer, de maneira mais cr\u00edtica e menos simplesmente informativa, o processo brasileiro do s\u00e9culo que se conclui. <\/em>14<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Paul Meurs e Alfonso Corona Martinez em suas resenhas utilizaram uma palavra em comum: \u201cambicioso\u201d. A pol\u00eamica \u201camplitude temporal\u201d que Ruth Verde Zein aponta tamb\u00e9m est\u00e1 na raiz dos dois observadores internacionais. Foi o desafio que apontei na introdu\u00e7\u00e3o de Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em>:<\/p>\n

\n

O risco de escrever um estudo sobre a arquitetura brasileira do s\u00e9culo 20 \u00e9 reproduzir inadvertidamente aquilo que se critica: uma vis\u00e3o totalizadora que apaga as diferen\u00e7as, exalta as formas dominadoras e dissimula a diversidade. A hist\u00f3ria e a historiografia recentes ainda se refazem do impacto epistemol\u00f3gico provocado, por exemplo, pelas id\u00e9ias de um Michel Foucault \u2013 escritos tecidos com a microtrama de uma complexa urdidura. Nesse caminho, a viabilidade de dar formas a problemas, de articular perguntas \u00e9 muito mais intensa que nossa capacidade individual de formular respostas. Respostas que tendem cada vez mais a exames localizados, talvez profundos (contemplando minorias, \u201cvencidos\u201d, movimentos populares, etc.). Uma postura que se avizinha \u00e0s tend\u00eancias da fragmenta\u00e7\u00e3o \u201cregulamentada\u201d do conhecimento, como que uma rea\u00e7\u00e3o \u00e0s grandes leituras totalizadoras.<\/em><\/p>\n

O historiador brit\u00e2nico Eric Hobsbawn, comentando a respeito de algumas tend\u00eancias da historiografia no final dos anos 1970, escrevia: \u201cN\u00e3o h\u00e1 nada de novo em olhar o mundo com um microsc\u00f3pio ou com um telesc\u00f3pio. Desde que concordemos de que estamos estudando o mesmo cosmos, a escolha entre o microcosmo e o macrocosmo \u00e9 uma quest\u00e3o de selecionar a t\u00e9cnica apropriada. \u00c9 significativo que atualmente mais historiadores julguem o microsc\u00f3pio mais \u00fatil. Mas isso n\u00e3o significa necessariamente que eles rejeitem o telesc\u00f3pio, como instrumento superado.\u201d<\/em><\/p>\n

Este livro teve uma g\u00eanese peculiar: convidado pela Universidade Aut\u00f4noma Metropolitana do M\u00e9xico para integrar uma cole\u00e7\u00e3o de monografias sobre arquitetura latino-americana, seu formato original circunstanciava-se a um comp\u00eandio de arquitetura brasileira no s\u00e9culo 20 para o p\u00fablico latino-americano. A oportunidade de uma edi\u00e7\u00e3o brasileira n\u00e3o descaracterizou esse perfil. O dif\u00edcil e sutil equil\u00edbrio a se atingir no conte\u00fado deste trabalho \u00e9 uma tarefa que deve respeitar as caracter\u00edsticas da iniciativa editorial, exigindo uma compostura que se expressa num jarg\u00e3o arquitet\u00f4nico, no termo franc\u00eas biens\u00e9ance. As circunst\u00e2ncias apontam mais para o manejo do telesc\u00f3pio; todavia, o microsc\u00f3pio \u00e0s vezes foi \u00fatil, mesmo com preju\u00edzo de alguma coer\u00eancia totalizadora (que n\u00e3o constitui, propriamente, uma preocupa\u00e7\u00e3o central). A manuten\u00e7\u00e3o das lentes e as dire\u00e7\u00f5es que elas apontam s\u00e3o de minha inteira responsabilidade; a raz\u00e3o dessas dire\u00e7\u00f5es, espero que os leitores a percebam percorrendo as p\u00e1ginas deste trabalho. <\/em>15<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

