{"id":6646,"date":"2011-08-22T22:25:09","date_gmt":"2011-08-23T01:25:09","guid":{"rendered":"http:\/\/puntoni.28ers.com\/?p=6646"},"modified":"2011-08-22T22:25:09","modified_gmt":"2011-08-23T01:25:09","slug":"brasil-arquiteturas-apos-1950-em-quatro-temas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/2011\/08\/22\/brasil-arquiteturas-apos-1950-em-quatro-temas\/","title":{"rendered":"Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950 – em quatro temas"},"content":{"rendered":"
<\/a><\/p>\n Ruth Verde Zein e Maria Alice Junqueira Bastos<\/p>\n <\/p>\n <\/a><\/p>\n O artigo faz um mergulho no livro Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em>, problematizando quatro aspectos: a periodiza\u00e7\u00e3o empregada; os temas abordados com suas recorr\u00eancias e singularidades ao longo dos per\u00edodos cronol\u00f3gicos; a op\u00e7\u00e3o pela diversidade e a pertin\u00eancia, ou n\u00e3o, de um recorte nacional e suas implica\u00e7\u00f5es com o tema da identidade. Esse livro tem um precedente not\u00e1vel no cat\u00e1logo da Editora Perspectiva que \u00e9 o livro de Yves Bruand: Arquitetura Contempor\u00e2nea no Brasil<\/em> [1]<\/a>. Meio s\u00e9culo separa o texto de Brasil: Arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em>, daquele escrito por Bruand, sendo assim natural que haja importantes diferen\u00e7as de enfoque entre ambos, a principal, reside no fato de que o livro de Bruand faz um relato da \u201carquitetura contempor\u00e2nea no Brasil\u201d privilegiando uma vis\u00e3o de unidade, com determinadas caracter\u00edsticas t\u00e9cnicas, metodol\u00f3gicas e formais, caracter\u00edsticas que, segundo seu ponto de vista, a tornavam peculiar, distinta; narrativa essa afinada com certa vis\u00e3o de identidade nacional brasileira afincada no per\u00edodo de 1930 a 1960, mas que seria problem\u00e1tico manter na contemporaneidade.<\/p>\n Outro ponto em que nosso relato \u00e9 distinto do de Bruand \u00e9 a abordagem da cidade. Bruand dedica dois ter\u00e7os do livro \u00e0 arquitetura e um ter\u00e7o aos tra\u00e7ados urbanos. Em Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em> o foco \u00e9 predominantemente arquitet\u00f4nico, e as quest\u00f5es urbanas comparecem a partir desse enfoque, embora recebam destaque em ao menos um dos cap\u00edtulos de cada uma das partes do livro; mesmo assim, com abordagem mais morfol\u00f3gica que urban\u00edstica.<\/p>\n Por fim, um ponto comum nas abordagens de Bruand e do livro Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em> \u00e9 a constru\u00e7\u00e3o de uma hist\u00f3ria a partir de um olhar interessado e cr\u00edtico sobre as obras. E, assim como Bruand, nosso livro lan\u00e7a m\u00e3o da descri\u00e7\u00e3o, como m\u00e9todo de trabalho para an\u00e1lise e compreens\u00e3o da obra, buscando ver o que n\u00e3o est\u00e1 t\u00e3o evidente, e que a reflex\u00e3o quer ajudar a revelar.<\/p>\n Periodiza\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em> foi estruturado em quatro partes, mais um pre\u00e2mbulo e um ensaio final sobre os \u00faltimos anos do s\u00e9culo XX. O pre\u00e2mbulo, denominado \u201cContinuidade\u201d abarca de 1945, final da Segunda Guerra, at\u00e9 1955, quando a arquitetura do mundo todo passa por uma transi\u00e7\u00e3o. O pre\u00e2mbulo busca dar conta, em quatro pequenos cap\u00edtulos, de mostrar a alta qualidade e import\u00e2ncia da arquitetura da escola carioca, mas, ao mesmo tempo, de ir introduzindo as for\u00e7as de mudan\u00e7a latentes: \u201cA Exemplar Arquitetura Moderna Brasileira\u201d; \u201cO G\u00eanio Nacional: A preemin\u00eancia de Oscar Niemeyer\u201d; \u201cContinuidades e Descontinuidades na Arquitetura dos Anos 1945-1955\u201d e \u201cAs Cr\u00edticas Internacionais, no Ambiente Paulistano, \u00e0 Escola Carioca\u201d.<\/p>\n A primeira das quatro partes principais \u00e9 \u201cDi\u00e1logos\u201d (1955-1965). Foi em torno de meados dos anos de 1950 que a obra de alguns dos mestres cariocas passou por uma inflex\u00e3o, que pode ser notada, por exemplo, observando as diferen\u00e7as entre os dois projetos de Oscar Niemeyer para o Parque Ibirapuera, ou seu projeto n\u00e3o executado para o Museu de Caracas. Na obra de Affonso E. Reidy, o col\u00e9gio Brasil-Paraguai e o MAM-RJ fazem uso do concreto aparente, com forte protagonismo da solu\u00e7\u00e3o estrutural no resultado formal. Tamb\u00e9m em meados dos anos de 1950, em S\u00e3o Paulo, uma nova gera\u00e7\u00e3o de arquitetos rec\u00e9m formados foi rapidamente al\u00e7ada a uma posi\u00e7\u00e3o preeminente, reconhecida em concursos e premia\u00e7\u00f5es com uma produ\u00e7\u00e3o art\u00edstica que se aproximava da sensibilidade pl\u00e1stica do brutalismo internacional. As primeiras manifesta\u00e7\u00f5es desse movimento de transi\u00e7\u00e3o que v\u00e3o de 1953 a 1958, estabeleceram, grosso modo, um \u201cin\u00edcio\u201d