\"\"<\/a>\"\"<\/a><\/div>\n

Como j\u00e1 dito, minha atua\u00e7\u00e3o na revista Projeto <\/em>e a organiza\u00e7\u00e3o de Arquiteturas no Brasil\/Anos 80<\/em> constru\u00edram o repert\u00f3rio b\u00e1sico para a escrita do livro Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em>. Um trabalho originalmente encomendado pela editora da Universidad Aut\u00f3noma Metropolitana (UAM), universidade p\u00fablica sediada na Cidade do M\u00e9xico. Os originais foram entregues em 1992. Com a crise econ\u00f4mica do M\u00e9xico em 1995, e a inviabiliza\u00e7\u00e3o da iniciativa editorial naquele pa\u00eds, em 1997 o submeti a um concurso aberto de originais promovidos pela EDUSP para publica\u00e7\u00e3o de livros de natureza did\u00e1tica na cole\u00e7\u00e3o Acad\u00eamica <\/em>da editora. Meu trabalho foi aprovado. A primeira edi\u00e7\u00e3o (1998), de 1 500 exemplares, esgotou-se em sete meses; a segunda edi\u00e7\u00e3o (1999), de 3 000 exemplares, esgotou-se em cerca de 15 meses. A EDUSP fez uma nova tiragem no final de 2002 com 3 000 exemplares. Em 2010 edita-se a terceira edi\u00e7\u00e3o, com 1 500 exemplares. Ao todo, Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em> teve uma tiragem total de 9 000 exemplares entre 1998 e 2010.<\/p>\n

Outros campos<\/strong><\/h3>\n

Arquiteturas no Brasil 1900-1990 <\/em><\/em><\/em><\/em>\u00e9 citado em boa parte das teses e disserta\u00e7\u00f5es sobre arquitetura moderna brasileira. \u00c9 utilizado como bibliografia b\u00e1sica nas disciplinas de Hist\u00f3ria da Arquitetura do Brasil nos cursos de gradua\u00e7\u00e3o em todo o pa\u00eds. Pesquisadores de outras disciplinas se valem do livro. A soci\u00f3loga L\u00facia Lippi Oliveira, do CPDOC da Funda\u00e7\u00e3o Get\u00falio Vargas do Rio de Janeiro foi uma autora que encontrei casualmente, citando o meu trabalho, 16<\/sup><\/a><\/sup> e que depois cheguei a conhec\u00ea-la pessoalmente. Pedi uma dedicat\u00f3ria no livro que ela organizou, em que me cita. Gentilmente, escreveu: \u201cFico feliz por encontrar meu mestre na hist\u00f3ria da arquitetura. Com um abra\u00e7o.\u201d Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em> consta da bibliografia do portentoso Hist\u00f3ria do Brasil: uma Interpreta\u00e7\u00e3o<\/em>, dos historiadores Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. 17<\/sup><\/a><\/sup> Tenho a presun\u00e7\u00e3o que o meu livro circula em faixas para al\u00e9m dos leitores arquitetos.<\/p>\n

Minha surpresa foi quando localizei pelo Google situa\u00e7\u00f5es impensadas. Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em> foi e \u00e9 parte das recomenda\u00e7\u00f5es bibliogr\u00e1ficas de processos seletivos de funcion\u00e1rios de \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos. Encontrei-o nas bibliografias da Sele\u00e7\u00e3o P\u00fablica para arquitetos do BNDES \u2013 Banco Nacional de Desenvolvimento Econ\u00f4mico e Social Edital 01\/2002; 18<\/sup><\/a><\/sup> do Concurso p\u00fablico \u2013 administra\u00e7\u00e3o direta, aut\u00e1rquica e fundacional da Prefeitura de Goi\u00e2nia \u2013 fun\u00e7\u00e3o Arquiteto, Edital n.\u00ba 001\/2006, 19<\/sup><\/a><\/sup> na bibliografia do concurso p\u00fablico para provimento de cargos de servidores t\u00e9cnico-administrativos (arquiteto urbanista) da Universidade Federal de Juiz de Fora, Edital n\u00ba 029\/2008; 20<\/sup><\/a><\/sup> e Universidade Federal de Uberl\u00e2ndia, Edital 019\/2008 21<\/sup><\/a><\/sup> \u2013 observando que nas duas universidades federais n\u00e3o se trata de concursos para docentes, mas para arquitetos urbanistas para o quadro de servidores.<\/p>\n

O livro recebeu o Pr\u00eamio Olga Verjovski do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Rio de Janeiro, na 26\u00aa Premia\u00e7\u00e3o Anual do IAB\/RJ em 1998, na categoria Pesquisa, Ensaio e Cr\u00edtica.<\/p>\n