que marcamos em 1955. A\u00ed se inicia uma d\u00e9cada em que as metas da industrializa\u00e7\u00e3o da constru\u00e7\u00e3o civil e da cidade moderna informaram parte importante da produ\u00e7\u00e3o de arquitetura. Um per\u00edodo em que, a despeito de certa variedade de tecnologias e materiais, as decora\u00e7\u00f5es se tornaram menos presentes, a racionalidade construtiva foi valorizada, assim como a busca de flexibilidade no atendimento de fun\u00e7\u00f5es. Essa situa\u00e7\u00e3o se manteve com relativa predomin\u00e2ncia at\u00e9 1965. O cap\u00edtulos escolhidos para retratar essas quest\u00f5es foram: \u201cIdentidade Nacional: Mudan\u00e7as de Paradigmas Arquitet\u00f4nicos nos Anos de 1950-1960\u201d; \u201cDi\u00e1logos Alternados: Lina, Reidy e Vice-Versa\u201d; \u201cA Utopia Desnudando-se: O Concurso de Bras\u00edlia\u201d; \u201cPal\u00e1cios de Bras\u00edlia: Novos Rumos na Trajet\u00f3ria de Oscar Niemeyer\u201d; \u201cBrutalismo: Uma Nova Sensibilidade Superficial e Pl\u00e1stica\u201d e \u201cIndustrializa\u00e7\u00e3o: A Experi\u00eancia da UnB e Outras Experi\u00eancias\u201d.<\/p>\n No per\u00edodo seguinte, denominado P\u00f3s-Bras\u00edlia (1965-1975), o Brasil viveu uma situa\u00e7\u00e3o de fechamento no campo pol\u00edtico e de prosperidade econ\u00f4mica em que a renova\u00e7\u00e3o observada na d\u00e9cada anterior sofreu acirramentos e transmuta\u00e7\u00f5es em resposta a uma crise nos valores da modernidade amplo senso, em que pese esta crise n\u00e3o estivesse clara na \u00e9poca. A partir de meados dos anos de 1960 parece haver uma maior abertura na pesquisa formal, inclusive com experi\u00eancias que fogem da ortogonalidade, ou que exploram plasticamente outras tecnologias. Certa desconfian\u00e7a no progresso tecnol\u00f3gico como fator inequ\u00edvoco de melhora na qualidade de vida alimentou experi\u00eancias e cr\u00edticas \u00e0 modernidade arquitet\u00f4nica nacional, com a valoriza\u00e7\u00e3o do vern\u00e1culo ou do fazer espont\u00e2neo, inclusive nos primeiros trabalhos voltados \u00e0 inclus\u00e3o das favelas. A gera\u00e7\u00e3o paulista que come\u00e7ou o brutalismo passou a empregar a linha curva nas estruturas de concreto aparente. E, gradativamente, com o boom construtivo do milagre brasileiro, uma repeti\u00e7\u00e3o no uso de materiais \u2013 concreto aparente, vidro e esquadrias de alum\u00ednio \u2013 foi associada \u00e0 busca de solu\u00e7\u00f5es formais originais destacadas pela escala, inven\u00e7\u00e3o formal, ou ousadia estrutural – o plasticismo estrutural foi a principal manifesta\u00e7\u00e3o na arquitetura erudita brasileira. Anos de desenvolvimento em que o pa\u00eds efetivamente se modernizou, tamb\u00e9m assistiu \u00e0 dispers\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica pelo territ\u00f3rio nacional, levando a um cen\u00e1rio bem mais complexo. Os cap\u00edtulos s\u00e3o: \u201cBras\u00edlia, P\u00f3s Bras\u00edlia: Inflex\u00f5es e Mudan\u00e7as\u201d; \u201cA Explora\u00e7\u00e3o Pl\u00e1stica das Estruturas de Concreto e Outros Desdobramentos\u201d; \u201cNiemeyer: Do Plasticismo Simb\u00f3lico, ao Partido Estrutural e ao Volume Escult\u00f3rico\u201d; \u201cAs Arquiteturas do Desenvolvimentismo Brasileiro\u201d; \u201cA Quest\u00e3o do Planejamento Urbano\u201d e \u201cHabita\u00e7\u00e3o Social: Das Utopias Tecnol\u00f3gicas e Urban\u00edsticas \u00e0 Repeti\u00e7\u00e3o de Modelos\u201d.<\/p>\n \u201cCrise e Renova\u00e7\u00e3o\u201d (1975-1985) privilegia alguns epis\u00f3dios que, embora marginais na \u00e9poca, contribu\u00edram na gesta\u00e7\u00e3o de uma nova situa\u00e7\u00e3o. Em meados dos anos de 1970, Lina Bo Bardi come\u00e7ou o projeto do Sesc-Pomp\u00e9ia, com a proposta de recuperar e ampliar um antigo conjunto fabril; ap\u00f3s um per\u00edodo em que minguaram as publica\u00e7\u00f5es especializadas em arquitetura, houve o relan\u00e7amento da M\u00f3dulo<\/em> seguido ainda na segunda metade dos anos 1970 pelo lan\u00e7amento das revistas Projeto e Pampulha<\/em>; em 1976 o IAB do Rio de Janeiro promoveu a s\u00e9rie de depoimentos publicados sob o t\u00edtulo Arquitetura Brasileira ap\u00f3s Bras\u00edlia: Depoimentos<\/em> [2]<\/a> , em que se percebe, em parte dos arquitetos, uma insatisfa\u00e7\u00e3o com a corrente mais hegem\u00f4nica da arquitetura brasileira e, ao mesmo tempo, a defesa de arquiteturas mais comprometidas com a realidade amplo senso \u2013 meio f\u00edsico-clim\u00e1tico, aspectos s\u00f3cio-culturais, solu\u00e7\u00f5es construtivas condizentes com fatores econ\u00f4micos etc. A retomada do debate na arquitetura nacional estimulou e deu testemunho de uma \u00e9poca efervescente de id\u00e9ias e cria\u00e7\u00e3o. A aproxima\u00e7\u00e3o com a Am\u00e9rica Latina no final deste per\u00edodo mostrou um momento em que havia a aposta de que o comprometimento com a realidade seria uma maneira