Em 2000 a historiadora e Prof\u00aa Maria Margarida Cavalcanti Limena, da PUC-SP, iniciava sua resenha sobre meu livro Prel\u00fadio da Metr\u00f3pole <\/em>com a senten\u00e7a: \u201cdepois de v\u00e1rios livros, dentre os quais Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em>, sua publica\u00e7\u00e3o anterior e j\u00e1 constituindo refer\u00eancia obrigat\u00f3ria…\u201d 22<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n

Objeto de estudo<\/strong><\/h3>\n

Arquiteturas no Brasil 1900-1990 <\/em>tornou-se tamb\u00e9m objeto de discuss\u00e3o historiogr\u00e1fica em f\u00f3runs cient\u00edficos. Coletei tr\u00eas comunica\u00e7\u00f5es ocupando-se do livro.<\/p>\n

O primeiro deles foi apresentado no 3\u00ba Semin\u00e1rio DOCOMOMO Brasil em S\u00e3o Paulo, em 1999, pela Prof\u00aa S\u00f4nia Marques (atualmente na Universidade Federal da Para\u00edba) e Prof\u00aa Guilah Naslavsky (atualmente na Universidade Federal do Pernambuco). A comunica\u00e7\u00e3o \u201cEstilo ou Causa? Como, Quando e Onde? Os conceitos e limites da historiografia nacional sobre o Movimento Moderno\u201d discutia os conte\u00fados de tr\u00eas livros editados em 1998: Origens da Habita\u00e7\u00e3o Social no Brasil<\/em>, de Nabil Bonduki, Urbanismo em Fim de Linha e Outros Estudos sobre o Colapso da Moderniza\u00e7\u00e3o Arquitet\u00f4nica<\/em>, de Ot\u00edlia Arantes, e o meu livro.<\/p>\n

Marques e Naslavsky compreenderam uma das chaves conceituais do meu trabalho, no trecho abaixo tomando como base a quest\u00e3o das v\u00e1rias modernidades:<\/p>\n

\n

Na verdade modernidade e modernismos s\u00e3o, em Segawa, resultantes de processos paralelos. Modernidade e modernismos se justap\u00f5em, no tempo: A \u201cmodernidade pragm\u00e1tica\u201d come\u00e7a durante a \u201cprogram\u00e1tica\u201d, a \u201cmodernidade corrente\u201d durante a \u201cpragm\u00e1tica\u201d formas de modernidade a que refere-se o autor. De todo modo, a quest\u00e3o da periodiza\u00e7\u00e3o sup\u00f5e uma ruptura: est\u00e1 impl\u00edcito de que houve um tempo em que a arquitetura n\u00e3o era moderna e que depois, atrav\u00e9s de um processo – <\/strong>para utilizar a categoria reivindicada pelo autor \u2013 o movimento moderno, ou melhor ainda, modernismos e modernidade se consolidaram. Esta vis\u00e3o n\u00e3o fica de todo imune \u00e0 discuss\u00e3o da genealogia. Ela consegue, no entanto, pela metodologia do acr\u00e9scimo, combinar a genealogia tradicionalmente indicada pela historiografia tradicional com outras fontes, outros \u201cprocessos\u201d. Mas a estrat\u00e9gia de acr\u00e9scimo est\u00e1 longe de desfazer-se de uma hierarquiza\u00e7\u00e3o e de um ju\u00edzo de valor para os quais a adjetiva\u00e7\u00e3o utilizada pelo autor, para a distin\u00e7\u00e3o dos diversos processos, nos antecipa algumas pistas.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Marques e Naslavsky avaliaram as tr\u00eas obras resenhadas:<\/p>\n

\n

Assim sendo, obras como as de Segawa e Bonduki, ao resgatarem exemplares omitidos pela historiografia tradicional oferecem, sem d\u00favida uma contribui\u00e7\u00e3o, devendo tornar-se leitura obrigat\u00f3ria. Tamb\u00e9m o \u00e9, por raz\u00f5es outras, o livro de Ot\u00edlia Arantes, o qual, ao assumir uma postura claramente contr\u00e1ria \u00e0s anunciadas por Habermas e Anatole Kopp, convida a um aprofundamento da reflex\u00e3o em termos amplos. <\/em>23<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

As duas comunica\u00e7\u00f5es cient\u00edficas mais recentes trazem uma abordagem mais evidente: comparar Arquiteturas no Brasil 1900-1990 <\/em>com Arquitetura Contempor\u00e2nea no Brasil<\/em>, de Yves Bruand.<\/p>\n