de reativar, redirecionar e, eventualmente, reinventar o movimento moderno a partir da regi\u00e3o. Paralelamente, a liberdade propiciada pela quebra de par\u00e2metros gerada com as novas teorias \u201cp\u00f3s-modernas\u201d abrigou no cen\u00e1rio nacional uma consider\u00e1vel diversifica\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica e formal na arquitetura erudita. Movimentos que conviviam, ao menos at\u00e9 o final dos anos 70, com o plasticismo estrutural que encarnava ent\u00e3o uma posi\u00e7\u00e3o de intransigente continuidade da heran\u00e7a moderna nacional. Numa redu\u00e7\u00e3o esquem\u00e1tica, as \u201cdiferen\u00e7as\u201d no meio arquitet\u00f4nico nacional nos anos de tomada de consci\u00eancia da crise da modernidade refletiam tr\u00eas caminhos: o da continuidade a uma tradi\u00e7\u00e3o moderna brasileira (ainda dominante por certa in\u00e9rcia natural ao meio arquitet\u00f4nico), o de revis\u00e3o desta tradi\u00e7\u00e3o por meio de um maior comprometimento da arquitetura com a realidade amplo senso e, por fim, o de eventual supera\u00e7\u00e3o da tradi\u00e7\u00e3o moderna, este, em geral, mais aberto \u00e0s discuss\u00f5es internacionais. Tratava-se de posi\u00e7\u00f5es claras e antag\u00f4nicas, especialmente pela cristaliza\u00e7\u00e3o que havia ocorrido na corrente que encarnava a \u201carquitetura moderna brasileira\u201d ligada inextricavelmente \u00e0 explora\u00e7\u00e3o pl\u00e1stica das estruturas de concreto armado. Essas quest\u00f5es foram abordadas nos cap\u00edtulos: \u201cCrise da P\u00f3s-Modernidade: Especificidades Brasileiras\u201d, \u201cA Nova Cr\u00edtica e as Conex\u00f5es Latino-Americanas\u201d, \u201cPragmatismo Cultural e Urbano: Arquitetos e Obras\u201d, \u201cP\u00f3s Mineiridade Antropof\u00e1gica e Experimental\u201d; \u201cOutras Arquiteturas Brasileiras e os Debates do Regionalismo na Am\u00e9rica Latina\u201d e \u201cA Cidade dos Neg\u00f3cios: Espa\u00e7os da Promo\u00e7\u00e3o Privada\u201d.<\/p>\n O ensaio final foi denominado \u201cContemporaneidade\u201d (1995-2000) e se estrutura em tr\u00eas pequenos cap\u00edtulos: \u201cA Arquitetura na Encruzilhada do Fim do S\u00e9culo\u201d; \u201cArquiteturas em Di\u00e1logo com as Paisagens Urbanas\u201d e \u201cRevendo as Narrativas sobre a Arquitetura Brasileira\u201d. A partir de meados dos anos 90, a produ\u00e7\u00e3o de jovens arquitetos formados nas dez anos anteriores come\u00e7a a ser reconhecida no meio nacional e valorizada por meio de premia\u00e7\u00f5es e posi\u00e7\u00f5es finalistas em concursos. Talvez o mote central nos anos de 1990 seja a reabilita\u00e7\u00e3o da heran\u00e7a moderna. Um moderno sem a preocupa\u00e7\u00e3o da seria\u00e7\u00e3o, sem modelos, sem a elei\u00e7\u00e3o de um material e ou sistema construtivo \u00fanicos, que assume a preemin\u00eancia da forma sobre a fun\u00e7\u00e3o, que prega o conv\u00edvio com a cidade tradicional, a import\u00e2ncia do lugar e do repert\u00f3rio na concep\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica. O termo arquitetura contempor\u00e2nea passa a ser usual para descrever essa produ\u00e7\u00e3o, sem d\u00favida herdeira ou tribut\u00e1ria do movimento moderno, por\u00e9m com status pr\u00f3prio, ainda a ser mais bem apreendido.<\/p>\n Queremos crer que a periodiza\u00e7\u00e3o em d\u00e9cadas quebradas foi a que melhor se encaixou na narrativa proposta da arquitetura feita no Brasil nesses anos, al\u00e9m de ter o b\u00f4nus de uma correspond\u00eancia mais f\u00e1cil com o cen\u00e1rio internacional. Por exemplo, o termo \u201cp\u00f3s-moderno\u201d s\u00f3 passou a estar presente na arquitetura nacional desde, aproximadamente, o in\u00edcio dos anos de 1980, no entanto, n\u00e3o \u00e9 por isso que os sinais da crise da modernidade brasileira n\u00e3o estivessem se fazendo sentir desde antes, como \u00e9 poss\u00edvel perceber, por exemplo, em alguns dos depoimentos realizados no IAB-RJ em meados dos anos 70 [3]<\/a> . Da mesma forma, a abertura a pesquisas de linguagem a partir de meados dos anos de 1960 \u00e9 um movimento que ecoa pesquisas de linguagem nos EUA e Europa no per\u00edodo.<\/p>\n Cada d\u00e9cada sob alguns enfoques<\/strong><\/p>\n A aceita\u00e7\u00e3o do relativismo da narrativa que caracteriza nosso momento opera em v\u00e1rios n\u00edveis. \u00c9 cr\u00edtico aos relatos unificadores e triunfais do movimento moderno; tamb\u00e9m \u00e9 cr\u00edtico \u00e0 historiografia arquitet\u00f4nica can\u00f4nica, adotada quase universalmente, por seu vi\u00e9s marcadamente euroc\u00eantrico. O qual, al\u00e9m ignorar ou desconsiderar eventos arquitet\u00f4nicos de vastas regi\u00f5es planet\u00e1rias, quando as considera, analisa-as tomando como base valores te\u00f3ricos desenvolvidos para outra realidade, fundamentalmente a europ\u00e9ia. N\u00e3o podendo aceitar tranquilamente essa situa\u00e7\u00e3o, s\u00f3 nos resta investir no relativismo cultural, que, sabemos, tende, a uma fragmenta\u00e7\u00e3o da hist\u00f3ria, \u00e0 constru\u00e7\u00e3o de v\u00e1rias hist\u00f3rias, sob diferentes enfoques ou pontos de vista. Tal fragmenta\u00e7\u00e3o da hist\u00f3ria vem caminhando pari passu<\/em> com as revis\u00f5es cr\u00edticas do movimento moderno, que vem ocorrendo j\u00e1 h\u00e1 d\u00e9cadas. Parece que estamos ent\u00e3o numa \u00e9poca mais prop\u00edcia aos relatos fragment\u00e1rios, aos discursos pontuais, restritos e em profundidade, que permitem analisar em escala pr\u00f3xima acontecimentos mais bem delimitados.<\/p>\n No entanto, nosso objetivo era a vis\u00e3o panor\u00e2mica, para tal, a estrat\u00e9gia adotada na narrativa foi abordar esses anos por meio de alguns temas selecionados por sua relev\u00e2ncia e pertin\u00eancia a cada per\u00edodo, de maneira a proporcionar diferentes leituras que visam apontar e explorar momentos chave. Os temas variam de d\u00e9cada a d\u00e9cada e, de certa maneira, muitos deles determinam ou influem consideravelmente no conjunto de obras abordadas. No livro lan\u00e7amos m\u00e3o da met\u00e1fora de uma rede de pesca estendida sobre a realidade, cujas lacunas s\u00f3 podem ser preenchidas ou minoradas com o concurso de muitos outros trabalhos e, principalmente, de muitos outros autores.<\/p>\n Cada parte se inicia com um cap\u00edtulo mais conceitual, que busca sinalizar as principais for\u00e7as em a\u00e7\u00e3o no per\u00edodo. Isto \u00e9 v\u00e1lido mesmo no cap\u00edtulo inicial da parte \u201cNovos Rumos\u201d (1985-1995) em que, excepcionalmente, o texto se debru\u00e7a sobre obras espec\u00edficas, mas com o claro objetivo de tratar uma quest\u00e3o crucial ao per\u00edodo: a indubit\u00e1vel mudan\u00e7a de valores nas bases te\u00f3ricas do pensamento arquitet\u00f4nico, com a valoriza\u00e7\u00e3o da cidade real, complexa e ca\u00f3tica, como cen\u00e1rio por excel\u00eancia da interven\u00e7\u00e3o da arquitetura.<\/p>\n O tema \u201cOscar Niemeyer\u201d \u00e9 recorrente no livro, comparece no pre\u00e2mbulo e em tr\u00eas das quatro partes centrais em que se estrutura. Fiel ao enfoque cronol\u00f3gico e \u00e0 periodiza\u00e7\u00e3o proposta, a abordagem da longa obra de Niemeyer procura observ\u00e1-la menos como uma produ\u00e7\u00e3o que segue isolada e inc\u00f3lume, e mais como uma manifesta\u00e7\u00e3o sujeita a seu tempo, que sofre inflex\u00f5es ao longo das d\u00e9cadas, ecoando um esp\u00edrito do tempo e uma cultura arquitet\u00f4nica viva. A primeira inflex\u00e3o, assumida pelo pr\u00f3prio Oscar Niemeyer foi tratada na parte \u201cDi\u00e1logos (1955-1965)\u201d em dois cap\u00edtulos: um espec\u00edfico sobre os pal\u00e1cios de Bras\u00edlia e em outro dedicado \u00e0 industrializa\u00e7\u00e3o que aborda, entre outras experi\u00eancias, a constru\u00e7\u00e3o dos edif\u00edcios da UnB. Acreditamos que em ambos a inflex\u00e3o \u00e9 bastante evidente, inclusive denotando relativo afastamento do di\u00e1logo com a obra de Le Corbusier, t\u00e3o presente nos anos anteriores. Na parte seguinte, \u201cP\u00f3s-Bras\u00edlia (1965-1975)\u201d, parece haver outra inflex\u00e3o na obra de Niemeyer, a estrutura passa a ser o elemento primordial na defini\u00e7\u00e3o do partido, gerando uma situa\u00e7\u00e3o de grande correspond\u00eancia entre defini\u00e7\u00e3o estrutural e resultado formal. Naturalmente as mudan\u00e7as nunca s\u00e3o s\u00fabitas, h\u00e1 obras de transi\u00e7\u00e3o ou premonit\u00f3rias entre uma fase e outra, mas, grosso modo, no per\u00edodo anterior a estrutura era submetida ao resultado formal, enquanto nesse per\u00edodo a defini\u00e7\u00e3o estrutural atinge maior protagonismo, como em boa parte da arquitetura feita no Brasil no per\u00edodo. A \u00fanica parte em que a obra de Oscar Niemeyer n\u00e3o figura \u00e9 em \u201cCrise e Renova\u00e7\u00e3o (1975-1985)\u201d. Nesse per\u00edodo, a obra de Oscar Niemeyer segue numa situa\u00e7\u00e3o de relativa continuidade com a d\u00e9cada anterior e a op\u00e7\u00e3o que tomamos foi a de enfocar as for\u00e7as de renova\u00e7\u00e3o, ainda que relativamente marginais, que estavam tensionando o status quo<\/em> da arquitetura no Brasil. Por fim, a quarta parte, \u201cNovos Rumos (1985-1995)\u201d num contraponto ao adjetivo \u201cnovo\u201d termina com uma revisita aos mestres, Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha. A obra de Niemeyer parece passar, desde meados dos anos 80, por uma nova inflex\u00e3o, cujo marco apontado no livro \u00e9 o Pante\u00e3o da P\u00e1tria na Pra\u00e7a dos Tr\u00eas Poderes (1985). H\u00e1 um arrefecimento no uso da estrutura como principal tema pl\u00e1stico, os projetos se tornam mais esculturais e esquem\u00e1ticos, menos preocupados com os usos.