A comunica\u00e7\u00e3o \u201cSobre a Historiografia da Arquitetura Moderna Brasileira: os Livros \u2018Arquitetura Contempor\u00e2nea no Brasil\u2019 de Yves Bruand e \u2018Arquiteturas no Brasil 1900-1990\u2019 de Hugo Segawa\u201d foi apresentada no I Encontro de Hist\u00f3ria da Arte do Instituto de Filosofia e Ci\u00eancias Humanas da Universidade Estadual de Campinas em dezembro de 2004. Sua autora, Mar\u00edlia Santana Borges, era ent\u00e3o mestranda do Programa de P\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o da FAU USP (conclu\u00eddo em 2006) e doutorou-se em Comunica\u00e7\u00e3o e Semi\u00f3tica pela Pontif\u00edcia Universidade Cat\u00f3lica de S\u00e3o Paulo em 2008. Em parte baseia-se nos argumentos de Marques e Naslavsky, e traz uma conclus\u00e3o recorrente, mas com uma observa\u00e7\u00e3o:<\/p>\n

\n

O livro contribui ao ampliar e reconhecer diferentes facetas da arquitetura brasileira pr\u00e9- e p\u00f3s-Bras\u00edlia, expandindo tamb\u00e9m o territ\u00f3rio de trabalho e an\u00e1lise. \u00c9 fato que essa postura acarretou em algumas abordagens mais superficiais, incorrendo tamb\u00e9m em algumas insufici\u00eancias discursivas e conceituais nas diversas modernidades e na aus\u00eancia de um maior rigor metodol\u00f3gico. Mas o texto de Segawa destaca-se pelo seu car\u00e1ter did\u00e1tico e por fornecer um amplo panorama da arquitetura brasileira do s\u00e9culo XX, ao tentar romper com uma linha de abordagens historiogr\u00e1ficas totalizadoras. <\/em>24<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

A autora enuncia mas n\u00e3o discorre a respeito das \u201cinsufici\u00eancias discursivas e conceituais\u201d e sobre a \u201caus\u00eancia de um maior rigor metodol\u00f3gico\u201d do livro. Teria muita curiosidade em saber mais sobre essas limita\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

A terceira comunica\u00e7\u00e3o a respeito do meu livro, com igual abordagem da comunica\u00e7\u00e3o em Campinas, comparando Bruand e Segawa, apega-se \u00e0 mesma cr\u00edtica e reproduz trecho acima de Borges, como cita\u00e7\u00e3o \u2013 mas evitando argumentar. Ricardo A. Paiva, doutorando da FAU USP, apresentou no Semin\u00e1rio Latino-americano Arquitetura & Documenta\u00e7\u00e3o, realizado em Belo Horizonte em setembro de 2008, o trabalho \u201cA Escrita da Hist\u00f3ria da Arquitetura Moderna Brasileira: um Palimpsesto\u201d. Recolho um coment\u00e1rio de Paiva:<\/p>\n

\n

As obras constituem publica\u00e7\u00f5es imprescind\u00edveis acerca do quadro geral da arquitetura e urbanismo modernos no Brasil ante o estreito panorama de refer\u00eancias historiogr\u00e1ficas sobre um tema t\u00e3o abrangente. Apesar dos esfor\u00e7os recentes empreendidos por pesquisadores de diversos lugares do pa\u00eds, que redundaram em significativa contribui\u00e7\u00e3o para o entendimento do processo de introdu\u00e7\u00e3o e desenvolvimento da arquitetura moderna em todo o Brasil, \u00e9 importante destacar que tais contribui\u00e7\u00f5es historiogr\u00e1ficas se limitam a estudos da produ\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica de arquitetos em contextos espec\u00edficos \u2013 o que evidentemente n\u00e3o deixa de ser relevante \u2013 n\u00e3o possuindo um car\u00e1ter mais amplo de manual.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Como \u201cnota conclusiva\u201d acerca da compara\u00e7\u00e3o que estabeleceu entre os livros de Bruand e Segawa, Ricardo Paiva escreveu:<\/p>\n

\n

A import\u00e2ncia desta discuss\u00e3o consiste nem tanto em julgar o quanto certas ou erradas est\u00e3o as abordagens dos autores, pelo contr\u00e1rio, pretende despertar como a partir delas se pode evoluir na compreens\u00e3o da arquitetura moderna brasileira, principalmente no que se refere \u00e0s suas conseq\u00fc\u00eancias na arquitetura contempor\u00e2nea.<\/em><\/p>\n