<\/p>\n O tema da \u201chabita\u00e7\u00e3o social\u201d comparece com peso em duas das quatro partes principais. E, nessas duas partes, enfocam momentos bastante distintos: por um lado, na parte \u201cP\u00f3s-Bras\u00edlia (1965-1975)\u201d s\u00e3o abordadas experi\u00eancias preocupadas em compor novas urbanidades, com uma l\u00f3gica apartada da cidade tradicional, em situa\u00e7\u00f5es que, grosso modo, seguiam o urbanismo CIAM ou criavam desenvolvimentos sobre o mesmo. Tanto a proposta para a \u201cCidade-sat\u00e9lite\u201d em Cotia, quanto o Conjunto habitacional Zezinho Magalh\u00e3es Prado, o Cecap-Cumbica, se aproximam da id\u00e9ia de Unidade Habitacional, ou seja, um conjunto de habita\u00e7\u00f5es servido por equipamento comercial e educacional b\u00e1sico, de cunho racionalista. S\u00e3o ilhas, cidades \u00e0 parte, ensaios de uma nova urbaniza\u00e7\u00e3o. Por outro lado, as experi\u00eancias enfocadas na parte \u201cNovos Rumos (1985-1995)\u201d, notadamente aquelas propiciadas nos concursos p\u00fablicos da prefeitura de S\u00e3o Paulo na gest\u00e3o Luiza Erundina, buscaram ir contra o automatismo no emprego ad nauseam<\/em> de modelos empobrecidos do urbanismo CIAM, com \u00eanfase, al\u00e9m da qualidade da moradia, de uma melhor inser\u00e7\u00e3o na cidade existente, evitando criar ilhas, perseguindo conjuntos integrados e cont\u00ednuos \u00e0 cidade. Nessa mesma parte, s\u00e3o abordadas as pol\u00edticas p\u00fablicas desenvolvidas na cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de integrar e levar a cidade, ou seja, os servi\u00e7os e equipamentos p\u00fablicos, \u00e0s ocupa\u00e7\u00f5es espont\u00e2neas.<\/p>\n Nas quatro partes principais h\u00e1 ao menos um tema que congrega arquiteturas relativamente simult\u00e2neas em diferentes regi\u00f5es do pa\u00eds, s\u00e3o eles: \u201cIndustrializa\u00e7\u00e3o: A Experi\u00eancia da UnB e Outras Experi\u00eancias\u201d (1955-1965); \u201cAs Arquiteturas do Desenvolvimento Brasileiro\u201d (1965-1975); \u201cOutras Arquiteturas Brasileiras e os Debates Latino-Americanos do Regionalismo\u201d (1975-1985) e \u201cO Comprometimento com o Lugar e a Diversifica\u00e7\u00e3o Tecnol\u00f3gica\u201d (1985-1995). Embora a obra de Jo\u00e3o Filgueiras Lima n\u00e3o seja tratada como um \u201ctema\u201d particular, Lel\u00e9 \u00e9 o \u00fanico arquiteto cuja produ\u00e7\u00e3o comparece nas quatro partes principais do livro e exatamente nesses cap\u00edtulos, relacionados acima, cujo tema, relativamente amplo, sinaliza objetivos, debates ou fazeres que afetaram o meio arquitet\u00f4nico nacional. Da mesma forma que a obra de Oscar Niemeyer, a obra de Lel\u00e9, em que pese a coer\u00eancia essencial que a caracteriza, mostra a sensibilidade e o comprometimento com uma cultura arquitet\u00f4nica viva, cujas preocupa\u00e7\u00f5es e objetivos refletem o esp\u00edrito do tempo.<\/p>\n A cidade comparece sempre imbricada com a arquitetura. Naturalmente a discuss\u00e3o urbana permeia os cap\u00edtulos que tratam da habita\u00e7\u00e3o social. Al\u00e9m disso, cada uma das partes principais tem um cap\u00edtulo dedicado \u00e0 quest\u00e3o urbana: o concurso de Bras\u00edlia (1955-1965); a experi\u00eancia de Curitiba (1965-1975); as conseq\u00fc\u00eancias da moderniza\u00e7\u00e3o dos c\u00f3digos de obra sobre o espa\u00e7o urbano, tomando como exemplo a regi\u00e3o da avenida Engenheiro Lu\u00eds Carlos Berrini na cidade de S\u00e3o Paulo e o planejamento urbano que passou a vigorar desde 1972 (1975-1985); \u201cReciclagens, Espa\u00e7os de Cultura e Cidade\u201d (1985-1995) aborda as recupera\u00e7\u00f5es de centros hist\u00f3ricos e as obras que buscam levar a cidade legal at\u00e9 as \u00e1reas de ocupa\u00e7\u00e3o prec\u00e1ria e informal, tratadas como duas faces da mesma quest\u00e3o: a valoriza\u00e7\u00e3o cultural das ambi\u00eancias urbanas. Na parte final, h\u00e1 um ensaio – \u201cArquiteturas em Di\u00e1logo com as Paisagens Urbanas\u201d – que, pela maior proximidade no tempo, tem car\u00e1ter mais especulativo, mas que procura defender o papel crucial da arquitetura na qualifica\u00e7\u00e3o da paisagem urbana.<\/p>\n Duas das partes principais narram epis\u00f3dios espec\u00edficos, mais circunscritos a uma regi\u00e3o do pa\u00eds, mas que tiveram grande repercuss\u00e3o na cultura arquitet\u00f4nica nacional: \u201cBrutalismo: Uma Nova Sensibilidade Superficial e Pl\u00e1stica\u201d (1955-1965) e \u201cP\u00f3s-Mineiridade Antropof\u00e1gica e Experimental\u201d (1975-1985). Esses dois epis\u00f3dios coincidem com inflex\u00f5es importantes na arquitetura feita no Brasil e, principalmente, com mudan\u00e7as significativas na percep\u00e7\u00e3o da arquitetura brasileira. T\u00eam caracter\u00edstica assemelhada de epis\u00f3dios espec\u00edficos, embora n\u00e3o circunscritos a uma regi\u00e3o do pa\u00eds, os cap\u00edtulos \u201cPragmatismo Cultural e Urbano: Arquitetos e Obras\u201d (1975-1985) e \u201cReciclagens, Espa\u00e7os de Cultura e Cidade\u201d (1985-1995). Ambos extrapolam suas especificidades e assemelham-se, cada um a seu modo, na valoriza\u00e7\u00e3o de tecnologias e implanta\u00e7\u00f5es tradicionais e na gradativa valoriza\u00e7\u00e3o da arquitetura que comp\u00f5e com o existente.