A tens\u00e3o entre as abordagens suscita outras quest\u00f5es, entre elas:<\/em><\/p>\n

– novos crit\u00e9rios classificat\u00f3rios de objetos a serem preservados pelo patrim\u00f4nio hist\u00f3rico e cultural, como a valoriza\u00e7\u00e3o da arquitetura ecl\u00e9tica e os movimentos \u201cprotomodernos\u201d;<\/em><\/p>\n

– amplia\u00e7\u00e3o do debate acad\u00eamico e pedag\u00f3gico no quadro das disciplinas de teoria e hist\u00f3ria da arquitetura, com base em m\u00faltiplas e divergentes refer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas;<\/em><\/p>\n

– e, sobretudo, a desmistifica\u00e7\u00e3o das vis\u00f5es un\u00edvocas, evitando o obscurecimento dos fatos e abrindo espa\u00e7o para releituras e interpreta\u00e7\u00f5es que resgatem o sentido de continuidade com a produ\u00e7\u00e3o contempor\u00e2nea.<\/em> […].<\/p>\n

A diversidade de caminhos \u00e9 necess\u00e1ria, porque urgente e comprometida com o estado de coisas, para retificar e ratificar rupturas ou continuidades entre a arquitetura moderna e contempor\u00e2nea no Brasil. Segawa aponta um caminho ao concluir que \u201ca atual contesta\u00e7\u00e3o \u00e0 arquitetura moderna brasileira atinge seus mitos, n\u00e3o seus princ\u00edpios\u201d (Segawa, 1997:198). O caminho da diversidade contempla o acr\u00e9scimo, posto que uma nova camada do palimpsesto pode ser sempre escrita. <\/em>25<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Quando examinamos estudos alinhando-os, percebemos as cadeias de refer\u00eancias: Marques e Naslavsky apresentaram a primeira aprecia\u00e7\u00e3o sobre Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em> em um evento cient\u00edfico em 1999; no trabalho de Mar\u00edlia Santana Borges de 2004, Marques e Naslavsky, como as resenhas de Carlos A. C. Lemos e Ruth Verde Zein s\u00e3o parte da bibliografia; Ricardo A. Paiva, em 2008, cita Marques e Naslavsky, Mar\u00edlia Santana Borges e inclui a resenha de Ruth Verde Zein nas refer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas. S\u00e3o as resenhas que conhe\u00e7o, e devo agradecer aos seus autores pelas aprecia\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Venho recebendo ao longo dos anos, de maneira informal \u2013 isto \u00e9, mediante coment\u00e1rios verbais, e-mails \u2013 observa\u00e7\u00f5es de toda natureza, sugest\u00f5es e retifica\u00e7\u00f5es. Gra\u00e7as a essas colabora\u00e7\u00f5es de boa vontade, posso repensar sobre o que escrevi dezesseis anos atr\u00e1s.<\/p>\n

Alguns aspectos inovadores de meu livro s\u00e3o registrados por jovens pesquisadores, como o fez Ricardo Paiva. Ele percebeu uma abordagem in\u00e9dita que mesmo hoje, embora mais considerada, n\u00e3o \u00e9 facilmente assimil\u00e1vel por setores da Hist\u00f3ria da Arquitetura como dentro da categoria arquitetura moderna:<\/p>\n

\n

De modo diverso, a \u201cModernidade Pragm\u00e1tica (1922-1943)\u201d se desenvolve \u201c\u00e0 margem do modernismo engajado\u201d. A modernidade desta vertente da arquitetura n\u00e3o se sustentava em nenhum pressuposto te\u00f3rico ou conte\u00fado program\u00e1tico espec\u00edficos, pelo contr\u00e1rio, se valia de influ\u00eancias m\u00faltiplas e contradit\u00f3rias \u2013 o repert\u00f3rio cl\u00e1ssico de composi\u00e7\u00e3o decorativa associado ao uso de materiais modernos \u2013 que se manifestavam de forma diversa nas tend\u00eancias art d\u00e9co, nos exemplares de influ\u00eancias perretianas e no \u201cmonumental cl\u00e1ssico\u201d de matriz fascista. \u00c9 in\u00e9dita esta preocupa\u00e7\u00e3o de Segawa em abarcar manifesta\u00e7\u00f5es consideradas at\u00e9 pouco tempo marginais e que a historiografia da arquitetura moderna omitiu e desprezou. A concess\u00e3o deste espa\u00e7o no livro corrobora para compreender a paisagem urbana que resultou de uma arquitetura que se consolidava na interse\u00e7\u00e3o entre o popular e o erudito e que obteve ampla aceita\u00e7\u00e3o no p\u00fablico leigo. <\/em>26<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n<\/blockquote>\n

Andr\u00e9 Augusto Almeida Alves \u2013 um jovem Professor Adjunto da Universidade Estadual de Maring\u00e1 \u2013 foi outro que percebeu uma dimens\u00e3o in\u00e9dita de uma parte do livro:<\/p>\n

O cap\u00edtulo intitulado \u201cEpis\u00f3dios de um Brasil Grande e Moderno 1950-1980\u201d, de <\/em>Arquiteturas no Brasil, 1900-1990 (Segawa, 1999: 159-167), \u00e9 a \u00fanica ocasi\u00e3o em que o tema da infra-estrutura do territ\u00f3rio \u00e9 abordado no \u00e2mbito da historiografia da arquitetura moderna.<\/em> 27<\/sup><\/a><\/sup><\/p>\n

Tinha consci\u00eancia do alcance e das limita\u00e7\u00f5es do trabalho quando foi escrito. Hoje tenho avalia\u00e7\u00e3o melhor desse quadro, mas ainda e sempre incompleto. E uma id\u00e9ia da vig\u00eancia de uma pesquisa de abrang\u00eancia in\u00e9dita naquela ocasi\u00e3o. Com o avan\u00e7o das pesquisas em Hist\u00f3ria da Arquitetura no Brasil, com o desenvolvimento de tantos programas de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o no Brasil e teses realizadas no exterior, sei em que medida partes do livro est\u00e3o superados enquanto informa\u00e7\u00e3o. E como procuro acompanhar pari passu <\/em>a pesquisa no Brasil (e tamb\u00e9m no exterior) em eventos na \u00e1rea, como os semin\u00e1rios do DOCOMOMO (nacionais e internacionais), tenho plena consci\u00eancia que h\u00e1 ainda um grande campo inexplorado j\u00e1 insinuado em Arquiteturas no Brasil 1900-1990<\/em>, \u00e0 espera de desvendamento e aprofundamento.<\/p>\n

Santa F\u00e9, 29 de outubro de 2010<\/p>\n


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notas<\/strong><\/h3>\n

1<\/a> Segawa, 1998.<\/p>\n

2<\/a> Segawa, 1988.<\/p>\n

3<\/a> Dagnino, 1989. Tradu\u00e7\u00e3o minha do original em espanhol.<\/p>\n

4<\/a> Fran\u00e7a, 1989.<\/p>\n

5<\/a> A revista chamava-se apenas Projeto <\/em>na fase Vicente Wissenbach.<\/p>\n

6<\/a> Lara, 2003.<\/p>\n

7<\/a> Rabelo, 2005.<\/p>\n

8<\/a> Wissenbach, 1998, p. 114.<\/p>\n

9<\/a> Aranha, 1998.<\/p>\n

10<\/a> Lemos, 1999.<\/p>\n

11<\/a> Zein, 1999.<\/p>\n

12<\/a> Guerra, 1999.<\/p>\n

13<\/a> Meurs, 1999. Tradu\u00e7\u00e3o minha, do ingl\u00eas.<\/p>\n

14<\/a> Corona Mart\u00ednez, 1999. Tradu\u00e7\u00e3o minha do original em espanhol.<\/p>\n

15<\/a> Segawa, 1998, p. 13-14.<\/p>\n

16<\/a> Oliveira, 2002, p. 156-163.<\/p>\n

17<\/a> Lopez, Mota, 2008.<\/p>\n

18<\/a> Dispon\u00edvel em: <http:\/\/www.bndes.gov.br\/empresa\/administracao\/concurso\/exe\/edital2002.pdf<\/a>>. Acesso em 19 out. 2008.<\/p>\n

19<\/a> Dispon\u00edvel em: <http:\/\/www.goiania.go.gov.br\/sistemas\/sicon\/download\/Administracao\/001-2006\/CON
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Hugo Segawa<\/h4>\n

Arquiteto, Professor Associado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n


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Colabora\u00e7\u00e3o editorial<\/span>: D\u00e9bora Andrade<\/span><\/p>\n

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