<\/p>\n O desafio da diversidade<\/strong><\/p>\n \u00c9 assustador; mas talvez seja necess\u00e1rio aceitar a liberdade, e, com certeza o desconforto, de vivermos hoje uma realidade fragment\u00e1ria, ampla demais para ser enfeixada em palavras de ordem, em discursos esquem\u00e1ticos triunfais e pretensamente eficientes, que embalam e consolam tanto quanto simplificam e enganam.<\/p>\n<\/blockquote>\n Essa frase, extra\u00edda do \u00faltimo par\u00e1grafo do livro mostra um compromisso com a aceita\u00e7\u00e3o da diversidade e pluralidade. Mas, mais que isso, deixa transparecer, o quanto essa op\u00e7\u00e3o, sem sombra de d\u00favida, \u00e9 o \u201ccaminho dif\u00edcil\u201d. Buscamos no livro caminhar numa senda relativamente estreita entre a sinaliza\u00e7\u00e3o da conviv\u00eancia simult\u00e2nea e complexa da diversidade e pluralidade de caminhos e a busca de um nexo hist\u00f3rico, ou seja, de um sentido do esp\u00edrito do tempo que permeia a produ\u00e7\u00e3o em cada um dos per\u00edodos e no suceder das gera\u00e7\u00f5es.<\/p>\n Os 50 anos visitados nesse livro parecem ter sido especialmente movimentados na arquitetura, abarcando desde o \u00faltimo epis\u00f3dio importante do movimento moderno ou o primeiro de sua revis\u00e3o cr\u00edtica, o Brutalismo, passando por escarpas rarefeitas em que se vislumbrava a desmaterializa\u00e7\u00e3o da arquitetura num mundo virtual de imagens ou, pelo contr\u00e1rio, percorrendo o solo num retorno \u00e0s origens, aos materiais e formas tradicionais, entre um e outro uma gama consider\u00e1vel de pesquisas e experi\u00eancias tecnol\u00f3gicas e art\u00edsticas. Desde os meados dos anos 90 parece se configurar uma esp\u00e9cie de converg\u00eancia. Quase numa atitude provocativa, afirmamos na parte final do livro que o contempor\u00e2neo em arquitetura, desde os \u00faltimos anos do s\u00e9culo passado, j\u00e1 \u00e9 reconhec\u00edvel<\/em>.<\/p>\n E, indo um pouco mais longe, listamos uma gama de caracter\u00edsticas formais:<\/p>\n Caracteriza-se pelo emprego da abstra\u00e7\u00e3o em s\u00f3lidos regulares ou n\u00e3o – denotando uma amplia\u00e7\u00e3o do mundo morfol\u00f3gico, pelo eventual uso de camadas sobrepostas de veda\u00e7\u00e3o, pela explora\u00e7\u00e3o dos materiais de acabamento na confec\u00e7\u00e3o de texturas, pelos anteparos que filtram a luz, com uso de materiais que permitem ampla gama de varia\u00e7\u00e3o entre o transparente e o opaco, por lan\u00e7ar m\u00e3o de contrastes \u2013 opacidade e transpar\u00eancia, peso e leveza, regra e liberdade \u2013 por vezes na rela\u00e7\u00e3o com o existente. O contempor\u00e2neo trabalha com a cidade h\u00edbrida e projeta seu lugar. Ou seja, seus momentos mais felizes s\u00e3o quando sua forma resulta tanto do conhecimento disciplinar aprofundado da modernidade enquanto tradi\u00e7\u00e3o, quanto de uma leitura sens\u00edvel do lugar, sendo concomitantemente parte da \u2018manipula\u00e7\u00e3o\u2019 deste lugar.<\/p>\n<\/blockquote>\n Caminhamos ent\u00e3o para o fim da diversidade e do pluralismo? Dificilmente. Queremos acreditar que o conceito de contempor\u00e2neo \u00e9 que se tornou amplo, inclusivo e diversificado, com capacidade de abarcar diferentes e contrastantes tecnologias e po\u00e9ticas. Por\u00e9m, h\u00e1 nessa parte do livro consider\u00e1vel grau de especula\u00e7\u00e3o, ainda que embasada na realidade que se percebe.<\/p>\n Recorte nacional e as quest\u00f5es de identidad<\/strong>e<\/p>\n A historiografia da arquitetura moderna brasileira nasceu sob o amparo da identidade nacional afirmando-se face ao movimento moderno internacional; \u00e9 assim em Brazil Builds<\/em> (Philip Goodwin) [4]<\/a> , Modern Architecture in Brazil <\/em>(Henrique E. Mindlin) [5]<\/a> ou L\u2019architecture contemporaine au Br\u00e9sil<\/em> (Yves Bruand) [6]<\/a>. Na narrativa – Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em> \u2013 propomos a realiza\u00e7\u00e3o de um panorama nacional que n\u00e3o pretende apoiar uma no\u00e7\u00e3o determinada de identidade cultural, o que n\u00e3o deixa de ser uma contradi\u00e7\u00e3o em termos. Partimos do princ\u00edpio de que a identidade \u00e9 sempre uma constru\u00e7\u00e3o interessada e nunca um absoluto imut\u00e1vel, sendo sucessivamente posta em quest\u00e3o no suceder das gera\u00e7\u00f5es.<\/p>\n A base de apoio para a constru\u00e7\u00e3o da especificidade da arquitetura moderna brasileira, num primeiro momento, foi a id\u00e9ia de que nossa arquitetura ganhara sua autonomia em rela\u00e7\u00e3o ao estilo moderno internacional, mais especificamente, de sua vertente corbusiana, pela excel\u00eancia de sua produ\u00e7\u00e3o. Mas a partir de meados dos anos 1950, essa constru\u00e7\u00e3o erudita e referenciada, vai sendo paulatinamente substitu\u00edda por outra. Talvez de uma maneira pouco clara, pouco debatida, e menos ainda expl\u00edcita – mas mesmo assim, de maneira muito avassaladora \u2013 os discursos sobre a arquitetura brasileira ap\u00f3s Bras\u00edlia tendem a recha\u00e7ar quaisquer la\u00e7os de inser\u00e7\u00e3o da arquitetura brasileira no panorama internacional, negar a influ\u00eancia de modelos de fora, e investir apenas no reconhecimento e valoriza\u00e7\u00e3o de alguns autores e obras nacionais, considerados excepcionais e exemplares. Com evidente empobrecimento dos resultados: tanto da historiografia, como do ensino, e finalmente, das pr\u00f3prias obras.<\/p>\n Nos anos 80, na esteira da revis\u00e3o cr\u00edtica do movimento moderno, parte do pensamento nacional se voltou para a id\u00e9ia de uma identidade latino-americana. Essa identidade se baseava menos numa uniformidade formal e mais numa identidade no fazer, ou seja, a busca de uma arquitetura apropriada [7]<\/a> e coerente para a regi\u00e3o, ou para as in\u00fameras regi\u00f5es dentro da Am\u00e9rica Latina. A defesa de uma arquitetura adequada e apropriada ao meio e aos fins e, portanto, diferente a cada solicita\u00e7\u00e3o levou a uma consider\u00e1vel abertura formal, respaldada pela id\u00e9ia de amplia\u00e7\u00e3o do conceito de modernidade arquitet\u00f4nica para al\u00e9m de um receitu\u00e1rio formal. Assim, a id\u00e9ia de \u201cmodernidades\u201d latino-americanas, diversas e parcialmente destoantes daquela dos centros desenvolvidos, foi uma ferramenta conceitual importante para entender de maneira pr\u00f3pria a produ\u00e7\u00e3o plural que ocorria no subcontinente.<\/p>\n Desde os anos 90 parece haver, em parte do meio nacional, uma recidiva da id\u00e9ia de autonomia da nossa cultura arquitet\u00f4nica. Junto \u00e0 revaloriza\u00e7\u00e3o do movimento moderno amplo senso, parece ocorrer a revaloriza\u00e7\u00e3o da nossa tradi\u00e7\u00e3o moderna, dos nossos mestres modernos e das nossas obras modernas. Essa recidiva parece ser mais forte no meio paulista, onde uma h\u00e1 uma massa significativa de arquitetos relativamente jovens com uma obra importante, bastante reconhecida no meio. [8]<\/a> Talvez n\u00e3o haja mais o risco do isolamento num pensamento exclusivamente \u201cnacional\u201d; espera-se que n\u00e3o esteja em curso uma nova constru\u00e7\u00e3o cr\u00edtica e historiogr\u00e1fica que prossiga insistindo na fantasia da plena autonomia. Mas possivelmente, a nostalgia de uma \u00e9poca dourada parece nos rondar; embora essa n\u00e3o seja, de modo algum a \u00fanica tend\u00eancia contempor\u00e2nea pass\u00edvel de ser hoje identificada.<\/p>\n Perante estas sucessivas constru\u00e7\u00f5es cr\u00edticas e te\u00f3ricas, adotamos a postura do relato descritivo e cr\u00edtico, procurando manter certa independ\u00eancia; no entendimento de que a constru\u00e7\u00e3o da \u201carquitetura brasileira\u201d corre sempre o risco de tornar-se um relato estreitamente ideol\u00f3gico, potencialmente for\u00e7ando a narrativa a apenas visualizar algumas escolhas e olhar em certas dire\u00e7\u00f5es. N\u00e3o \u00e9 nosso enfoque: mesmo que seja imposs\u00edvel, gostar\u00edamos de manter nossa narrativa aberta, plural e diversa. No livro Brasil: arquiteturas ap\u00f3s 1950<\/em> procuramos tornar mais direta a percep\u00e7\u00e3o do desenvolvimento hist\u00f3rico da produ\u00e7\u00e3o de arquitetura no Brasil como parte de uma realidade mais ampla e complexa – ibero-americana, e tamb\u00e9m, necessariamente, internacional. Colocar o Brasil como protagonista nesta realidade expandida parece ser a \u00fanica maneira de dar conta da produ\u00e7\u00e3o destes anos, num mundo em que gradativamente a circula\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00f5es, de pessoas, de profissionais passou a formar uma rede emaranhada de conex\u00f5es que torna relativamente sem sentido as dicotomias que pautavam o mundo na primeira metade do s\u00e9culo XX.<\/p>\n A narrativa parte ent\u00e3o de uma tentativa de superar a dicotomia col\u00f4nia \u2013 metr\u00f3pole. Sem negar as especificidades do lugar – geografia, clima, cultura, arquitetura, tradi\u00e7\u00e3o urbana – mas entendendo sempre que a cultura arquitet\u00f4nica \u00e9 viva e se renova constantemente. Ao estabelecer essa rela\u00e7\u00e3o mais direta entre o cen\u00e1rio arquitet\u00f4nico nacional e o internacional, \u00e9 inevit\u00e1vel o questionamento das narrativas passadas, narrativas que seguem arraigadas na cultura arquitet\u00f4nica local e sutilmente vivas, em que pese as enormes mudan\u00e7as superestruturais que o Brasil e o mundo viveram nas \u00faltimas cinco d\u00e9cadas. Quanto mais nos aproximamos no tempo, j\u00e1 livres das interpreta\u00e7\u00f5es passadas, mais clara se torna a impossibilidade de refletir sobre a produ\u00e7\u00e3o contempor\u00e2nea nacional apartada do cen\u00e1rio internacional. Nos cap\u00edtulos finais, embora os exemplos sejam nacionais, a reflex\u00e3o se volta, inevitavelmente, para os grandes temas que tensionam a produ\u00e7\u00e3o contempor\u00e2nea: heran\u00e7a moderna, meio ambiente, espa\u00e7o p\u00fablico, cidades.<\/p>\n Faz sentido, nos dias de hoje, propor um recorte nacional? Entendemos que o recorte se justifica em dois aspectos principais: o primeiro, j\u00e1 abordado, pelo impulso de colocar a produ\u00e7\u00e3o nacional como protagonista da cultura arquitet\u00f4nica mundial – nem receptor, nem mundo isolado – estabelecendo uma rela\u00e7\u00e3o mais direta entre cen\u00e1rio arquitet\u00f4nico nacional e internacional; o segundo, por ser tratar de uma produ\u00e7\u00e3o pouco presente nos comp\u00eandios internacionais e que, malgrado parte de um todo maior, constitui um repert\u00f3rio local importante que constrange, para o bem e para o mal, a produ\u00e7\u00e3o local.<\/p>\n [1]<\/a> BRUAND, 1981. BASTOS, Maria Alice Junqueira. 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Zein, Perspectiva, 2010); Duo Alto de Pinheiros \u2013 K\u00f6nigsberger Vannuchi (C4, 2009) e P\u00f3s-Bras\u00edlia: Rumos da Arquitetura Brasileira (Perspectiva, 2003).<\/p>\n Ruth Verde Zein <\/strong> Colabora\u00e7\u00e3o editorial: Luciana Jobim<\/span><\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Ruth Verde Zein e Maria Alice Junqueira Bastos<\/p>\n","protected":false},"author":5382058,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_coblocks_attr":"","_coblocks_dimensions":"","_coblocks_responsive_height":"","_coblocks_accordion_ie_support":"","advanced_seo_description":"","jetpack_seo_html_title":"","jetpack_seo_noindex":false,"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_publicize_feature_enabled":true,"jetpack_social_post_already_shared":false,"jetpack_social_options":{"image_generator_settings":{"template":"highway","enabled":false},"version":2}},"categories":[16350799,62436058,53603822,52966584],"tags":[1805738,1271633,63127961,1885643,5495449],"class_list":["post-6646","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-ensaio-e-pesquisa","category-maria-alice-junqueira-bastos","category-ruth-verde-zein","category-serie-panoramas-da-arquitetura-brasileira","tag-arquitetura-brasileira","tag-arquitetura-moderna","tag-brasil-arquiteturas-apos-1950","tag-ensino-e-pesquisa","tag-historia-da-arquitetura"],"jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_likes_enabled":true,"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/plwdR-1Jc","jetpack-related-posts":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6646","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/5382058"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=6646"}],"version-history":[{"count":26,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6646\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":6788,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6646\/revisions\/6788"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=6646"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=6646"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/puntoni.28ers.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=6646"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}\n
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\nnotas<\/h3>\n
\n[2]<\/a> MAGALH\u00c3ES, GUIMARAENS, TAULOIS e FERREIRA, 1978.
\n[3]<\/a> Ver MAGALH\u00c3ES, GUIMARAENS, TAULOIS e FERREIRA, 1978.
\n[4]<\/a> GOODWIN, 1943.
\n[5]<\/a> MINDLIN, 1956.
\n[6]<\/a> BRUAND, 1981.
\n[7]<\/a> O texto emprega o conceito \u201carquitetura apropriada\u201d tal como definida por Cristi\u00e1n Fernandez Cox. Ver COX, 1984; COX, 1989.
\n[8]<\/a> Caso, por exemplo, do grupo reunido na exposi\u00e7\u00e3o \u201cColetivo\u201d. Ver MILHEIRO, NOBRE e WISNIK, 2006.<\/p>\n
\nrefer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas<\/h3>\n
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\nArquiteta, com mestrado (1999) e doutorado (2005) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e p\u00f3s-doutorado (2008) pela FAU-USP. Pr\u00eamio Capes 2006 de Teses. \u00c9 professora e pesquisadora da Universidade Presbiteriana Macken\u00aczie. \u00c9 autora de, entre outros, Brasil: Arquiteturas ap\u00f3s 1950 (com M. A. J. Bastos, Perspectiva, 2010), Sala S\u00e3o Paulo: A Arquitetura da M\u00fasica (com A. R. Di Marco; Altermarket, 2007), Rosa Kliass: Desenhando Paisagens, Moldando uma Profiss\u00e3o (com R. Kliass, Senac, 2006) e O Lugar da Cr\u00edtica: Ensaios Oportunos de Arquitetura (Ritter dos Reis\/Proeditores, 2002).<\/p>\n
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